Como parte da programação do ciclo “Descomemorar Golpes”, foi realizado na noite de quarta-feira (27), no Pequeno Auditório do Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa, o painel “Diálogos Jornalismo, História e Literatura”. No encontro se discutiu a biografia de Marighella e a sua importância como personagem político durante o período da ditadura militar no Brasil. O debate contou com a participação das professoras de Jornalismo Hebe Gonçalves (UEPG) e Karine Vieira (Uninter) e do professor Paulo Mello (UEPG), do curso de História.
O baiano Carlos Marighella foi guerrilheiro e político aliado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro). Durante o golpe militar teve grande engajamento nas lutas sociais, quando foi líder da Aliança Libertadora Nacional (ALN), a maior resistência armada à ditadura. Em 2012 foi publicado o livro “Marighella: O Guerrilheiro que incendiou o mundo”, escrito pelo jornalista Mário Magalhães, resultado de um trabalho que durou nove anos. A obra inspirou o filme de Wagner Moura, também lembrado no debate, lançado este ano no Festival de Berlim, que destaca os últimos anos da vida do guerrilheiro até sua morte.
A professora Karine Vieira, que fez um estudo com base no livro de Mário Magalhães e outras biografias, ressalta o desafio do autor em representar Marighella como deveria ser visto: “herói de seu tempo”, que muitas vezes foi deixado em esquecimento. “Ele foi uma figura importante que não pode ser apagada da história. Isso é um fato e a gente tem que discutir quem ele foi, seus erros e acertos”, observa a painelista.
Tanto o livro quanto o filme receberam críticas e este aspecto foi abordado no debate. Um caso que chamou a atenção foi o fato do filme ter avaliações negativas na plataforma IMDB por parte de usuários brasileiros, já que o filme ainda não foi lançado no país. O professor Paulo Mello comenta que essa visão pode estar associada à cultura do conservadorismo, presente não apenas no período ditatorial, mas também em outros movimentos. “Essa cultura demoniza a atuação de lideranças que lutam pelas classes sociais, o que gera uma destruição da memória cultural”, diz.
Os painelistas consideram que a realização de debates como esse são essenciais, já que existe uma prática de apagamento e do “não-dizer” sobre a ditadura. De acordo com Karine Vieira, é necessária uma militância que pregue pela verdade e motive as pessoas a buscarem a veracidade das informações e desconfiarem do que leem nas redes sociais.
As atividades do ciclo “Descomemorar Golpes” se encerram na sexta-feira (29), com a realização de um painel sobre “O ensino de história e a ditadura”. O encontro acontece no Campus Uvaranas da UEPG, às 14h.
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