Neste momento de Pandemia, os integrantes da Apla estão fazendo seu melhor para manterem a comunicação entre si, e a costumeira atuação no segmento cultural. Mas não está sendo fácil, a partir da própria casa, apenas com equipamentos elementares disponíveis, nos transformarmos de simples ativistas culturais a técnicos em informática, cenógrafos, roteiristas, diferentemente das habituais participações que invariavelmente se resumiam em reunirmos os talentos individuais.
Em nossa casa, Silvestre Alves preparou com cuidado o cenário para sua apresentação no 1º Festival Virtual da Apla, Ô de Casa: fez o fogo na lareira, posicionou o banquinho e o tripé com o celular, testou a iluminação, preparou o chimarrão, e até ajeitou o cantinho do Neco. Por ser eu a autora da letra da música escolhida, Ventaneiro, convidou-me para participar da cena, servindo e tomando chimarrão.
Neco requer uma apresentação de importância:
Quando Silvestre escrevia seu romance regionalista, com contexto nos anos oitenta do século XIX, promoveu, no enredo, o nascimento de um filhote do cachorro companheiro do protagonista, que havia morrido em consequência de inflamações por espinhos de ouriço. Ajudei a escolher o nome do bichinho, inspirado num personagem coadjuvante, que era conhecido por Maneco, cujas características são bastante pitorescas, incluindo um grande medo, pavor até, de assombração. Como era um parceiro de lida do protagonista, este deu ao novo companheiro canino o nome de Neco.
Fazia dias que eu tentava convencer Silvestre de adotarmos um filhote pretinho com olhos castanhos que pediam carinho, que uma conhecida havia abrigado até encontrar um lar para ele. Eu sabia que Silvestre gostava de cães, mas não estava animado com a ideia de um filhote aprontando em casa. Então tive uma ideia para convencê-lo: “Ele pode se chamar Neco, como o personagem do seu livro”. Deu certo!
Voltemos ao dia da gravação do vídeo para o Festival Virtual da Apla. Lá pela terceira tentativa de uma boa gravação, já no finalzinho, eis que minha filha chamou por nós aos brados, do pátio do condomínio, pois queria nos oferecer pipocas de polvilho que tinha acabado de tirar do forno. E lá se foi a gravação, contaminada com essa interferência. Aproveitei para incrementar o cenário, colocando na mesa, perto da chaleira e da cuia, uma bandeja com duas lindas pipocas de polvilho. Deixei a bandeja bem na beira da mesa, para que ficasse em evidência.
Ao iniciamos a quarta gravação, estranhamos a ausência do Neco, no seu cantinho, e quando me dirigi à mesa para me sentar e servir o chimarrão, o que fazia parte da minha performance… havia apenas uma pipoca na bandeja. E Neco apareceu no meio da filmagem, fingindo que nada tinha acontecido… E eu arranjei mais uma tarefa: continuísta, pois precisei ficar com um olho no Neco e outro na pipoca de polvilho restante, para que não sumisse, também, até o final da gravação.
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