No globo da vida o picadeiro é centro de histórias

Por Lorena Panassolo

“Eu sou de circo, de um circo antigo, eu sou de um riso que ainda não veio. Meio palhaço, palhaço e meio”. Erimeide Zanchettini, com seu longo vestido brilhante, apresenta elegantemente as atrações. No picadeiro, desde muito nova, ela, junto de mais sete irmãos, comanda o circo deixado pelos pais, Wanda Cabral Zanchettini e Primo Júlio Zanchettini. Ambos fundadores do circo há mais de meio século, deixaram de herança para os dez filhos de sangue e os 14 adotados a arte circense.

Três gerações e uma tradição de família, o Circo Zanchettini leva magia, alegria e emoção do Sul ao Centro-Oeste, e se difere de outros espetáculos por suas apresentações sem tecnologia, mantendo as raízes como um circo tradicional. Na atração com elementos mais atuais temos um record, com o apito, Marcia Zanchettini pilota o globo da morte há 29 anos e comanda os outros globistas. Vermelho, azul, verde, amarelo e branco, as luzes de led dão mais emoção ao espetáculo, que deixa crianças e adultos pensativos, com os olhos brilhando e o coração disparado: “como eles conseguem?”, sussurram duas amigas na plateia.

Paraná, São Paulo, Goiás. Brasil, Paraguai e Bolívia. Por onde passa, a família tira risos e prosas, e em cada cidade deixa uma amizade. Entre palhaçadas e alegrias, a harmoniosa família também já passou por dificuldades, seja com o início do circo, seja com as restrições no período da ditadura militar.

De lá para cá, ainda é difícil ser artista no Brasil. Um circo é uma empresa, que paga imposto, aluguel de terreno, luz e água. A burocracia é grande em cada local por onde passa. “Nós temos todas as documentações do circo, o circo é uma empresa, todos nós temos MEI (microempreendedor individual). Cada um tem CNPJ, então a gente existe”, explica Anaise Zanchettini.

Mesmo com as dificuldades, os integrantes carregam o orgulho e o amor pelos picadeiros e levam cultura para a população. “A cultura mais antiga que tem é o circo, olhe pelas fotos, olhe o filme do Charles Chaplin no circo”, relembra Silvio Zanchettini.

 

“AI QUE ÓDIO”

A chegada do circo na cidade causa burburinhos, logo todos querem saber quando se iniciam as apresentações e não demora muito para a população sair falando os bordões. O mais famoso deles é o “ai que ódio”, do palhaço Pequi, interpretado por Amauri Zanchettini, 57 anos.

Os números mudam conforme os dias das apresentações, que acontecem nos finais de semana. Palhaços, acrobatas, malabaristas, globo da morte, balé e até apresentações musicais acontecem no picadeiro. No penúltimo dia dos circenses na cidade, um dos shows mais marcantes foi o de engolir fogo, além do globo da morte que acontece em todos os dias de espetáculo e rouba a cena por ser o mais impressionante.

            Mas o diferencial é o carinho e a amizade que os artistas têm com o público. Durante a estadia na cidade de Teixeira Soares, as crianças da escola foram convidadas para ensaiar ballet e no último sábado de apresentações algumas meninas, com a ajuda da pequena Andressa Zanchettini, se apresentaram no picadeiro, realizando o desejo de crianças e adultos que um dia sonharam em se apresentar no picadeiro. 

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