O grande palco dos Campos Gerais

Por Adriane Hess

Há dezesseis anos, Cássio Murilo entrava no mundo da música. Com apenas sete anos de idade, o músico começou a tocar violão. No entanto, o instrumento não conquistou o interesse imediato de sua mente de criança. Apenas três anos depois, após completar uma década de vida, Cássio demonstrou maior gosto pela arte. Desde então, não parou. Seja sozinho, ou com sua banda, a Astrid, a busca por viver de música se faz presente na vida dele e de outros diversos músicos ponta-grossenses, que buscam reconhecimento por seus trabalhos.

No caminho para a emancipação do artista ponta-grossense, ao Conselho de Políticas Culturaisestabeleceu a valorização da obra do artista local como uma das diretrizes da política cultural do município. O documento, elaborado na 16ª Conferência Municipal de Cultura, traz objetivos para o desenvolvimento da cultura na cidade. Ainda que pareçam resoluções concretas, segundo o diretor de Departamento de Cultura, Luis Cirillo Barbisan, o texto descreve uma situação “ideal” da cultura na cidade, não havendo necessariamente uma forma de aplicar todas as decisões imediatamente.

Por este motivo, o artista ponta-grossense por ora deve contentar-se com o que a cidade oferece. Carro chefe da promoção da música popular da cidade, o Sexta às Seis contempla bandas com integrantes nascidos em Ponta Grossa. Além disso, os músicos devem apresentar, além de covers, composições próprias, numa tentativa do projeto de estimular a produção musical da cidade: “Começamos com uma, de repente duas, e agora temos bandas só com composição própria, então isso foi um ganho bem grande”, comenta Cirillo.

O Sexta às Seis foi retomado em 2014 para uma nova temporada. A reformulação do projeto deu uma nova casa para as bandas: a Estação Saudade. Todas as sextas, bandas da cidade sobem ao palco e contam com a participação do público. Público este elogiado por Cássio, que considera incrível o reconhecimento nas apresentações: “O público é sempre muito fiel e muito caloroso, cantando e vibrando sempre com as bandas que se apresentam”.

A antiga casa do Sexta às Seis, a Concha Acústica da praça Barão do Rio Branco, foi reinaugurada em 2015 após reforma. No entanto, ainda recebe poucas apresentações artísticas. O principal motivo para a pouca utilização do espaço, segundo Cirillo, são os estabelecimentos ao redor da praça. Como a concha se localiza perto de uma igreja e de um colégio, a realização de apresentações musicais só pode ser feita em horários que não atrapalhem as atividades das instituições.

Ainda que caminhe a passos lentos, o investimento em música é de longe o maior de todas as áreas contempladas pela Fundação de Cultura. A Orquestra Sinfônica de Ponta Grossa, a Banda Lyra dos Campos Gerais e o Conservatório de Música Maestro Paulino são as instituições mais atingidas pelas ações da instituição. Cirillo conta que esta é uma tendência da política cultural na cidade: “O que nós investimos geralmente é para a música erudita e temos projetos como o Sexta às Seis para a música popular”. Segundo ele, há uma pressão para que todos os segmentos possuam a mesma quantidade de investimentos.

 

Uma década de estrada

            Billy Joe é baterista da Cadillac Dinossauros. A banda, que possui dez anos de carreira, é uma das mais reconhecidas em Ponta Grossa. Apesar de participar de festivais renomados, como o Psicodália, a Cadillac sempre se apresenta em locais de Ponta Grossa, como a chopperia Baviera, palco da banda todos os sábados.

Para Billy, a visibilidade dentro da cidade foi aumentando à medida que a banda se consolidou. Em 2015, a Cadillac ganhou o concurso DMX Brasil no Rio de Janeiro. Os principais meios de comunicação de Ponta Grossa noticiaram a vitória, porém, segundo Billy, a própria banda teve que correr atrás dos veículos. “Para a gente conseguir visibilidade na mídia especificamente para este caso do DMX Brasil nós é que tivemos que entrar em contato com os jornais”, conta. O mesmo aconteceu no apoio da Prefeitura durante a campanha do concurso: a banda pediu a ajuda da Fundação Municipal de Cultura para tocar em locais públicos da cidade e, assim, divulgar a votação para a população.

