Atualmente, é comum frequentar os cinemas dos shoppings centers. Antigamente, os cinemas eram grandes edificações localizadas nas ruas e se tornaram os principais lugares de consumo de cultura e ponto de encontro.
Dois fatores podem ser apontados como explicação para essa migração dos cinemas das ruas para os shoppings. Um deles é a facilidade e segurança para os donos dos estabelecimentos, que puderam conciliar seu negócio com outro tipo de loja, e o segundo fator é o grande público dos shoppings que atrai os donos de cinemas.
Quem viveu na época dos cinemas de rua lamenta essa centralização. Sebastião Ferreira, aposentado, conta que frequentava cinemas de rua desde pequeno até a desativação nos anos 1990 e que não tem mais o mesmo interesse em sair para assistir filmes. “Antigamente o nosso passeio era ir ao cinema, agora tem que ir até o shopping, pagar estacionamento, enfrentar fila para tudo. Gente idosa não gosta de tumulto”.
Sebastião diz que a demolição do Cine Império foi um dos maiores descasos com o patrimônio cultural da cidade: “Um lugar tão bonito e com tantas histórias não podia ter sido abandonado dessa forma, se tivesse sido cuidado, também estaria fazendo parte da história dos jovens da cidade”.
Valter Ramos, vendedor, também frequentou o Império durante sua adolescência e conta que o cinema teve grande importância na sua vida. “Foi lá que tomei gosto pelos filmes, uma das minhas maiores paixões”, relata. Ramos diz que, quando viaja para cidades que ainda têm cinema de rua, não deixa de visitar: “Quando vou a São Paulo sempre vou a um cinema de rua no centro da cidade. Os prédios bonitos tem uma magia, no shopping não é a mesma coisa, não tem a mesma graça”, compara.
Além de ambos lamentarem a demolição do Império, também lembram dos outros dois cinemas de rua antigos que não exibem mais filmes, o Cine Teatro Ópera e o Inajá. “Eu ainda espero que seja inaugurado algum cinema de rua aqui em Ponta Grossa, tenho certeza que vai fazer sucesso, principalmente entre os jovens”, diz Sebastião Ferreira.
“Só conheço cinema de shopping”
No lado oposto da geração que se apaixonou por cinema frequentando os estabelecimentos nas ruas, como o antigo Cine Império, recentemente demolido na cidade de Ponta Grossa, existe aquela geração que assistiu ao primeiro filme na telona dentro de um shopping. Muitos dessa geração desconhecem os cinemas de rua.
Quem nasceu nos anos 1990 foi acostumado desde cedo a ir ao shopping para assistir filmes no cinema. Andrea da Silva, estudante, relata que foi pela primeira vez ao cinema dentro de um shopping em Curitiba, e que só descobriu os cinemas de rua quando estava em uma viagem. “Fui ao Rio de Janeiro e vi os cinemas no centro. São bonitos, mas pra mim cinema é tudo igual, o que importa é a qualidade da sala e do filme”.
Mesmo sendo moradora de Ponta Grossa, Andrea conta que não sentiu o pesar que os demais moradores relataram. “Era um prédio condenado, é melhor que seja demolido. Melhor ainda se algo cultural for construído no local”.
Luiz Machado, também estudante, se diz apaixonado por cinema e, além de filmes, admira também os locais onde são exibidos: “Quanto mais o lugar tem aquela arquitetura que lembra um teatro, mais a gente se sente envolvido e interessado pelo filme. Acho que é o conjunto que deixa as coisas interessantes”.
A Queda do Império
Inaugurado em 1939, o Cine Império foi ponto de encontro de moradores de Ponta Grossa por pelo menos cinco décadas. O prédio foi derrubado recentemente, depois de ter sua demolição decretada no final de 2012. Ele estava tombado, porém algumas lojas ainda funcionavam na parte inferior.
O prédio estava sem manutenção ou restaurações. A Prefeitura afirma que a responsabilidade pela manutenção do prédio era totalmente do proprietário, assim como a finalidade do espaço após o termino dos trabalhos de demolição.
Além de toda a carga emocional que o antigo prédio tinha para a cidade de Ponta Grossa, ainda carregava parte da história, literalmente. Durante a limpeza dos escombros, foi encontrado um livro que conta a história de Ponta Grossa. O livro não tinha outro exemplar e surpreendeu trabalhadores e os demais moradores da cidade.
Reportagem de Lorraine Almeida
Nenhum comentário