Por Bruna Fernandes
O concerto apresentado pelo Coro em Cores recebe o nome de “Festa de arromba”. O título se deve ao tema abordado pelo coral ao longo do ano de 2015: o movimento cultural da Jovem Guarda. O Coro é um grupo de extensão do curso de Licenciatura em Música da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
O repertório da apresentação é composto por 11 músicas do movimento, adaptadas para a modalidade de canto coral, que embalam a comemoração dos cinco anos de atividade do Coro em Cores. O coordenador do projeto, professor do curso de Licenciatura em Música da UEPG, Ronaldo da Silva, fala sobre a escolha da Jovem Guarda como tema do concerto: “surgiu num estalo, acho que a gente nem imaginou que seriam comemorados os 50 anos do movimento, depois que a ficha caiu”.
Os cantores e atores que participam do concerto vestem figurinos especiais: camisas sociais, saias estampadas com bolinhas, lenços e outros adereços que remetem aos jovens da época da Jovem Guarda, o que visivelmente diverte cada um dos cantores.
Para as apresentações também foi utilizado o recurso do diálogo cênico: um senhor idoso, que teve sua juventude embalada pelas músicas da jovem guarda nos anos 1960, conta histórias de sua juventude para um sobrinho. Esses breves diálogos introduzem cada música que é apresentada na sequência.
O mestrando em Biologia evolutiva da UEPG, Luiz Oliveira, que prestigiou o concerto, conta que gostou bastante da apresentação e observa também que tem uma relação pessoal com o grupo: “o Coro em Cores eu já acompanho, até porque em 2011 eu participei. Foi através do Coro em Cores que eu entrei no Coro Cidade de Ponta Grossa, então sempre que eu tenho oportunidade de prestigiar o grupo eu venho.”
As últimas apresentações do Coro em Cores aconteceram nos dias 25 e 26 de novembro, no Cine Teatro Pax, às 20h horas. Outros shows anteriores contagiaram o público, que quase lotou o Pax para prestigiar a performance dos músicos, atores e cantores durante a apresentação do repertório.
Cinco anos com muita história para cantar
O grupo de extensão Coro em Cores surgiu no ano de 2010 como projeto de extensão do curso de Licenciatura em Música da UEPG. O projeto efetivou uma parceria com o Conservatório Maestro Paulino, e atualmente utiliza espaços do Conservatório para realizar os ensaios semanais.
Atualmente, mais de 60 pessoas participam do Coro. Existem participantes de 14 a 70 anos de idade, já que para participar basta ter mais de 14 anos e vontade de se expressar, como afirma a regente do coro e professora do curso de Licenciatura em Música da UEPG, Carla Roggenkamp. A participação no Coro em Cores é aberta à comunidade de forma gratuita, e não é requerida experiência anterior com música para ingressar.
Carla afirma que, por ser um grupo comunitário, tem a intenção de socialização e de educação musical. “Não é somente um grupo de alta performance, então a proposta é mesmo que as pessoas dialoguem, conversem, se divirtam e cantem, façam coisas bonitas”.
O exparticipante do Coro em Cores e atual cantor no Coro Cidade de Ponta Grossa, Luiz de Oliveira, comenta que costuma convidar pessoas a participar de atividades de coral e ressalta as possibilidades que a musicalização pode trazer. “Agora mesmo a mãe de uma amiga minha veio assistir, falou que gostou, então eu já falei pra ela vir começar a cantar. Eu comecei assim, me convidaram, e pelo Coro em Cores eu entrei no Coro Cidade e estou aí até hoje”.
O Coro teve suas atividades paralisadas temporariamente pela greve dos servidores estaduais do Paraná no início de 2015, porém, as atividades foram reiniciadas no segundo semestre, com ensaios semanais às terçasfeiras, 19h, na sede do Conservatório.
“Eu não posso ficar só assistindo, eu tenho que fazer parte desse grupo!”
A aposentada que canta no coral há cerca de quatro anos, Ângela Salim, afirma que quando assistiu pela primeira vez a apresentação do coro se encantou com o trabalho realizado: “eu me apaixonei: entrei e nunca mais saí, e recomendo para todo mundo”, elucida.
Ângela expõe que teve muitos problemas emocionais antes de ingressar no Coro em Cores. O falecimento de um ente querido na família, filhos com problemas, doença, e outros fatores a levaram a desencadear uma grave depressão. “Você vai acumulando acontecimentos que vão se tornando doenças psicossomáticas e não percebe. Quando vê, você já está com toda a emoção no estômago e nas cordas vocais”, observa Ângela.
Ela relata que desenvolveu uma gastrite nervosa e uma fenda nas cordas vocais, que colaboraram para desencadear uma depressão. De acordo com o médico especialista em Otorrinolaringologia, Dr. Reinaldo Yazaki, a fenda nas cordas vocais, chamada de “fenda glótica”, pode trazer a perda de um pouco do ar que seria útil para iniciar ou manter a vibração das pregas vocais, que fazem com que a voz soe.
Após iniciar o tratamento médico, Ângela conta que se viu obrigada a procurar uma fonoaudióloga. “Fiz exercícios por alguns meses, daí eu vi a minha amiga cantando e me empolguei (risos): eu tenho que subir lá no palco também”, conta.
O tratamento médico e fonoaudiológico, aliado ao trabalho do canto coral, a auxiliaram na recuperação da voz e na melhoria do estado depressivo. “Os problemas na vida da gente continuam, isso é óbvio! Mas a gente canta, a gente vive feliz, a gente administra melhor os acontecimentos, é uma terapia! O canto modifica tua maneira de pensar, de agir, de viver os problemas”.
A vida do coro
No fim de um dos dias de apresentações, outros participantes do Coro e pessoas que estavam assistindo à apresentação cercam Ângela para conversar, acertar detalhes das próximas apresentações e parabenizar por sua performance individual no início do concerto, na cena do “casamento”, que dá início à “Festa de Arromba”. Nessa representação ela atua como a noiva.
“O Coro é uma delícia, é uma família, quando tem feriado e não tem aula todo mundo fica triste”, afirma Ângela. Ela comenta também que entre os membros do Coro em Cores há muitas diferenças de idades e de profissões, mas é uma mistura de ser humano muito rica. “Ninguém discrimina ninguém, todo mundo se respeita, é jovem no meio de pessoa idosa, e a garotada conversa com a gente de igual para igual”.
“A Ângela é uma pessoa extremamente animada, com uma energia contagiante que anima não só nosso trabalho com o Coro, mas nosso dia a dia. Ela é também muito empenhada com o Coro, a gente consegue sentir isso no trabalho dela, o quando ela ama o que faz”, afirma a estudante de Jornalismo da UEPG, participante do Coro em Cores há cerca de um ano, Luana Caroline Nascimento.
Ouça um Trecho do concerto “Festa de Arromba” do Coro em Cores
Música: Ritmo de Chuva (versão Demétrius)
Intérpretes: Coro em Cores
Atores do diálogo teatral: Lucas Bandeira de Melo como “Tio Roberto” e William de Castilho como “Sobrinho Tiago”
Músicos da banda: João Maria Portela dos Santos (violão), Leandro Marcos Fornazari (trompete), Paulo Roberto Salvador (bateria e percussão), Rafael de Jesus Rodrigues de Paula (baixo) e Ronaldo da Silva (teclado).
Arranjos e regência: Carla Roggenkamp
Arranjos, coordenação e teclado: Ronaldo da Silva
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