O apoio na campanha para o concurso DMX Brasil foi um dos casos isolados em que a banda contou com ajuda governamental. Financeiramente, Billy relata que a Cadillac não chegou a receber nenhum tipo de patrocínio, se sustentando de forma independente até o prêmio. Billy considera importante o apoio financeiro para a compra de equipamentos e auxílio na logística de shows e divulgação. No entanto, o dinheiro não é tudo: “Material de qualidade não é música de qualidade. O dinheiro pode comprar tudo, mas se o artista não for realmente artista e bom de verdade, de nada adianta”, analisa.

Assim como Cássio, Billy não considera o apoio governamental aos músicos de Ponta Grossa excelente. Porém, ele destaca outro aspecto que pode ser essencial no crescimento do artista: a iniciativa própria. “Poderia ter mais projetos e ações da Fundação de Cultura? Poderia! Mas é uma via de mão dupla, da mesma forma que a Fundação poderia fazer mais, as bandas também podem, basta mostrar iniciativa e apresentar ideias”, afirma o baterista.

A falta de união da classe artística é argumento presente na fala de Barbisan. Segundo ele, há a tentativa de diálogo com os artistas, mas, não há sucesso, pois as intenções seriam diferentes: “A maioria dos artistas imagina que o poder público tem que resolver o problema dele, e não é pra valorizar o artista só, é a população que tem que ter acesso ao que o artista faz”, diz.

Bily se posiciona de maneira parecida. Segundo ele, é necessário que os artistas se unam para um crescimento da cultura na cidade: “Para a cidade, acho que é muito mais interessante tentar unir os grupos artísticos (bandas, teatro, dança) para que haja diálogo e um crescimento em conjunto, que com certeza é muito mais forte que crescer sozinho”.

 

Próximos passos

            Uma das diretrizes inseridas na Conferência Municipal de Cultura de 2015 é: “criar mecanismos de interação entre músicos da cidade, evitando o ‘trabalho solidário’ de músicos, proporcionando comunicação e diálogo dentro do segmento e com o público”. Ainda não há uma maneira prática de implementar esta diretriz e outros itens que constam no documento. Segundo Cirillo, a dificuldade da liberação de recursos dificulta a realização de projetos novos, assim como os que já estão em andamento: “O próprio conselho está brigando muito para viabilizar as ações, nós temos moções e ofícios que mandamos para a Secretaria de Finanças”, afirma Cirillo.

Ponta Grossa ainda tem um longo caminho para valorizar sua cultura. Espaços como o Centro de Cultura estão praticamente inutilizados. “Vemos um excelente espaço (e prédio histórico) praticamente abandonado ao relento”, relata Cássio. Para Billy, os espaços tem potencial, porém são mal explorados: “Não me arrisco dizer que são bem utilizados. Mas nós temos bons espaços e poderíamos melhorar em muito a utilização desses lugares”.

Divulgando seus trabalhos de forma independente, Cássio e a Cadillac Dinossauros, apesar de possuírem carreiras diferentes, compartilham da mesma opinião sobre a política cultural: ainda falta muito. “É um circulo vicioso extremamente danoso para nós. Falta iniciativa pública, falta iniciativa das bandas, falta espaço, falta acesso, falta educação, falta dinheiro, falta união”, analisa Billy.

Para Cássio, a internet é a ferramenta mais poderosa para a valorização do trabalho de artistas independentes. No entanto, o apoio é mais do que desejável, é necessário: “É fundamental aparecer, ser visto, tocar muito por aí, para que as pessoas vejam que você é capaz de fazer aquilo que ouvem em casa”.

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