‘Não Cauterize’ marca o surgimento de novos diretores no teatro ponta-grossense

David Candido e Vitor Almeida

Na última sexta (6), a Escola de Artes Bianca Almeida apresentou a peça ‘Não Cauterize’ no Festival de Teatro e Circo de Ponta Grossa. A apresentação aborda temas relevantes no atual cenário social como violência sexual, assédio e questões de gênero.

Mas o que chama a atenção do público ao final da apresentação é o autor e diretor do espetáculo. João Augusto, de apenas 18 anos. Aluno do curso de teatro há três anos, esta foi sua primeira direção e já conseguiu mostrar o que consegue fazer nas artes cênicas. João explica que a peça foi pensada a partir de suas experiências amorosas. “Foi basicamente criada com base nos acontecimentos gerais da minha vida e nas minhas dores não cauterizadas”, explica.

José Plínio, ator e também crítico teatral, esteve presente no espetáculo e afirmou que o estilo de direção de João Augusto se assemelha a Nelson Rodrigues. “Ele tem um talento ‘rodriguiano’. Este jovem que surge em Ponta Grossa com certeza vai fazer carreira, vai ganhar prêmio de dramaturgia e vai ter muitas peças suas montadas”, ressalta.

A peça foi inteiramente construída com falas diretas da protagonista que representa uma mulher transsexual que até os oito anos de idade era um menino e teve fatos que marcaram sua vida, como a morte de seu pai e o estupro de sua professora, mãe e o seu próprio. Inicialmente era apenas em formato de monólogo. “Foi estruturado em um primeiro momento como um monólogo, surgindo depois a ideia de transformar em uma apresentação mais elaborada, com mais atores e produção”, afirma o diretor.

Para Gabriela Galdino, atriz que representou a protagonista, a peça exige muito da parte emocional. “Eu usei uma dica dada pelo João que é dar um pouco de mim para a peça, resgatando as minhas próprias memórias emotivas e usar na construção da personagem, pois a peça exigiu muita carga emocional e dramática”, relata.

O estudante João Elbl, 17, comenta o espetáculo. “É intenso e pesado emocionalmente, tanto pelo tema totalmente comovente como pelo texto e trabalho dos atores, o que me fez sentir a sensibilidade que a obra traz”, frisa.

José Plínio ainda destaca a importância do poder público incentivar o surgimento de novos talentos na área artística. “É muito importante ver os atores que estão surgindo aqui em Ponta Grossa. É uma efervescência cultural maravilhosa. Tem muita garotada querendo se dedicar à arte, então temos que abrir espaço para eles”, finaliza.

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