Ressalvo ao leitor, antes de tudo, que um só perfil – caso do modesto texto que abaixo segue – não representa a totalidade da vida de Heinz, por conta da riqueza e dimensão do perfilado.
Museu Histórico de Witmarsum. Quem me atende é um homem com expressão cerrada, típica do nosso imaginário sobre os descendentes de alemães. Cada ‘r’ pronunciado é carregado pelo sotaque germânico. Dizem que a primeira impressão é a que fica. Não nesse caso. O diálogo mostraria que o historiador do Museu – por mais que não possua título formal para –, Heinz Egon Philippsen é, em suma, um ser extrovertido e preocupado com o bem-estar dos integrantes da Colônia Witmarsum, no município de Palmeira, onde nasceu – no início de outubro de 1955 –, cresceu e trabalha.
Formado em técnica agrícola, Heinz já foi agricultor, vereador de Palmeira entre 1992 e 1996, presidente da Associação de Moradores da Colônia – entidade que possui 30 funcionários; e membro de vários conselhos na Prefeitura local. Desde 2007, trabalha como historiador/guia no Museu de Witmarsum, que se confunde e completa sua história.
O trabalho no Museu surge da proposta de um grupo de empreendedores locais que buscavam alavancar o turismo na região. Heinz foi indicado para permanecer à disposição, integralmente, dos que desejam visitar o local. Segundo dados do historiador, em 2012 (até outubro) ele já atendeu cerca de quatro mil pessoas.
Para todas, o mesmo atendimento: cadeiras dispostas em frente a uma grande mesa com um surrado mapa-múndi, de onde Heinz descreve toda a trajetória de seus ascendentes. As duas horas que passei ouvindo aquele simpático ‘alemão’ falar pareceram poucos minutos, tamanho envolvimento gerado pelo carisma e abundância de detalhes das narrativas transmitidas.
Menonita
O discurso cristão permeia toda a fala de Heinz. O interesse pela história de seus antepassados e sua religião, conta ele, vem da infância, e das conversas com o avô. “Minha base histórica vem da igreja, acima de tudo, e da relevância que ela tem em minha vida”, revela.
O dia a dia do historiador no âmbito menonita é intenso e vibrante. Heinz coordena uma série de estudos bíblicos semanal, o que, para ele, se constitui num prazeroso e produtivo momento de diálogo com seus correligionários. “Hoje, porém, 50% dos menonitas de Witmarsum não frequentam a igreja”, lamenta. Segundo ele, os ausentes nem mesmo adotam o estilo de vida denominacional no cotidiano.
“Se não fosse a religião que sigo, não seria o que seria. Para qualquer lado que fosse, eu faria estrago, pois alemão faz bem feito (risos)” – numa referência ao cuidado e devoção aplicada pelos alemães em todas suas atividades, máxima que permeou vários momentos da entrevista.
Casa/Museu
Heinz nasceu na casa que hoje abriga o Museu de Witmarsum. “Tudo nessa casa mexe comigo, é marcante. Tem a ver com a minha história”, ressalta.
Três artefatos do local lhe são os mais significativos: um garfo trazido da Rússia por seus antepassados, o qual foi quebrado e rebitado duas vezes; um relógio montado com peças de diversos outros objetos, caso de um utensílio de uma centrífuga que tem como função auxiliar o relógio a badalar; e o berço onde seu pai repousava, quando bebê.
“Nasci aqui dentro”, aponta Heinz, comovido, para o cômodo que outrora abrigara uma enfermaria, quando o Museu fora usado como hospital.
Reportagem de Kevin Willian Kossar
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