Eu acho que sempre fui feminista, mesmo sem saber

Sempre achei muita coisa que me falavam sobre o que era ser mulher errado. Como toda mulher fui criada pra ser dona de casa, mãe de família e uma moça direita. Cresci e vi que não quero ser nada disso, e o melhor, que eu posso ter essa escolha.

Hoje eu consigo parar e refletir sobre os momentos específicos da minha infância em que eu tomei decisões que tinham o caráter de uma feminista. Acho que o primeiro deles foi quando vários meninos da minha escola decidiram me atormentar puxando meu cabelo, já que eu usava ele num rabo de cavalo, e corriam igual loucos para o banheiro masculino pensando que lá estariam seguros da minha ira. Aliás, todas as meninas foram ensinadas que não deveriam de maneira alguma entrar lá. Mas não eu. Nunca tive medo de um mero espaço com uma placa que dizia “masculino”. Eu fui a menina que aprendeu a correr muito rápido pra ir atrás dos meninos que puxavam seu cabelo e que batia neles dentro do refúgio do banheiro só pra eles passarem vergonha. Pelo menos eles aprenderam a não mexer mais comigo.

Outro momento em que me vi feminista foi nas várias idas a diretoria por usar roupas curtas no colégio. Como eu vim de uma cidade litorânea sempre sofri bastante com o calor e justamente por ser “calorenta” nunca me acomodei em usar calças nos dias em que a temperatura mínima era de 29 ºC. Por esse motivo fui levada a diretoria várias vezes a pedido de uma diretora muito conservadora que dizia que ao mostrar minhas pernas eu distraia os meninos e que desta forma eles não iriam prestar atenção no conteúdo de sala de aula. Eu com uns 11 anos de idade achava um absurdo o fato de que as minhas pernas sem um tecido cobrindo elas eram motivo de castigo. Além do castigo óbvio de ir pra diretoria, eu achava um castigo enorme eu ter que usar calças no verão. Não conseguia compreender como uma calça justa como a legging era permitida, mas mostrar as pernas não. Essas idas a diretoria foram contínuas até o término do ensino médio. Ainda bem que isso nunca me abalou, nunca passei calor (mais do que deveria) e nunca fui expulsa por isso.

Sempre fui a menina que quando achava alguma injustiça confrontava os meninos. Já bati em muito menino que fez algo de errado pra mim. Já puxei muita orelha. Talvez essa fosse a minha maneira de conseguir com que eles me tratassem de igual para igual. Hoje não acho tão certo algumas decisões que tomei, mas sei que me tornaram a mulher feminista que sou hoje. Já brinquei de muita brincadeira de menino, já me vesti igual a um menino e já me comportei igual a um menino. Isso só me faz pensar o tamanho da repressão que nós mulheres vivemos. Hoje posso dizer que fiz tudo isso porque sou mulher. Porque eu posso brincar do que eu quiser, porque eu posso me vestir da maneira que eu quiser e que eu posso ter as mesmas atitudes que um homem tem. Hoje eu sei que “ser mulherzinha” não é xingamento e não é fraqueza. É um elogio que deve ser feito quando o assunto tratado é sobre ser incrível. Aliás, ser mulher é incrível.

Se eu pudesse dizer algo a pequena feminista que existia dentro de mim seria em não ter medo de ser quem eu sou por causa do meu gênero. Eu sei que muita coisa de ruim acontece por este mesmo motivo, mas isso não é certo. Não devemos pensar que somos inferiores e nos submeter a situações horríveis por isto. Uma coisa muito valiosa que eu aprendi nessa minha breve jornada foi que por onde você passa, uma mulher já passou pelas mesmas experiências que você então se esse texto serve de algum tipo de conselho paras as pequenas feministas que existem dentro de nós e que devem ser despertadas aqui vai: Não se deixe apagar a luz de dentro de você por medo de viver, por medo de ser mulher. Cuide de si mesma, esteja rodeada de mulheres, consuma coisas feitas por mulheres. Muita coisa da nossa história foi apagada, não vamos deixar que isso continue deste jeito. Seja quem você quiser ser e ajude mulheres a entender que elas podem também ser quem elas quiserem. E como disse Mary Kom “Não diga que você é fraca, porque você é uma mulher”.

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