Enigmas de um consumo cultural e PG

A busca de indicadores para melhor compreender as características do que se entende por consumo cultural não é uma tarefa exclusiva dos agentes de Ponta Grossa. Mesmo com a oferta de informações em quantidade imensurável, a partir da internet e redes sociais, trata-se de um desafio que exige estudos constantes, para além de um rigor investigativo na coleta de dados. E isso, é preciso reconhecer, até o momento, faltam indicadores capazes de revelar algumas das características do crescente segmento apresentado como consumo de mídia e cultura.
Os dados de um levantamento, realizado entre abril e maio de 2014, pela J.Leiva Cultura & Esporte, encomendada por uma das empresas que cobram pedágio rodoviário no Paraná, por isso mesmo, registram uma contribuição.
É preciso, no entanto, considerar que os dados do referido levantamento são bastante parciais, na medida em que a amostra de entrevistados (241 pessoas), tendo por base pontos de circulação de pessoas, da referida sondagem deixa a desejar, inclusive no que diz respeito às especificidades que cada município possui e tende a influenciar na elaboração de um retrato cultural.
O que se pode destacar nos dados apresentados, portanto, não fica longe do que já se conhece, em nível nacional, tendo por base os dados apresentados pelos levantamentos de “Pesquisa Brasileira de Mídia”, em versão atualizada para 2015, realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, que retrata os “hábitos de consumo de mídia pela população brasileira”. Os dados da versão mais recente, que ajudam a entender também a situação do acesso aos bens e serviços culturais em PG, estão disponíveis na internet
(http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf).
Preocupa, entre os indicadores apresentados em abril/2015, que PG revela uma diferença nas condições de acesso público aos bens e serviços culturais, quando comparada a outras cidades do mesmo porte (médio) do País, como Bauru, Franca, Santos, Sorocaba, Niterói e Duque de Caxias, dentre outras. E isso fica visível, quando os dados do estudo da JLeiva são apresentados de forma comparativa.
A média da população com acesso à internet em PG é menor que o registrado nas demais cidades da amostra. Em uma cidade com um festival de música e de teatro verificar que a média de moradores que vão ao teatro fica abaixo da média dos demais municípios é tão preocupante quanto confirmar outros indicadores já conhecidos do setor cultural: o percentual estimado de pessoas com formação universitária, mesmo estando em uma das importantes cidades do Paraná com universidades públicas, fica abaixo de municípios de porte médio no País.
Oportuno lembrar que o debate sobre acesso à internet já pautou disputa eleitoral em PG, quando o então candidato reeleito à Prefeitura (Pedro Wosgrau, em 2008) prometeu rede gratuita à população. O ex-prefeito (PSDB) terminou o mandato, não cumpriu com a promessa, e parece que o problema foi “engolido com farinha”, sem solução e tampouco responsabilidade pública. Os demais candidatos, se não esqueceram, podem não ter compreendido a proposta, o que justificaria o silêncio público. Mas a Conferência Municipal de Cultura mantêm, em seus registros de diretrizes e metas, a necessidade de internet aberta e sem custo para todos moradores de PG. Uma das condições elementares para se falar em democratização cultural em tempos de redes de informação!
E, por fim, é indispensável considerar alguns questionamentos, como desafio reflexivo e ao mesmo tempo, indicação para pensar alternativas de superar os limites das condições de acesso aos bens e serviços culturais em PG. Qual o potencial agregador que os festivais realizados anualmente pela UEPG (Fenata e FUC) conseguem despertar na população uma busca por mais espetáculos teatrais e opções musicais, capazes de ir além de shows modistas e genéricos vendidos em centros de eventos ou festas supostamente ‘universitárias’? O que resta, ao final do período de 10 dias de duração dos respectivos eventos, como capital simbólico cultural na Cidade? Ou será que tais festivais são apenas eventos, que ainda não descobriram formas de atrair outros segmento sociais para acesso público?
O que os gestores públicos – executivo e legislativo – tem a dizer sobre o cenário retratado pelo levantamento, ainda que parcial, do estudo apresentado no início de abril em PG? Não seria o momento de pensar formas de tratar a cultura como um setor estratégico para desenvolvimento social e cidadão no Município? São algumas questões, que podem servir de pistas para reavaliar a situação e a busca de melhoria das condições de acesso e inclusão cultural em Ponta Grossa. Afinal, quando se fala em cultura é, cada vez mais, inevitável apontar para uma perspectiva de exercício da cidadania.
Outras informações sobre consumo cultural em PG podem ser acessados no endereço
http://www.jleiva.com.br/wp-content/uploads/2015/04/Ponta-Grossa_MESA1_comentada.pdf
E, para um comparativo com outras cidades médias do País, os dados estão disponíveis em
http://www.jleiva.com.br/wp-content/uploads/2015/04/Ponta-Grossa_MESA2_comentada.pdf

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