A gastronomia é um dos meios que representam a cultura e a tradição de um lugar ou região. O Brasil foi colônia portuguesa, mas muitos outros povos habitaram o país e trouxeram com isso suas tradições e cultura. Ponta Grossa não foi diferente. Diversos povos que aqui viveram deixaram suas marcas, entre eles os ucranianos, poloneses, árabes, alemães, negros e muitos outros. A influência não aconteceu apenas por culturas estrangeiras. Local de passagem e paragem da rota dos tropeiros, a região dos Campos Gerais absorveu alguns hábitos desses passageiros.
A multiplicidade de culturas agregadas, entretanto, parece justificar a ausência, na cultura gastronômica da cidade, de um prato típico e tradicional. Para o diretor do Departamento de Turismo de Ponta Grossa, Eros Edesio de Freitas, a miscigenação e as influências dessas culturas fazem com que a cidade não possua uma gastronomia típica, mas sim uma grande diversidade.
É certo dizer que o pirogue e a cracóvia são alimentos originalmente ucranianos fáceis de encontrar em qualquer mercado, porém não são típicos da região, assim como o charque, trazido pelos tropeiros. O prato típico da cidade, votado pelo Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares dos Campos Gerais (SHRBS), é alcatra no espeto.
“É uma coisa que se fazia todo domingo, todo mundo fazia churrasco e era aquela história de fazer alcatra no espeto. Nós temos hoje três estabelecimentos que servem o prato típico dentro do que ele é efetivamente”. afirma Eros. Em 2010, foi criada uma lei que normatiza as bases do que é esse prato típico (Lei Ordinária nº 10200/2010), que foi sancionada pela Câmara de Vereadores no dia 23 de março de 2010.
Para fazer o legítimo alcatra no espeto, a lei determina uma série de exigências a serem seguidas. Em primeiro lugar a peça, o corte da carne, deverá conter a picanha, a alcatra, o mignon e a maminha. Deve ser assado em fogo de lenha e servido ainda no espeto e fixado a uma pedra própria. Segundo a lei, “o “alcatra no espeto” deverá ser acompanhado de arroz branco, feijão preto cozido ou salada de feijão, salada de tomate, cebola roxa em conserva, salada de maionese, salada de folhas verdes, polenta frita cortada em cubos, farinha de mandioca torrada ou branca e mini pão francês”.
Cozinheiro: comida boa sem firula
Escolher ingredientes de qualidade, que proporcionem beleza, cor e sabor a um alimento, não é uma preocupação apenas de grandes restaurantes e de chefs de cozinha. O preparo certo e com produtos frescos são imprescindíveis para uma refeição agradável, seja em restaurantes ou em casa.
Elaine Cristina Foltran abriu, junto com o marido, uma petiscaria no centro de Ponta Grossa. “Eu nunca estudei para isso, faço por gosto”. No quesito cultura e criatividade, Elaine e o marido tentam inovar, no cardápio possuem petiscos com costela, comum no sul do país, bolinho de cracóvia, um tipo de embutido ucraniano e também petiscos com o charque trazido pelos tropeiros.
A inovação e a criatividade ficam por conta dos nomes. “A gente lança a porção, mas não escolhemos o nome. Então fazemos uma votação com os nomes que os clientes sugerem e com os que mais aparecem na pesquisa nós batizamos o prato”. Elaine conta também que uma freguesa da petiscaria gostava de caipirinha, mas não tomava açúcar. “Criamos uma caipirinha com adoçante e batizamos com o sobrenome dela. Quando ela voltou pedimos para ela olhar o cardápio, quando ela viu ficou toda empolgada”.
Outro diferencial do boteco é a simplicidade. Elaine comenta que não tem problema nenhum em passar suas receitas para os fregueses. “Eles sempre me perguntam como é que faz. Não tenho porque não passar. Quando eles voltam sempre comentam o que fizeram, que não acertaram o ponto. Eu gosto disso”. São essas atitudes, essa maneira livre de “não me toques”, que tornam a experiência gastronômica algo agradável e prazeroso. Porém, sempre se preocupando com a qualidade.
“Eu costumo dizer que o importante em uma comida caseira, em um prato popular, é o sabor. Hoje alguns elementos tem facilidade de serem encontrados no mercado ou cultivando uma horta em casa, são as ervas frescas, as especiarias”, comenta o chef Humberto de Miranda. Essa ideia de simplicidade e sabor está muito presente em diversos estabelecimentos da cidade.
Elaine afirma que o primordial é a qualidade dos alimentos usados nas receitas. “É essencial usar produtos frescos. Caso contrário, pode até tentar, mas não vai sair uma receita adequada”, comenta a cozinheira.
Comida boa, saborosa e de qualidade não é sinônimo de restaurantes caros com cinco estrelas no letreiro. É sinônimo de prazer e paixão por aquilo que se faz e leva para a mesa do cliente.
Modismos gastronômicos invadem Ponta Grossa
Assim como no mundo da moda, na gastronomia também existem tendências. A pizza, por exemplo, chegou ao Brasil no final do século 19 em São Paulo, trazida por imigrantes italianos que desembarcaram em Santos. Essa é uma das razões para muitos considerarem as pizzas santistas tão saborosas.
Atualmente, uma cultura gastronômica que chegou forte no mercado é a mexicana. A febre foi tanta que diversos lugares, restaurantes e barzinhos começaram a servir nachos, tortilhas, burritos e vender o local como especialista no assunto.
O chef José Ailton Buava coordena a cozinha de um restaurante mexicano em Ponta Grossa e confirma essa fase da comida mexicana. “Eu sempre falo que a culinária mexicana hoje é um modismo. É uma culinária que está muito na moda. É um restaurante em que você recebe os pratos na mesa muito rápido, são de simples montagem e são muito coloridos. Não basta ser só saborosa, você tem que dar alegria ao prato”, afirma o chef.
Um exemplo disso é o aumento de estabelecimentos que comercializam as chamadas paletas mexicanas, picolés de fruta com pedaços ou recheados.
Reportagem de Rafaela Oliveira
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