A ‘Malandragem’ dita o ritmo

Por Marcelo Ribas

“Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar”. O trecho da música, composta por Edson Conceição e Aloísio Silva, é levado ao ‘pé da letra’ pelos integrantes da banda Novos Malandros. O grupo é o único com repertório, do início ao fim, que interpreta clássicos do samba e do choro nas noites em Ponta Grossa.

A formação atual conta com Sérgio Falcão (vocal e violão), Arajam Cunha (percussão), seu irmão Fabrício Cunha (cavaquinho e vocal), e Nicolas Salazar (flauta transversal e pandeiro). O grupo já se apresentou em diversos locais da cidade e há um ano toca toda sexta-feira no bar Rei das Batidas.

Vindos de família de músicos, os irmãos Cunha criaram os Novos Malandros em 2007, após o desmanche de outra banda de choro e samba, a ‘Cabide de Molambo’. “A gente criou os Novos Malandros para que a cultura do samba não se perdesse em Ponta Grossa”, explica Fabrício.

Com um repertório de aproximadamente duas horas, o grupo traz ao público composições de artistas consagrados, como Cartola, Pixinguinha, Adoniram Barbosa, Chico Buarque, Paulinho da Viola e Nelson cavaquinho.

“É um som que não estamos acostumados a ouvir nas rádios ou na TV. Então o pessoal que nos acompanha são aqueles que gostam de ouvir uma coisa diferente. E o legal é que há interatividade com o público, pois sempre nos dão dicas de músicas para tocarmos em nossas apresentações. Isso é muito bacana”, explica Nicolas.

Em pesquisa feita sobre hábitos culturais, o samba é o terceiro gênero musical mais ouvido entre os ponta-grossenses, atrás apenas do sertanejo e MPB. A qualidade das canções que os Novos Malandros apresentam é exaltada pelos frequentadores dos bares.

“Eu gosto de samba desde pequena por influência dos meus pais. Os meninos fazem música de qualidade como poucas bandas em PG. Não tem como não gostar. Estou acompanhando desde que começaram e a qualidade sempre foi essa, eles são incríveis”, avalia a advogada Aline Soares Lopes.

O ritmo contagia também as pessoas que não estão acostumadas a ouvir. É o caso da estudante Tais Hanneman, que mora em Carambeí e acompanhou uma das apresentações do grupo. “É a primeira vez que tenho contato com essa banda. Normalmente não escuto samba, mas achei ótima a apresentação deles”.

Não é legal se fechar em um só estilo, o músico escuta de tudo’

Numa época em que os gostos musicais são tão segmentados, havendo uma disputa ideológica comparando qual é o melhor, o músico Nicolas Salazar revela tranqüilidade pelo gosto musical em gêneros tão diferentes, o samba e o rock’n roll. “Posso ir aos dois e não vou tocar de cara feia, é algo que me dá prazer”.

Incentivado pela mãe a aprender instrumentos, iniciou ainda criança no Conservatório Maestro Paulino com musicalização. “Queria aprender saxofone, mas era criança e acabei me afastando por um tempo”. Em 2002, quando estava com quinze anos, decidiu que aprenderia guitarra, mas somente aos dezessete decidiu ir fundo na música.

“Tive incentivo desde novo para tocar, não profissionalmente, mas pra aprender instrumentos. Retornei ao conservatório um pouco mais velho, com 17 anos, foi onde aprendi flauta transversal. Ali comecei a ler partitura e aprender música pra valer. Até iniciei na faculdade de História, mas decidi que era música que eu queria”, explica Nicolas, que se formou em licenciatura em Música pela UEPG.

Atualmente membro de três bandas (Novos Malandros, Blues, com Alexandre Mello, e Máfia do Ska), está sempre disposto a “dar uma canja” onde surgir convite. O músico conta que a rotina de tocar estilos diferentes é algo que lhe dá prazer.

“Não é legal se fechar em um estilo só. O músico precisa escutar de tudo, desde jazz, clássico, até moda de viola. Tem tanta coisa boa pra ouvir. Tocar em bandas de estilos diferentes é algo muito bom, só o mesmo estilo enche o saco”, ironiza.

O lado fotógrafo de ‘Balta’, como é chamado pelos amigos, surgiu há cerca de dez anos. Ele conta que aprendeu a tirar fotos informalmente, e há pouco tempo começou a se profissionalizar na área, trabalhando e dando aulas de fotografia. Entretanto, demonstra desejo de aprofundar-se nessa área.

“Não tive oportunidade de fazer nenhum curso. Meu aprendizado em foto foi com dicas de fotógrafos amigos, no youtube e praticando bastante. Mas quero fazer alguns workshops, um curso de fotografia pra cinema. Tenho vontade de estudar um pouco disso”.

Questionado sobre muitas vezes tocarem sem ensaiar, ele ironiza dizendo que se torna brincadeira legal. “No blues é bastante improviso, se entrosa na hora e sai um som diferente, não fica uma música quadrada. Às vezes dá certo, às vezes não. Nos Novos Malandros sinto falta, pois tem muitos ‘choros’ que não se aprende fácil, mas de vez em quando nos reunimos com a metade do grupo”, brinca.

 

Samba do Trilho incentiva compositores da região

O samba do trilho, realizado mensalmente, é um projeto idealizado pelo músico Fabrício Cunha e pelo jornalista Ben Hur Demeneck que incentiva a composição de sambas autorais. Inspirado no samba da Vela (SP), o Samba do Trilho é uma homenagem aos ferroviários, que ajudaram a criar a cultura do samba em Ponta Grossa.

Após algumas viagens pelo Rio de janeiro, São Paulo e Paraná, Ben Hur e Fabrício descobriram que o samba tem poucos representantes no Paraná. A iniciativa do Samba do Trilho surge como incentivo aos músicos ao oportunizar um espaço para divulgar canções próprias.

“A gente quer que esses compositores paranaenses, principalmente os ponta-grossenses, façam essas composições de samba, pois tem muita gente boa. Ainda estamos começando, mas acredito que em um ano e meio esse projeto renda frutos, e saia umas coisas bem legais”, explica Fabrício.

O samba do trilho surge como projeto que foge aos modelos tradicionais, que visam apenas interesses mercadológicos. “A diferença é que fazemos com amor, escrevemos sobre coisas que vivemos no nosso dia-a-dia. Assim que queremos ser reconhecidos, e não como algo comercial”, argumenta Fabrício.

Para Nicolas Salazar, músico que participa dos encontros, o projeto é um ótimo incentivador tanto para os iniciantes quanto para os músicos que já estão há anos na estrada.

“A galera participa e mostra suas composições. Às vezes nem são profissionais, nunca tocaram na noite, mas gostam de compor. É um grande incentivo para eles e pra nós também se mexer e compor”, explica Nicolas.

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