Na noite de sábado (23), às 20h, o Centro de Estudos Cênicos Integrado (CECI), apresentou pela última vez sua adaptação teatral de um dos grandes clássicos de William Shakespeare, ‘A Megera Domada’. A peça, dirigida e produzida pelo professor Kaio Gomes Bergamin, integra a 13° Mostra CECI em CENA, realizada semestralmente pela escola para apresentar ao público os trabalhos desenvolvidos pelos alunos nas áreas de canto, dança e teatro.
Por ser uma turma de iniciantes, Kaio explica que optou por abordar uma obra clássica, realizando uma contextualização prévia a respeito da história do teatro. Durante as aulas a turma discutiu sobre o teatro Elisabetano e o trabalho de William Shakespeare. A partir disso, a ideia de representar ‘A Megera Domada’ surgiu justamente pela produção ser considerada um marco na carreira do escritor. Ele também defende que, além de encenar Shakespeare, todo estudante de teatro deve trabalhar com as obras de Nelson Rodrigues, considerado o mais influente dramaturgo do Brasil.
Para o professor, o estudo do texto e das falas em ‘A Megera Domada’ foi crucial para que os alunos conseguissem entender o que Shakespeare quis transmitir séculos atrás em sua produção literária. E justamente por ser um texto muito antigo, o desafio era trazer para os dias de hoje de uma forma que o público compreendesse a obra com clareza. “O ator tem que entender perfeitamente o que ele está dizendo para que ele consiga se comunicar corretamente com seu público”, comenta.
Na história, Catarina é a filha mais velha da Senhora Batista, caracterizada por um temperamento terrível e por recusar todos os pretendentes que se aproximam dela. Bianca, a filha mais nova, e que possui uma personalidade completamente diferente da irmã, sonha em se casar. Porém, isso só poderá acontecer quando Catarina se casar. Petruchio, um homem tão temperamental quanto Catarina, decide pedir sua mão em casamento, pensando no bom dote que lhe seria dado. Assim, a trama gira em torno das ideias mirabolantes de Petruchio para conquistar e domar a megera.
Maria Eduarda Teixeira Anhaia foi a aluna encarregada de interpretar a emblemática protagonista de ‘A Megera Domada’. Para a aluna, Catarina tem grande importância nas questões de representatividade e empoderamento da mulher, justamente por quebrar um dos grandes tabus da época em que a narrativa foi escrita: o casamento arranjado. “Shakespeare criou uma personagem muito à frente de seu tempo, feminista, forte, decidida e esperta. Ele lançou de uma forma discreta a ideia para todas as mulheres da época que liam o livro ou assistiam a peça, de que elas não deveriam casar por obrigação, mas sim por amor”, afirma.
A estudante de teatro e integrante do elenco da peça, Vitória Rosa da Silva, conta que quando era criança tinha participado de algumas encenações na escola, mas seu interesse pela dramaturgia cresceu somente aos 17 anos. “Eu sempre gostei de escrever histórias, então comecei a pensar no teatro para poder contá-las de uma forma que eu não era acostumada e também para trabalhar a minha timidez”, destaca.
Vitória também relata momentos marcantes durante a produção do espetáculo, como o exercício de ler o script com uma caneta na boca, ouvir músicas da cantora P!nk com seus colegas nos bastidores enquanto fazia cabelo e maquiagem e a tradição da escola em que os atores comem uma maçã no camarim antes de subir no palco para limpar as cordas vocais.
Sobre as cenas favoritas dos atores durante a peça, Vitória relembra o momento em que Petruchio e Catarina brigam em sua cerimônia de casamento. “Eu achei essa parte muito engraçada, e o legal dela é que ela foi improvisada. No original a Catarina e o Petruchio cumprimentavam os convidados normalmente, a parte deles brigando e disfarçando depois foi ideia dos atores”, finaliza.
Já a estudante Maria Eduarda, intérprete de Catarina, escolheu a última cena como sua predileta, onde a protagonista se aproveita de uma situação provando que mesmo após casar com Petruchio e fazê-lo acreditar que ‘amansou a megera’, ela nunca perdeu sua personalidade forte e sua perspicácia. “Ela foi uma cena difícil de entender e acreditar. Não entrava na minha cabeça como a Catarina que passa a peça inteira se negando a casar, acaba sendo ‘domada’ no final. Então o diretor explicou que não seria uma submissão de fato, que ela saberia de tudo e como muitas mulheres daquela época, ela também foi obrigada a casar, mas tentaria tirar proveito daquela situação. Depois de saber disso, me apeguei mais a essa cena, e no final a gente percebe que em nenhum momento a megera foi domada”, frisa.
A diretora da escola CECI, Heloísa Frehse Pereira, comenta que além da 13° edição da mostra a agenda de apresentações deste ano também engloba o 3° ‘CECI Reencena’, um projeto que recria peças que já foram encenadas na mostra, porém com uma estética diferente e novas turmas. “Nesse momento a gente aproveita para convidar os alunos que fizeram parte da primeira apresentação. Eles vem até aqui e relembram todo o momento que eles passaram naquela peça, onde a dramaturgia é a mesma, porém com algumas mudanças porque cada turma tem a sua personalidade”, explica.
Conhecida na cena teatral ponta-grossense por “Dona CECI”, Heloísa é fundadora, idealizadora e diretora da escola. Completando 6 anos de atuação em Ponta Grossa, o CECI têm sua sede na Rua Doutor Colares, 811, Centro. A programação da 13° Mostra CECI em CENA vai até 4 de dezembro.
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