O projeto “Antes que o mundo acabe” promoveu a exibição da peça “Quarto de despejo”, na última terça-feira (26). A apresentação aconteceu no Phono Pub. O monólogo teve como inspiração a obra da escritora mineira Carolina Maria de Jesus e foi interpretada pela artista Ligiane Ferreira. “Antes que o mundo acabe” é uma parceria entre o Coletivo Artemoia e o Phono Pub, com produção do Ateliê Criativo – Espaço de Criação e Pesquisa em Arte.
Mayã Campos faz parte da organização do coletivo e também do projeto “Antes que o mundo acabe”. Segundo Campos, a iniciativa tem como objetivo a valorização da cultura e dos artistas independentes de Ponta Grossa. “Tanto a peça quanto outros artistas que passaram pelo projeto, tem uma importância muito grande. Eles estão produzindo arte em um momento que existe uma escassez, uma petulância e um preconceito com as artes no país” destaca a organizadora. Para poder participar do projeto basta entrar em contato pelo e-mail artemoia01@gmail.com.
A peça ‘Quarto de Despejo’
A peça trata de questões como pobreza, racismo estrutural, conceito de mulher periférica e a maternidade de uma mulher solteira. A releitura do livro de Carolina de Jesus é composta por vivência de Ligiane Ferreira, cuja história relembra experiências enfrentadas pela autora.
Dando introdução à peça, é usada a música “Cota não é esmola” da cantora Bia Ferreira. Em seguida, Ligiane pede ao público que escreva nos braços da atriz as palavras: mulher, pobre, negra, favela e escritora. No decorrer da peça é enfatizada, de forma poética, a alma de escritora da personagem periférica Carolina, além de mostrar seus devaneios e sonhos. Carolina buscava de forma incessante por conhecimento, tinha “cabeça de poeta”. A peça é cercada por questionamentos que levam a uma crítica social. Trechos da obra original são incorporados ao espetáculo, assim como a repetição da frase: hoje não tinha o que comer.
O livro quarto de despejo: Diário de uma favelada é a história da vida da escritora Carolina Maria de Jesus, que viveu na favela do Canindé, em São Paulo. A obra relata o cotidiano da autora e como ela sobreviveu sendo catadora de lixo.
Ligiane Ferreira, relata que enfrentou dificuldades para a produção da peça tanto no âmbito técnicos quanto no financeiro. Quando leu o livro de Carolina Maria de Jesus já acreditava no potencial da obra para se tornar uma peça teatral. Embora, percebesse a urgência da personagem Carolina em se situar como escritora, também via a necessidade de falar da questão da fome de maneira evidente. Sem anular ambos os elementos.
Em relação à parte financeira, Ligiane participou do edital da seletiva de apoio a projeto da prefeitura de Ponta Grossa, mas aconteceu um equívoco durante o processo. A atriz foi supostamente selecionada e apenas dois dias antes do pagamento da primeira parcela do edital, recebeu a notificação de que o seu projeto não teria sido um dos contemplados. “Eu acho que é um desrespeito, porque o artista em Ponta Grossa tem uma produção mínima, mas que gera um grande movimento, que não vem sendo valorizado” analisa.
O cenário foi idealizado pelo artista Sebastião Natalio, que diz ter optado por um cenário minimalista. Natalio fez o retrato da personagem Carolina em papelão, e deu destaque às expressões no olhar da personagem. “Usar o papelão ao fazer o retrato, remete à história de Carolina, o fato dela catar papel, catar recicláveis, é uma forma de ligar meu trabalho as suas características” explica o artista.
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