O negro não para no tempo não

Por Gabriel Neto

Desde a colonização, o racismo sempre esteve presente na sociedade. Mesmo que ele pareça invisível, com a popularização das redes sociais e a suposta sensação de anonimato gerada por elas, nos mais diversos âmbitos cresce a difamação e o preconceito contra etnias historicamente discriminadas, como afrodescendentes e indígenas.

Após sancionadas a Lei nº 10.639 (2003) e a Lei nº11.645 (2008), pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, tornou-se obrigatório o ensino sobre a história e a cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, tanto públicos quanto particulares. Devido a essa obrigatoriedade, professores das escolas estaduais vinculadas ao Núcleo Regional de Educação de Ponta Grossa (NRE) desenvolveram ao longo do ano com seus alunos trabalhos de valorização da diversidade étnica presente no país.

Esse trabalho culminou na IV Mostra Pedagógica das Equipes Multidisciplinares, cuja temática desse ano foi a Desmistificação das Religiões Africanas. O Candomblé, a Quimbanda e a Umbanda são as religiões de origem africana com maior representatividade no Brasil, afirma Alecs Pires, pai de santo, agente educacional e membro do grupo multidisciplinar do Colégio Estadual Regente Feijó.

Ele ressalta que estas religiões constituíram a cultura brasileira, já que temos elementos do candomblé e da umbanda dentro do próprio samba, que é patrimônio cultural do Brasil. “Quando o aluno tem contato com essa realidade, com esse conhecimento, ele torna-se mais tolerante e passa a compreender melhor a cultura a que pertence e as demais culturas com as quais ele convive”, explica Alecs.

Atividades da Mostra

Durante a IV Mostra Pedagógica, que aconteceu no período da manhã e da tarde do último dia 18, na Associação Recreativa Homens do Trabalho (ARHT), cada escola expôs em seu estande trabalhos realizados pelos alunos como maquetes, máscaras e bonecas artesanais de origem africana, tradicionalmente denominadas abayomi, que são bonecas negras feitas de pano que representam alegria e felicidade.

Os alunos também fizeram apresentações de danças de origem africana, declamação de poesias e peças de teatro que retratavam o preconceito e a discriminação étnico-racial. Em uma das apresentações houve problemas técnicos e o som, que inicialmente parecia alto demais, parou de repente durante a dança que retratava o grupo étnico dos ciganos. Após a música voltar a tocar, o público ovacionou e aplaudiu, pois era visível o entusiasmo dos alunos em iniciar novamente a apresentação. Sem pagar nada no momento, também era possível realizar consulta no jogo de búzios, arte divinatória usada nas religiões tradicionais africanas.

“Para que a ascensão do negro em nossa sociedade seja efetiva, nós negros temos que resistir contra os preconceitos, contra as dificuldades e contra as barreiras que nos são impostas”, afirma o professor Galindo Pedro Ramos, coordenador da equipe multidisciplinar do NRE e também membro atuante na defesa dos direitos de igualdade dos negros. Galindo explica que um dos objetivos das equipes é fazer com que os professores trabalhem nas escolas as questões de preconceito étnico-racial o ano inteiro e não somente no Dia da Consciência Negra. Além de conscientizar professores, principalmente os que não são negros, para a percepção de que o preconceito racial e o racismo ainda existem no Brasil.

Na visão da pedagoga, teóloga e professora da rede estadual, Risalva Maria de Barros Silva e Silva, as equipes multidisciplinares tem uma função muito importante dentro das escolas, porque se existem aqueles que sofrem calados, os professores só percebem o resultado depois que o preconceito já deixou marcas profundas no aluno. Risalva ainda defende que, se a cultura negra desde sempre fosse trabalhada como sendo cultura brasileira, não haveria necessidade de existir uma semana ou um dia da cultura negra. “Este é um dia em que mostramos que existimos em nosso país”, afirma.

Dia da Consciência Negra

O dia da Consciência Negra é celebrado no dia 20 de novembro e foi instituído como feriado em todos os estados que aderiram à lei nº 12.519 de 2011. A data foi escolhida para coincidir com a morte de Zumbi dos Palmares, último dos líderes do maior quilombo do período colonial, o Quilombo dos Palmares e também símbolo controverso da resistência dos negros à escravidão imposta pelos brancos.

No dia 30 acontece, das 19h às 22h, no Colégio Regente Feijó, a palestra do Núcleo de Relações Étnico-Raciais, de Gênero e Sexualidade (Nuregs) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) sobre o tema “Identidades Sociais de raça e Diversidade Étnico-racial em sala de aula: como implementar a questão da diversidade étnico-racial na sala de aula e no ambiente escolar”São 300 vagas e o evento é aberto a todos os interessados. As inscrições podem ser feitas no link:http://bitly.com/palestrasNuregs2015

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