Matéria produzida para a disciplina de Seminários/Jornalismo Cultural do 3º ano do curso de Jornalismo da UEPG
Desde pequeno, João Marcos Czelusniak gostava de assistir os desfiles cívicos da cidade só para ver e ouvir as bandas marciais e fanfarras de colégio marcharem. Quem o levava era o avô. Aos oito anos, João pediu para entrar na fanfarra do colégio São José. Passou um ano na escolinha tocando caixa.
No final daquele ano, o professor de João disse que o rapaz não servia para o que estava fazendo. Mesmo assim o maestro deu mais uma chance para João: pediu para ele tocar uma corneta. Seis meses depois, o rapaz estava no time principal da fanfarra. E não parou mais de tocar.
Hoje João toca trompete na Banda de Metais e Percussão do Colégio Sant’Ana. Além de João Marcos, Pierre de Cerjat também toca na Banda do Colégio. O rapaz atualmente cursa a graduação em Música na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Tanto para Pierre quanto para João, aprender música hoje é muito mais fácil do que há 15 anos, pela facilidade que a internet proporciona. “Antes era na fita. Às vezes o cara só tinha aquela fita e ficava com receio de emprestar e perdê-la. Hoje você tem tudo na internet”, ressalta João.
Pierre observa que a música erudita tem ganhando um espaço maior em Ponta Grossa. Teatros estão cada vez mais lotados e a demanda é cada vez maior. Uma preocupação é em relação aos poucos recursos do município e Estado para o ensino e apresentações de música, não só erudita como de tantas outras.
Pierre não é o único que faz da banda do colégio a profissão para a vida. O maestro do 2° Batalhão de Polícia do Exército, o 2º Ten. Luiz Carlos Franco Cândido, também começou na fanfarra da escola onde estudou. Executava flauta e corneta e também estudou no Conservatório Villa-Lobos. Em 1983 ingressou no Exército, passou para a banda em 1986 e em 2009 concluiu o curso de regência já como subtenente. Atua como oficial regente desde 2012.
Outras harmonias
A Banda de Música do 2º Batalhão de Polícia do Exército oferece 93 cargos para militares músicos, mas a composição atual totaliza 68. Os músicos dividem-se em quatro categorias de instrumentos: madeiras (flautas, oboés, corninglês, fagotes, clarinetas e saxofones), metais (trompetes, trompas, euphônios, trombones e tubas), percussão (bateria, tímpanos, teclados, caixa, bombo, pratos, carrilhão, congas, triângulos) e cordas (violoncelo e contrabaixo acústico).
O maestro 2º Ten. Cândido explica que, para ingressar como músico, um militar de carreira pode fazer um concurso nacional da Escola de Sargentos de Logística. O militar temporário pode fazer um estágio como sargento técnico e também como cabo técnico (restrito para o sexo masculino).
Para o maestro Cândido, a Banda eleva a moral da tropa, aflora o amor à pátria e transmite o sentimento de dever cumprido. “A Banda de Música é a alma da tropa. As Bandas de Música também agem como um elo de ligação e comunicação social entre o Exército e a sociedade civil em todo o território nacional”, completa. Ten. Candido também afirma que o interesse na banda é maior atualmente devido à facilidade de estudar música nos dias de hoje. “Pode-se dizer que a escala é muito maior atualmente do que a dez anos atrás”, afirma.
A banda é composta por um oficial regente, 27 cabos músicos, 19 terceiros sargentos músicos (cargo ocupado pelos que estão iniciando), 17 segundos sargentos músicos e quatro primeiros sargentos músicos.
Em apresentações de cerimônias militares, a banda executa canções militares, marchas e dobrados voltados para o público civil e militar. Eventos como solenidades e festas exigem músicas de cerimonial e de homenagens a instituição ou evento, e o público em geral é civil. Há também os concertos realizados pela banda, nesses momentos tocam-se músicas eruditas e populares, nacionais e internacionais dos mais variados estilos.
Uma sala de música e inspiração
Com aproximadamente 60 integrantes que mesclam alunos e ex-alunos do colégio e estudantes de outras escolas, a Banda Marcial do Colégio Marista Pio XII encanta os moradores da cidade de Ponta Grossa. Para o regente da banda, Rafael Rauski, a música está no cotidiano das pessoas e trabalhá-la no âmbito escolar ajuda na formação educacional, social e pessoal dos estudantes.
