Último ato do Fenata 2011

19:45 da noite. No último dia do Fenata, uma das imagens que mais pode dar um parâmetro de como foi a relação do público com o festival não estava no palco. Tampouco nos assentos lotados do Cine Teatro Ópera. Do lado de fora do teatro, pessoas aguardavam pelo aparecimento de algum ingresso que permitisse a entrada delas para assistir o último dia do festival de teatro.

O professor Antonio Queiroz ou (como ele mesmo se autodenomina) Professor Queiroz aguarda estático na bilheteria já vazia do Ópera: “Estou aqui há cerca de 15 minutos. Como não tinha certeza se viria, deixei para comprar o ingresso em cima da hora. Mas não deu certo”. Os ingressos haviam terminado na tarde do dia 11 e a última esperança do professor de português era que aparecesse alguém desistindo de entrar e querendo vender uma entrada.

Um dos motivos que despertaram o interesse de Queiroz é a peça convidada para o último dia de espetáculo. Vindo de Moçambique, a peça A Cavaqueira do Poste do grupo Lareira é a atração internacional do Fenata. O próprio local de origem dos atores chama atenção do professor: “Os negros são a base da cultura brasileira. É sempre bom ver como é uma cultura diferente”.

O tempo passa e mais algumas pessoas vão em direção à sala de espetáculo. A maioria já tinha o ingresso na mão. Leandro, o segurança do local, já está acostumado com a quantidade de pessoas: “neste ano, todos os dias lotaram. Houve um grande crescimento do movimento em relação ao ano passado ou mesmo ao Fuc”, diz o segurança, que é um dos mais indicados para avaliar o fluxo de pessoas no festival.

Chega 20:30. Os nomes dos vencedores estão sendo anunciados no lado de dentro do Ópera e a peça “importada” já se prepara para entrar em cena. O professor Queiroz decide voltar para casa. Infelizmente, ninguém desistiu de entrar no espetáculo. Para ele, Fenata só no ano que vem.

Sobre a peça Cavaqueira do Poste

“A cavaqueira do Poste” foi uma peça encenada pelo Grupo de Teatro Lareira, Moçambique que encerrou a 39º edição do FENATA. A peça faz parte do VI Circuito de Teatro em Português o texto da obra escolhida para a apresentação e de Sérgio Mabombo que também atua na peça ao lado de Diaz Santana.

“A cavaqueira do Poste” a princípio é uma releitura da peça “Esperando Godot” de Samuel Beckett. No texto de Sérgio Mabombo a trama começa a partir da vida de dois mendigos que vive na praça ao lado de um poste e estão à espera do milionário Drumond Galaska, que promete ajudar a Tendeu (Diaz Santana) e Calvino (Sérgio Mabombo). Tendeu é um homem que teve seus braços amputados pela guerra civil africana, enquanto Calvino ficou cego por um acidente de trabalho e os dois mesmo com as dificuldades na miséria completam se em suas deficiências para um ajudar o outro.

Tendeu é um homem lúcido que tenta mostrar a Calvino os problemas da crise mundial e o impacto que a crise causa nas vidas dos dois. No entanto a discussão sobre as origens da crise e apenas um pano de fundo para a trama, pois a miséria e as condições subumanas de existência e o que move toda a história de “A cavaqueira do Poste”.

A peça é um misto de cômico com drama, mas ao contrário da proposta existencialista de “Esperando Godot” a discussão de “A cavaqueira do Poste” se mantém sobre a pobreza e a má distribuição de renda pelas nações. A crise do poder econômico passa a ser algo mais comum e concreto para um público que não conhece a realidade dos países africanos. No fim da peça Calvino acaba por ser abandonado por Tendeu que desacreditava na vinda de Drumond Galaska. Apesar do fim tragicômico “A cavaqueira do Poste” é uma ótima peça para quem deseja ter um choque cultural e lingüístico do universo africano, português e brasileiro.

Reportagem de: Edgard Matsuki e Gildo Antonio

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