Na segunda-feira (20), o Museu Campos Gerais deu início à programação da 15ª Primavera dos Museus. O evento, promovido todos os anos nacionalmente pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) traz como tema em 2021 “Museus: Perdas e Recomeços”, com o intuito de despertar uma reflexão sobre a importância dos espaços culturais em momentos de infortúnios ao longo da história, mas que deixaram a missão de recomeço para a sociedade.
O painel de abertura da semana de palestras, debates, oficinas e mostras promovidas pelo MCG foi dividido em dois momentos: no primeiro, ocorreu o lançamento da Rede Estadual de Museus Universitários do Paraná, grupo inédito para unir forças entre os espaços culturais de acervo e exposição presentes no estado, e no segundo foi apresentado o painel “Museus e História Oral: Diálogos Possíveis”, ministrado pelo professor Dr. Robson Laverdi, do Departamento de História da UEPG.
O evento, mediado pelo jornalista Ismael Freitas, contou com uma fala inicial do representante da Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Seti), Professor Aldo Bona, seguido do assessor de Cultura e Museus da Seti, Rene Ramos. Ambos destacaram a importância do surgimento do grupo para o fortalecimento da cultura paranaense. Em seguida, o reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Miguel Sanches Neto, deu início ao lançamento da Rede Estadual de Museus enfatizando o mais novo projeto da universidade: o Museu do Operário Ferroviário, a ser discutido em mesa redonda durante a Primavera dos Museus na sexta-feira (24).
Para o lançamento, foram convocados representantes de cada universidade integrante ao grupo para discursar sobre a rede: Edina Schimanski, pró-reitora de Extensão e Assuntos Culturais da UEPG; Debora de Mello Sant’ana, pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Estadual de Maringá (UEM); Lucelia Souza, pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro); James Rios, diretor de Cultura da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP); Ana Paula Peters, professora de Museologia da Universidade Estadual do Paraná (Unespar); Terezinha Saldanha, do Centro de Documentação e Memória das universidades do Paraná; Edineia Ribeiro, diretora do Museu Histórico de Londrina e Niltonci Batista Chaves, diretor geral do Museu Campos Gerais.
Na segunda parte do evento, o Professor Doutor Robson Laverdi trouxe apontamentos sobre a importância da história oral na construção da sociedade. “História é registro da memória e da cultura ordinária, nos museus nós as armazenamos, e mesmo que os acervos já tenham sido produzidos, é pela história oral que é possível gerar novos documentos a serem arquivados para a posterioridade através da linguagem”, diz. Segundo Robson, mais do que produzir e guardar documentos, os museus e seus organizadores devem buscar construir acervos que operem como imagens comunicantes, ou seja, que consigam conversar com o público e ajudar a construir sua realidade.
“História oral não existe para dar voz para as pessoas, elas já tem sua voz, mas sim criar condições de escuta e espaços de armazenamento que podem se beneficiar da inscrição de significados trazidos por ela, a história oral agrega saberes por ser um método socioconstitutivo, não é apenas uma fala, mas sim construtora de uma realidade”, observa.
Para Robson, o coletivismo dentro dos museus é criado por meio da metodologia de diálogos ativos da história oral. Isso significa que os espaços culturais, enquanto se propuserem a compreender cada vez mais seu público, devem evitar hierarquias e promover a equanimidade, pluralidade e diversidade nesses ambientes. O professor enfatiza que os organizadores devem se desprender do ideal de autoridade compartilhada e focar no compartilhamento de autoridade no sentido de conhecimento, ou seja, no partilhar saberes com o outro.
Outro ponto destacado por Robson é a importância do presente para os museus. “Embora museus sejam espaços que armazenem o passado, ele está no presente, e é o presente que faz com que a gente ganhe maior aprofundamento da investigação do passado para uma melhor construção do futuro, é o olhar do presente que possibilita construir, pela história oral, a memória”, explica. Neste sentido, ele ainda aborda a importância do olhar significativo sobre o que é registrado dentro de um museu, uma vez que mesmo que os eventos sejam essenciais para a história da humanidade, são seus significados que moldam a sociedade.
O professor também cita o pesquisador Paulo Knauss, que em seu livro “Museus e História Pública” (2016) aborda estes centros culturais como locais de encontro de comunidades de sentido e construção de conhecimento. “Às vezes a gente acha que está produzindo algo importante em nossos museus sem interrogar outros itinerários, mas precisamos entender que não temos que produzir só mais conhecimento, mas sim qual conhecimento? Aquele que atinge as pessoas”, afirma. Robson ainda lembra que um museu é um lugar de perguntas e não de respostas, ou seja, o museu não deve dar respostas, porque se ele as fornece inteiramente, ele perde a capacidade de se envolver com os públicos, que carregam diferentes e infinitas possibilidades de abordagem.
Ao final do painel, Robson apresentou sugestões de pesquisas a serem feitas dentro dos espaços de museus no Paraná: biografar histórias de quem possibilitou registrar o acervo do museu, trazer mais narrativas do que apenas apresentar exposições, investigar o processo de percepção do público, sair do colecionismo e passar a entender as vivências que ocorrem dentro do museu, seguir descobrindo novas peças para agregar acervos já existentes, recobrar sentidos do presente, ou seja, investigar constantemente qual desejo move o museu, e possibilitar para o público espaços cada vez mais representativos.
Na visão do professor, o primeiro passo para o futuro dos museus é publicizar cada vez mais o espaço e seu conteúdo para toda a sociedade. “Antes de tudo, é preciso que o museu seja visto pela sociedade! Um museu pode nos fazer lembrar, mas um museu pode nos fazer esquecer também, então precisamos reforçar sua existência para que o comodismo não nos silencie”, afirma.
Ele também reforça que o museu deve englobar todos os públicos, e para isso pode estimular parcerias com os mais diversos grupos sociais, contribuindo diretamente para a popularização dos museus, ainda visto por muitos como ambientes elitizados. “Museu tem que ser conectivo, e rodas de memória são exemplos de ações para isso, são momentos de produção de memória oral ou narrativa que geram o ambiente agregador, precisamos buscar conviver com as pessoas! Museus tem que ser espaços de convívio! Espaço do museu não é para ir visitar, é para conviver, interagir e compartilhar”, finaliza.
A programação completa da Primavera dos Museus em Ponta Grossa está disponível no site do MCG. O evento é online, gratuito e conta com certificados de participação. Todos os encontros também estão disponíveis para posterior visualização no Youtube do Museu Campos Gerais.
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