Tradição do carnaval em Ponta Grossa ainda (r)existe

Na noite quente de sábado (02) a Liga das Escolas de Samba de Ponta Grossa colocou quatro escolas para desfilar na Avenida Vicente Machado. O desfile aconteceu apesar da falta de apoio por parte do poder público. E teve muita participação popular, contrariando o que se costuma ouvir sobre a falta de interesse nesta festa. O público, bastante presente, invadia a todo momento a rua para abraçar, comemorar e sambar com as escolas.

O desfile de carnaval de Ponta Grossa não fica pra trás de outras cidades quando se trata de amor a essa manifestação cultural. “Enfrentar essa avenida com esse público maravilhoso. Sorrir pra quem merece, pra essas pessoas maravilhosas que estão aqui”, observa o Rei Momo do Carnaval de Ponta Grossa, Anderson Pedroso, a respeito da motivação para fazer o carnaval. Segundo sua majestade, o motivo da Prefeitura não apoiar o carnaval é desconhecido. “Nós fizemos tudo que a Fundação Municipal de Cultura pediu. Em 10 de dezembro do ano passado eles nos avisaram que não teriam como nos dar verba, mas que dariam toda a infraestrutura e questão logística para fazer o carnaval, e a gente vê que nem isso eles fizeram”, destaca Anderson.

Anderson Pedroso mais uma vez como Rei Momo do carnaval de Ponta Grossa.
| Foto: João Guilherme Castro

O desfile começou por volta das 21h, no cruzamento da rua Paula Xavier com a Avenida Vicente Machado. Quem conduziu foi o próprio Anderson, acompanhado da Susana Godoy, primeira rainha Trans do Paraná. Susana já está no posto desde 2015. O grupo ainda era composto pela rainha do carnaval 2019 e também pela musa do carnaval.

O que separava o público das escolas de samba era apenas a admiração. Nem um tipo de delimitação física, função que a administração pública deveria ter providenciado. “Na quinta-feira nos avisaram que não tinha como fechar as vias. Se você for nas esquinas estão lá os cones, porém o pessoal da autarquia não pode esticar os cones, não sei por quê”, questiona Anderson. Dado o início do desfile com a descida da realeza, as escolas de samba tomaram conta da avenida.

AMTT disse que não poderia fechar as vias, mas haviam alguns agentes. Ao fundo suas majestades abrindo o desfile | Foto: João Guilherme Castro

‘Baixada Princesina’ foi quem deu o pontapé inicial. As cores verde e branca coloriram a ‘Vicente’. Com o enredo “Raças e tradições”, a escola era mais econômica. Trouxe apenas mestre-sala e porta-bandeira, bateria e ala das baianas. Destaque para esta escola que trouxe para o desfile a baiana Dona Diva, de 94 anos. O segundo grupo a entrar foi a ‘Cidade de Olarias’. Com a equipe mais elaborada a escola apresentou várias alegorias, um número grande de passistas e fantasias mais diversificadas. A escola teve o enredo “Amor sublime amor”, que retratou diversas formas do sentimento. Amor à natureza, às pessoas, ao esporte, às tradições e ao país.

Seguindo a ordem do desfile vem a escola de samba ‘Ases da Vila’. O verde e o rosa encantaram o público. Os responsáveis pelo samba-enredo da escola foram os músicos do bloco ‘tranca-rua’. O enredo da escola era ‘Água, fonte da vida’. O diferencial da Ases foi a comissão de frente. A coreografia trazia quatro personagens indígenas exaltando a ‘mãe-água’. A escola teve participação especial do grupo do bloco ‘tranca-rua’ também no desfile, que seguiu até o fim da avenida. Para encerrar a noite, a escola de samba ‘Globo de Cristal’ trouxe uma homenagem ao seu eterno presidente, senhor Nelson Rodrigues, falecido no ano passado. Nelson foi um dos principais personagens na história da escola. O enredo foi ‘Eterno presidente’ em sua homenagem.

Comissão de frente da ‘Ases da Vila’ com o enredo “Água fonte de vida”
| Foto: João Guilherme Castro

Para o carnavalesco Claudinei Alves Pereira, da escola ‘Cidade de Olarias’, o desfile na avenida é a realização de um sonho. “A gente começou bem adiantado, já no ano passado, conseguiu por tudo isso na avenida, e todos vocês que são o publico que estão aqui pra nos prestigiar é um sonho realizado, é uma missão cumprida”, destaca.

Claudinei, carnavalesco da escola Cidade de Olarias, com a alegoria ‘O Brasil que eu quero’
| Foto: João Guilherme Castro

O artista plástico Celso Parubocz detalha a sua relação com o carnaval. “Eu nasci no bairro de Olarias no meio de três escolas. Nós fizemos um trabalho junto com a Universidade de resgate da história do carnaval, e esse trabalho acabou sendo abandonado.”

Para ele, o carnaval todo ano é de resistência. “A cidade tem uma história maravilhosa de carnaval, falta o poder público incentivar, porque o publico está aqui, a avenida está lotada e o povo quer ver o carnaval. Sempre é um desfile de resistência. Está no sangue, eles nunca vão parar”, finaliza o artista.

Mestre-sala e porta-bandeira da escola ‘Baixada Princesina’
| Foto: João Guilherme Castro

Carnaval pelos foliões

O público, indignado com a falta de incentivo do poder público, esteve presente para prestigiar os carnavalescos que deram de tudo para que a festa acontecesse. A professora Mariana Fuzinato veio de Naviraí no Mato Grosso do Sul e comenta que poderia ter tido algum investimento no carnaval. “Eu acho bem triste porque gasta-se com tanta coisa inútil e na valorização da cultura não se investe”. Mariana ainda se surpreende com a falta de incentivo do poder público e ressalta: “a gente estando aqui é uma forma de valorizar este trabalho que eles estão tendo”.

Com o fechamento do desfile o público ocupou a principal rua da cidade e provou que o ponta-grossense tem muito samba no pé e muita alegria.

Carnaval é cultura. Se é cultura, é Plural.

As costas do Brasil. Encerramento da escola Cidade de Olarias
| Foto: João Guilherme Castro

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