“A mescla de alunos é vital para um projeto musical como nosso”, afirma o maestro. Rauski destaca que a banda tem dois perfis de alunos: os que já têm conhecimento e contribuem para o grupo com a experiência e os ingressantes que dão fôlego e renovação. A experiência daqueles que traçaram o caminho da profissionalização musical é valorizada porque, segundo o regente, o exemplo é dado fazendo.
A banda do Marista toca desde músicas eruditas, composições feitas para orquestras adaptadas até canções populares. Em 1973 foi criada a fanfarra Colégio Marista e no ano de 1981 ela transformada em banda marcial.
Rafael Rauski também começou a trajetória musical desde pequeno. Foi aluno do São José e aos 8 anos entrou para a fanfarra. Aos 10 anos começou a estudar no Marista e a participar da banda, lugar de onde não mais saiu.
A fanfarra, ontem e hoje
Há diferença entre banda marcial e fanfarra. Na fanfarra os músicos tocam instrumentos de percussão (como o triângulo, prato ou caixa) e instrumentos de sopro (como cornetas, cornetões, bombardinos, baixo-tuba ou sousafone). Já na Banda Marcial há o acréscimo de instrumentos como trompete, trombone e trompa.
Nilceia Protásio Campos, professora de música, explica que o termo ‘fanfarra’ surgiu na França: Napoleão pediu a um grupo de soldados para que tocassem tambores e cornetas para anunciar a chegada de tropas. No Brasil também houve as bandas de fazenda. “Estas eram compostas por músicos-escravos que tocavam em troca de sustento. O escravo que possuísse conhecimento musical era valorizado como mercadoria”, explica a professora.
Já as Bandas Militares do país aparecem entre 1648 e 1649 nas Batalhas de Guararapes. A partir de 1810, D. João VI exigiu que cada regimento tivesse uma banda para a comemoração de festividades cívicas e militares. “Com a proclamação da República e a ampliação do Exército Brasileiro, as Bandas de Música começaram a brotar, principalmente nas criações dos Colégios Militares”, relata o oficial regente Ten. Cândido.
No século XIX as bandas se apresentavam nas ruas para um grande número de pessoas: “tocavam nas ruas e nos coretos, para a população que não era admitida no interior dos palácios e teatros”, completa Nilceia.
A professora também aponta que a falta de apoio das escolas e do poder público compromete a qualidade do trabalho. Alguns grupos buscam formas alternativas para garantir a continuação da formação em música. Na opinião de Nilceia, muitas dificuldades só são superadas pela persistência e amor à música dos maestros e integrantes.
Para além de ser músico
Para Nilceia, o público das bandas maciais e fanfarras em apresentações públicas demonstra a adesão nacional que o movimento tem. Trabalhar com música na escola ajuda na interação dos alunos. “A prática instrumental coletiva faz com que o indivíduo se sinta pertencente a um grupo social com o qual possui afinidades, e compartilha perspectivas semelhantes de vida e de futuro”, completa a professora.
Quem não quiser frequentar as fanfarras de escola podem procurar o Conservatório Maestro Paulino de Ponta Grossa. O músico Adailton Pupia lecionou no Conservatório até 2013, enquanto trabalhou com a Orquestra Sinfônica de Ponta Grossa. Para Pupia, o ensino de música erudita torna o aluno mais crítico musicalmente, por isso a música de concerto ocupa a base do ensino musical.
“A música erudita é mais indicada, pois é construída dentro de estruturas harmônicas e melódicas, combinação de timbres, orquestração, conceitos estéticos e estruturais”, justifica Pupia.
Uma terceira opção
Além das escolas de música, os alunos de escolas públicas assistem aulas sobre a arte musical desde o infantil até as séries avançadas. Os professores da rede municipal de Ponta Grossa assistem aulas sobre musicalização duas vezes por semana para saber como trabalhar a música erudita com as crianças, além de outros gêneros musicais.
A coordenadora do curso, Elizabeth Aparecida Euzébio, conta que as aulas para professores começaram em 2008 e ano que vem será formada a primeira turma. São 150 professores que assistem as classes e ganham uma apostila e um CD para transmitir o que aprenderam em sala de aula para os alunos.
As aulas são de manhã ou à tarde e contam como hora de trabalho. Cada escola encaminha uma professora co-regente para o curso por meio de um ofício. Professor co-regente é aquele que auxilia o professor a trabalhar com a classe.
Reportagem de Luana Caroline do Nascimento
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