Renda mensal de feirantes da IESol cai 80% durante pandemia

A Feira da Economia Solidária, que acontece há nove anos no pátio da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), agrega mais de 10 produtores do município e região. De acordo com os feirantes, a arrecadação mensal caiu 80% desde o início da pandemia do novo coronavírus. A Universidade foi fechada por medidas de contenção do vírus e isso impactou no sustento dos trabalhadores.

A última feira aconteceu no dia 12 de março. Desde então, os membros da Associação de Feirantes de Economia Solidária (AFESOL) confirmam a redução na geração de renda do grupo. “Nossa arrecadação está bem menor. Quase nada, praticamente. Esse dinheiro faz muita falta”, enfatiza a costureira Maria Alice de Oliveira.

Helena Gonçalves comercializa artesanato e produtos alimentícios. A renda conquistada pela feirante garante a manutenção do sustento familiar. “Com o dinheiro a gente pagava algumas contas, além de comprar remédios e alimentos. A gente precisa dele para sobreviver”, ressalta.

Além dos artigos individuais, os feirantes também comercializam produtos coletivos, como bolsas de lona confeccionadas a partir de malotes doados pelo Banco do Brasil. O dinheiro obtido com o comércio desses itens é destinado ao pagamento de despesas da AFESOL.

Com a diminuição nas vendas, o pagamento do aluguel da associação está atrasado há dois meses. Já a tarifa de água não é paga desde março. O acúmulo de dívidas obrigou os feirantes a desocuparem o espaço alugado e a transferirem os móveis e equipamentos do grupo para a casa de uma das associadas.

Sede da associação era localizada no bairro Órfãs | Foto: Janete Salles/AFESOL

Durante a pandemia, uma estratégia utilizada pelos grupos de economia solidária para dar continuidade às vendas é a divulgação de produtos e serviços nas redes sociais. Outra alternativa temporária encontrada por Maria Alice e outros feirantes foi a confecção de máscaras. “No início até que eu vendia bastante, mas a procura diminuiu, já que muita gente comprou”, relata.

Mesmo com a comercialização online, Helena Gonçalves menciona que as vendas são reduzidas. Outra maneira de complementar a renda da feirante foi a solicitação do auxílio emergencial do Governo Federal. Embora tenha o benefício garantido, a feirante está preocupada. “A próxima parcela vai ser a última. Depois eu não vou ter renda para pagar minhas dívidas”, desabafa.

A coordenadora da Incubadora de Empreendimentos Solidários da UEPG (IESol), Reidy Rolim, acredita que o uso das redes sociais para comercialização é uma forma de fortalecer os princípios da economia solidária. “Novos consumidores começaram a fazer parte da nossa rede de comercialização e adotaram novos hábitos, como o consumo consciente e responsável”, observa.

O Cultura Plural preparou uma lista com os serviços oferecidos pelos grupos e os canais de contato de cada um.

Além do aspecto financeiro, Maria Alice ressalta que a convivência na universidade faz falta no cotidiano dos feirantes. “Além do contato com os alunos, nós tínhamos nossas amizades, mas também conhecíamos pessoas novas”, afirma a costureira. “Eu ficava muito feliz quando chegava o dia da feira. O tempo que a gente passava ali era muito bom”, completa.

Iniciativa para amparar empreendimentos

A Incubadora de Empreendimentos Solidários da UEPG (IESol), responsável pela incubação da AFESOL e de outros grupos, realiza uma iniciativa para reduzir os impactos provocados pela pandemia. Através da plataforma Vakinha, o programa de extensão arrecada doações em dinheiro. A ideia da ação solidária surgiu em uma reunião na primeira semana de distanciamento social, quando foi constatado que membros da economia solidária poderiam enfrentar complicações.

Primeiramente serão atendidos os grupos que possuem mais dívidas com cobrança de juros. O dinheiro também será usado para aquisição de matéria-prima necessária para confecção de produtos comercializados por meio de iniciativas econômicas solidárias. Parte do valor arrecadado ainda vai ser destinado ao deslocamento de grupos que não são de Ponta Grossa, mas realizam ações na cidade.

A coordenadora da IESol lembra que alguns grupos incubados tiveram suas fontes de renda comprometidas devido às medidas de distanciamento social. “Em alguns casos, a única renda de uma família vem do que é produzido pelos trabalhadores da economia solidária. Agora muitos estão com dificuldades para vender”, ressalta.

Programa de extensão da UEPG possui 15 anos de atuação | Foto: Divulgação/IESol

A partir dessa iniciativa, a IESol espera fomentar a geração de renda dos empreendedores solidários durante a pandemia da Covid-19 e, posteriormente, garantir a autossustentação dos grupos incubados. “A vaquinha é uma alternativa emergencial. Ela não resolve o problema, mas ajuda a diminuir os impactos causados pela pandemia”, ressalta Rolim.

As contribuições podem ser feitas até o dia 20 de junho. O valor mínimo para doação é de R$ 25 e pode ser pago via boleto bancário, cartão de crédito ou através dos serviços de pagamento PayPal e PicPay. A meta é arrecadar R$ 5 mil. Com essa quantia, a IESol espera ter caixa suficiente para ajudar os grupos até o fim da pandemia.

Ajuda no combate ao novo coronavírus

Em parceria com o projeto “Protetor Facial”, da UEPG e da UTFPR de Francisco Beltrão e de Ponta Grossa, a IESol distribuiu mais de 200 máscaras para os participantes dos grupos de economia solidária. No momento da entrega também foram feitas orientações em relação às medidas de prevenção à Covid-19.

A ação visa garantir a proteção dos trabalhadores que necessitam sair às ruas para realizar suas atividades. Os protetores faciais vão beneficiar sete grupos incubados e assessorados pelo programa de extensão e também a entidade Cáritas Diocesana de Ponta Grossa, além da equipe da IESol.

Associação de Recicladores Rei do Pet (ARREP) recebeu 42 máscaras | Foto: Reidy Rolim/IESol

A Incubadora de Empreendimentos Solidários também atua na distribuição de cestas básicas pela UEPG através da indicação de famílias em situação de vulnerabilidade. A Associação de Recicladores Rei do Pet e a Associação dos Campos Gerais de Jardinagem são grupos apoiados pela IESol que receberam doações.

Os alimentos e produtos de higiene foram doados pela própria Universidade e também por empresas de Ponta Grossa. Contribuições podem ser feitas por qualquer pessoa através de depósito em contas bancárias da Fundação de Apoio à UEPG (FAUEPG). Mais informações estão disponíveis na página da instituição (www2.uepg.br/covid19/).

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