Casal de atores deixa sua marca na cena teatral de Ponta Grossa

Suellen Galvão Jansen e Hugo Jansen Galvão são casados há 10 anos, mas diferente de muitos casais eles compartilham uma mesma paixão, a paixão pelo fazer teatro, que não apenas os uniu, mas os mantêm juntos.

Um grupo de amigos atores, uma casa com as portas abertas e a vontade de fazer uma peça que fugisse dos padrões tradicionais motivou o casal a montar o grupo Epíteto em 2012. E foi assim que surgiu a peça chamada Mnemônicos, que ficou instalada na casa de Suellen e Hugo durante dois meses.

Pierrot e Colombina

Suellen conheceu Hugo no ano de 2004 quando ainda estudava Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Passados apenas quatro meses de namoro, os dois decidiram se casar e foi então que Suellen descobriu seu talento para o teatro.

Hugo já fazia teatro há muito tempo quando conheceu Suellen e, em 2005, quando ingressaram em um curso de filosofia e tiveram de fazer uma tarefa juntos, ele sugeriu que fosse feita uma pequena peça teatral. “Tinha que ter um palhaço, mas a roupa que tinha não serviu para ninguém e tive que ser eu a fazer. Eu não tinha a menor pré-disposição para isso, mas fiz e foi muito bacana”, relembra a atriz.

No mesmo ano, Suellen já começou a fazer um curso de artes cênicas na cidade. Hugo recebeu um convite para participar de uma peça, mas não pôde ir e a indicou. Assim, os dois se tornaram oficialmente um casal de atores.

Ainda em 2005, eles começaram a fazer parte do mesmo grupo de teatro. Nesse período uma novidade surgiu no grupo de teatro: Suellen descobriu que estava grávida e, assim, mais uma menina passou a fazer parte da vida de Hugo.

Em 2010 o casal viajou para Curitiba, para participar da banca de capacitação profissional do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão (Sated) para registro profissional de ator e atriz.

Passado um tempo e cansados dos moldes tradicionais de se fazer teatro que se enraizaram em Ponta Grossa, o casal decide tomar iniciativa e criar seu próprio grupo de teatro, o Epíteto. De uma simples ideia, surge uma peça teatral que mudou a rotina e a história da família Galvão Jansen.

Para ficar na memória

Com a intenção de fazer teatro de uma forma mais livre e dinâmica, Suellen e Hugo convidaram os amigos Jéssica Figueiredo e Alfredo Prestes para participarem da aventura. Pela falta de tempo e coincidências de agenda, os amigos ensaiavam apenas uma vez por semana, na garagem da casa dos atores.

Passados seis meses, o grupo de amigos decidiu que seria um bom momento para fazerem uma apresentação ao público. Foi quando passaram a se chamar Epíteto. O grupo tinha como principal característica o texto original, a participação colaborativa e a direção coletiva. “Tínhamos como objetivo formar um grupo de atores que se preocupasse constantemente com a sua formação”, explica Hugo.

Para que todas as direções saíssem do papel, o grupo optou por se apresentar com o conceito de instalação cênica, em que o público não fica sentado, mas caminha passando pelos diferentes cenários da peça. “Para isso precisávamos de uma casa, tentamos de todos os jeitos inclusive alugar um espaço, mas não aconteceu. Foi então que tivemos a ideia de fazer aqui em casa mesmo”, conta Suellen.

Então surge um novo espaço cultural na cidade, o Boazartes, onde a peça Mnemônicos foi apresentada durante agosto e setembro de 2012. “Natural que fosse assim, pois o profissional e o pessoal estavam misturados, foi difícil para a rotina da casa, que teve de ser completamente mudada durante a temporada, mas tivemos muitas compensações”, conta Hugo.

Apesar das apresentações serem feitas dentro da casa da família, a filha Clara, que na época tinha sete anos de idade, entendeu e se adaptou bem ao processo. “O primeiro ensaio com público foi feito para ela e seus melhores amigos, até para que ela entendesse porque tinha que ficar na casa da vó nos fins de semana e porque a mamãe estava usando seu quarto para apresentar uma peça”, conta Suellen.

A peça não só mudou a rotina da família, mas também foi uma grande experiência de carreira e de vida para os atores que participaram. O ator Alfredo Prestes relata: “percebi a coragem que há neles de abrir a sua própria casa para uma instalação, abrindo mão do desconforto de receber pessoas desconhecidas”, conta o ator que teve o prazer de conhecer o casal e trabalhar com eles.

Depois da temporada no espaço cultural Boazartes, o grupo foi convidado pelo Sesc para se apresentar na Semana do Teatro e do Circo em março de 2013. Mnemônico é o termo usado para as estratégias de memorização. E assim o grupo Epíteto passou a fazer parte da memória teatral ponta-grossense.

É preciso pagar as contas

Apesar do talento e da imensa paixão pelo teatro, o casal admite que é praticamente impossível viver apenas do teatro em Ponta Grossa. “Ele te abre portas, como dar aulas, por exemplo, mas em cena dificilmente”, lamenta Suellen.

Outra queixa do casal é em relação ao público de teatro da cidade: “O Fenata, por exemplo, tem uma grande aceitação, mas isso porque são artistas de fora, os artistas daqui não tem o mesmo carinho do publico, é quase um parto arrumar plateia”, conta. “Isso acontece pelo que chamo de ‘complexo de vira-lata sarnento’, tudo que é daqui é ruim, então para a gente, que é de Ponta Grossa, é pior ainda”, explica Hugo.

Mas os atores conseguem ver mesmo assim uma grande estrada pela frente em relação à formação de plateia. Durante as apresentações de Mnemônicos a maior parte do público era jovem, o que é bastante promissor. “Achei muito legal e diferente eles prepararem você na entrada, te envolverem no assunto”, relembra Barbara Cruvinel, universitária que assistiu a apresentação no Sesc.

Suellen também lembra da iniciativa da Fundação Municipal de Cultura que pode ajudar na formação desse público. Trata-se do Plano de Descentralização da Cultura, que vem organizando oficinas de ballet, audiovisual, hip hop e teatro nos bairros da cidade. “Alguns grupos já se apresentaram para a comunidade e estão começando a circular em outros bairros com a peça”, conta Eduardo Godoy, assessor de imprensa da Fundação.

E aos poucos, com a iniciativa ousada de pequenos grupos, a cena teatral da cidade deve se expandir. Projetos como o do casal Suellen e Hugo são um bom exemplo a ser lembrado e admirado.

Reportagem de Isabela Almeida

 

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