A atenção dos ponta-grossenses voltou-se em 2012 para a Biblioteca Pública Municipal, por causa de uma polêmica com os vidros do banheiro da obra recém construída, que eram transparentes. Depois disso, ao fazer uma rápida visita ao local, percebe-se que a maioria dos corredores permanece praticamente vazio.
Porém, projetos que incentivam a leitura na cidade não faltam. Gisele Aparecida França, coordenadora do espaço, conta que neste ano a Biblioteca ganhou um prêmio nacional em 23º lugar com o projeto “Programa de Visitas Monitoradas”, que concorreu com outras 52 bibliotecas do país.
Como o nome já diz, o projeto funciona com visitas individuais ou em grupo que podem ser agendadas durante o horário de funcionamento da Biblioteca. O projeto abrange: visitas no geral, visita no setor de obras raras, contação de histórias, Curta o curta, Desvendando poesia, Oficina de desenho, Oficina de arte para crianças, PC Conta, entre outros.
Outro programa da instituição é o “Levando para casa”, que disponibiliza no auditório centenas de obras para que o público possa adquirir gratuitamente. Segundo Gisele, os livros foram todos conseguidos por doações.
Conte na biblioteca
Mariane Filipkowski, responsável pelo projeto Conte na Biblioteca, que existe desde 2012, afirma que os idosos frequentam regularmente o espaço e não faltam a uma reunião. “Antes eu ia com uma funcionária lá na Praça Getúlio Vargas. Quando a Biblioteca foi inaugurada, transferimos o projeto para aproximar as pessoas e incentivar o gosto pela leitura.” Os encontros do Conte acontecem uma vez por mês, sempre na segunda quarta-feira do mês.
Marine conta que já foram discutidos assuntos como carnaval, maternidade e idoso. A pessoa que participa pode ler um livro e trazer para a roda de conversa, algumas vezes Mariane prepara textos para serem discutidos e outras vezes os idosos trazem textos de casa feitos por eles mesmos. O encontro é livre, quem quiser falar, ou contar uma história, pode fazer o que quiser. Mariane destaca que a intenção é incentivar a interação e recordação de memórias dos idosos.
Nos encontros participam uma média de 12 idosos. Dona Anita de Góes é uma das participantes do ‘Conte na Biblioteca’. Ela relata que gosta muito de ler e que participa do grupo para conhecer novas histórias. “Estou enriquecendo muito com o grupo. Eu gosto de participar como ouvinte para conhecer histórias e indicações de livros”, diz.
Pegaí que a leitura é grátis
“Eu sempre quis fazer uma coisa, tipo uma estante de trocas dentro da UEPG. Ano passado assisti uma reportagem na televisão, em que tinha um grupo de motoboys fazendo uma bicicloteca, em que eles tinham uma bicicleta com uma caixa que enchiam de livros e saiam distribuindo.” Foi assim que surgiu a ideia do projeto Pegaí, conforme conta o idealizar e coordenador do projeto, Idomar Augusto Cerutti. Hoje, o Pegaí conta com 10 estantes e 30 caixas de coleta na cidade e cerca de 90 voluntários.
Como o nome – Pegaí – diz, a leitura é grátis, não o livro. O objetivo do projeto é fazer com que o livro seja lido e retorne para ser oferecido a outra pessoa. “A ideia é fazer um trabalho desburocratizado, sem que ninguém precise fazer registro com carteirinha, dar o nome, entregar num prazo. É chegar à estante, escolher, pegar e levar”.
Ao ser questionado quanto ao retorno dos livros, Idomar afirma que a preocupação do projeto não é essa. “Nos pontos em que a estante fica sempre tem a caixa de coleta para que eu tenha este controle de que o livro volte. Se a pessoa devolver direto na estante eu não fico sabendo. Quando ela devolve na caixa, a gente faz o registro de que o livro voltou e depois ele volta para a estante e o ciclo continua”, relata. Ele observa que tem mais ou menos 10% de registro dos livros que retornaram. É um número subestimado porque tem muito livro que volta direto para a estante. Segundo o coordenador, já circularam mais de 23 mil livros na cidade.
No projeto Pegaí, há uma separação nos livros em dois tipos: os que podem ser entregues numa escola infantil, e os gerais que não tem exatamente uma separação. “Nós temos uma preocupação de colocar em alguns livros adultos uma etiqueta de leitura imprópria. Então teoricamente tem três tipos de separação, mas na estante normal vai leitura para adultos também”, diz Idomar.
Uma das preocupações é da venda do livro. Todas as obras têm o carimbo do projeto na lombada e na primeira página. O projeto tem um acordo com as lojas de livros usados da cidade, para que não aceite livros com o carimbo do Pegaí. “Quando a gente recebe livros técnicos, que não é o foco do nosso projeto, mas que é um livro bom eu levo no sebo e troco. Troco por livro de literatura, principalmente infantil”, conta.
Há muitas pessoas que doam livros para o projeto. Para isso, basta colocar na caixa de coleta. Porém, deve haver um critério de seleção antes de doar, para garantir obras de qualidade aos futuros leitores. Outra questão é não colocar o livro na estante junto com os livros já etiquetados.
“Dá dó de falar que já coloquei uma barsa num reciclável, porque não tem ninguém que aceite, nem mesmo biblioteca. Isso vira um problema para nós, porque o nosso foco não é esse. Se eu colocar na estante vai ficar lá. Nosso foco é o livro de leitura. As pessoas têm que entender que antes de entregar para nós, elas devem fazer uma triagem. Tem algumas coisas que nós conseguimos fazer troca, por exemplo, revistas e gibis, eu direciono para algumas gibitecas da cidade”, diz Idomar.
O projeto trabalha com diversos aspectos: o hábito da leitura, a questão do desapego, o acesso à leitura para todos e também com a cidadania, ao estimular a prática do voluntariado.
Outro projeto de Ponta Grossa que atua na formação de novos leitores é o Bando da Leitura, que funciona todas as quartas (14 horas) e sextas-feiras (9 horas), na casa da coordenadora, que foi transformada em um ponto de cultura. Lucélia Clarindo, coordenadora do projeto, fala sobre a necessidade de projetos que incentivem a leitura na cidade: “Acho que existem bons projetos, mas é claro que se fazem necessárias mais iniciativas para que o gosto pela leitura continue e envolva pessoas de todas as idades”.
Lucélia revela que está sempre em contato com pessoas e instituições de estímulo à leitura. “São vários os projetos em todas as esferas. Mas é preciso que estes projetos alcancem as pessoas”.
Reportagem de Mariana Tozetto
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