Na última quinta-feira (14), encerrou-se o IV Festival Nacional de Contadores de História e o VII Festival Literário dos Campos Gerais (Flicampos), que integram a programação do Ano da Cultura Paranaense. O desfecho dos dois eventos aconteceu no auditório B do Cine-Teatro Ópera, às 19h.
O festival de contação trouxe para Ponta Grossa 29 contadores. Eles realizaram oficinas, debates e discussão do seu próprio papel na sociedade, além de visitarem colégios, hospitais e participarem de algumas aberturas de palestras do Flicampos. Na abertura da quinta, o público ouviu e interagiu com seis histórias, como um cordel sobre a seca de 1932, a formação da ilha que hoje é Porto Rico e uma tenebrosa memória sobre as praias catarinenses. Os contadores presentes tinham origens variadas: carioca, catarinense, pernambucano, paulista etc.
O Flicampos convidou quatro grandes autores da atualidade para uma semana de palestras. Os escritores Luís Henrique Pellanda*, Henrique Schneider e Etel Frota** fizeram parte dos primeiros dias de feira. O encerramento ficou a cargo do autor londrino Domingos Pellegrini. “Domingos colocou o norte do Paraná na literatura brasileira”, analisa o escritor ponta-grossense Miguel Sanches Neto ao apresentar o escritor que já recebeu seis prêmios Jabuti – três com romances e três com poesia, contos e literatura juvenil – ao público.
No início de sua apresentação, Pellegrini avisou que o material pré-informado que usaria teria sido trocado. “Estava olhando minhas coisas e encontrei essa palestra aqui, álbum de família”. Durante cerca de uma hora e meia, o escritor expôs as fotos de seus familiares enquanto contava histórias sobre eles, lia seus poemas destinados àquelas pessoas e momentos e discutia sobre o período que vivemos como sociedade e como país. “O Brasil que eu quero é…”, brinca Pellegrini.
O autor relatou ao público sua vida, com conquistas, arrependimentos e ideologias, passadas e atuais. A personalidade de seus antecedentes, a condição e ligação que tinha com seus parentes foram abordadas pelo escritor. Os espectadores riram, se emocionaram e se identificaram durante toda a apresentação. No fim, algumas perguntas buscaram outras relações do autor, como a amizade com o escritor curitibano Paulo Leminski.
Além da reputação, um dos motivos para que o auditório estivesse movimentado foi a escolha da UEPG pela obra “O mestre e o herói”, escrita em 2012 por Pellegrini, como indicação ao vestibular. Quando soube que seu livro estava indicado, o escritor ficou surpreso. “Não imaginava que uma obra destinada ao público juvenil poderia estar indicada para garotos de dezessete e dezoito anos, fico feliz”, completa.
Questionado sobre escrever a respeito do universo do Paraná, Pellegrini compara: “se eu tivesse nascido em Pernambuco eu escreveria sobre Pernambuco, eu escrevi sobre o Paraná porque vim daqui”. Ele descreve ainda sua relação com a cidade onde cresceu. “Cresci ouvindo histórias do mundo rural. Acho que me considero contador de histórias antes de começar a escrever. Meu interesse veio desse mundo povoado de narrativas, que eu ouvia em conversas em Londrina”. E reforça seus vínculos com o lugar ao dizer que “a relação com o Paraná é uma relação de terra”.
Domingos Pellegrini iniciou sua escrita com treze/catorze anos com poesia. Considerou seguir outras carreiras, mas diz que sempre optou por caminhos em que pudesse de dedicar à literatura. O literato considera sua capacidade de escrita um dom. “Não é um mérito meu, o dom vem de uma loteria genética. Quem recebe o dom tem o dever de preservá-lo, usá-lo bem e aprimorá-lo, e isso eu tento fazer. Tem que compartilhar e estar atento às demandas sociais”, conclui.
Nenhum comentário