“Ontem, hoje e amanhã. O homem o cabelo parte. Parte o cabelo com arte, até que o cabelo parte”, assim, Millor Fernandes define a profissão do cabeleireiro. Talvez, muitos não saibam reconhecer ou dar valor aos profissionais, mas um dia precisaram de seus serviços.
Em Ponta Grossa, cidade com mais de 300 mil habitantes, e traços conservadores marcantes, ainda se pode observar barbearias e salões à moda antiga e em funcionamento a mais de 45 anos. É o caso da Barbearia São José, criada no dia 26 de agosto de 1967.
Ao entrar no ambiente, localizado na Rua Balduíno Taques, próximo ao colégio Júlio Teodorico, encontrará João Edenir Pedroso. De fala mansa e um olhar penetrante, ‘Denir’, como é conhecido por todos, além de muito bem informado, sempre têm histórias para contar e deixar o cliente ‘em casa’.
Desde pequeno no salão (seu pai era cabelereiro), pouco se interessou pela profissão quando mais jovem. Chegou a trabalhar como engraxate em meados dos anos de 1960 e, já com 18 anos, arrumou um emprego fora da área de atuação. Mas como não soube cuidar do dinheiro que recebia e “tinha pisado na bola”, pediu ao seu pai para trabalhar como cabeleireiro. Nessa mesma época, o salão já tinha certo prestígio e uma clientela fixa, o que dificultou sua entrada no ramo.
– Após um ano observando, comecei a trabalhar no salão. Lembro que era um sábado, dia de maior movimento, mas consegui dar conta do recado.
Seu pai, sempre muito pé no chão, gostaria que um dos filhos estudasse Direito ou Odontologia, mas, Pedroso acabou deixando os estudos de lado e traçou objetivos no ramo. Foi então, em 1980, quando os salões começaram a mudar e implementar técnicas novas e ‘ousar’ nos cortes, que João Edenir fez alguns cursos em Curitiba. No ano seguinte mudou-se para São Paulo, onde trabalhou na Avenida Paulista por dois anos.
– Trabalhava das 6h até às 18h e durante a noite fazia cursos com um pessoal de Minas Gerais. Foi o período em que mais desenvolvi minhas técnicas. Consegui aliar os cursos e o trabalho em Sampa com o que tinha aprendido com o meu pai. Foi muito bom.
Na profissão, o contato com os clientes é muito importante, e o cabeleireiro lembra que deve ter cuidado com algumas coisas. “Ouça mais e fale menos”, lembra Pedroso, que ainda diz que a maioria das coisas que são ditas para ele não se deve passar pra frente.
– Um dia um cliente antigo e amigo veio até mim dizendo que iria matar uma pessoa. Sua mulher estava sendo assediada há mais de dois anos e só então ele tinha descoberto. Pensei na família e nos três filhos dele e o instrui a contar a história para um delegado amigo meu. Passaram-se 40 dias e o rapaz voltou e disse que tudo tinha sido resolvido. Foi um episódio que me marcou bastante.
Além disso, Denir conta que se apaixonou pelo trabalho e brinca que desde que ingressou na profissão nunca ficou sem dinheiro no bolso. Atualmente, corta em média 10 cabelos por dia e, nos finais de semana, podem chegar a 20/25 cortes.
Reportagem de Edgar Ribas
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