Maria Deolinda da Silva, uma das coroadas como rainha do rádio de Ponta Grossa

Entrevista: João Quacquio | Edição: Nadine Sansana

A entrevista com a radialista Maria Deolinda da Silva foi realizada, em 2005, pelo então estudante de graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), João Quacquio, como parte do seu trabalho de conclusão de curso.
Maria Deolinda iniciou sua participação no rádio em 1970 quando foi assistir, pela primeira vez, um programa de auditório na Rádio Difusora. Deolinda conta que, no dia, estavam escolhendo pessoas para participar do concurso anual de rainha do rádio. Como apenas meia dúzia de moças subiu ao palco para concorrer e os dirigentes acharam que eram poucas moças, saíram no auditório escolhendo algumas para participarem: Maria Deolinda foi uma das escolhidas. “Houve um desfile e eu ganhei por aplausos. Cerca de duas semanas depois, fui coroada. Foi muito importante para mim.”

Como eram esses concursos de rainha do rádio? Eram sempre assim como a senhora falou?
Eles convidavam algumas moças para subir ao palco. Mas acho que muitas moças eram tímidas e poucas subiam. Então, eles desciam no auditório e convidavam outras para participar.

Como era visto o concurso de rainha do rádio? Algumas famílias tinham uma certa resistência, não deixavam a filha participar?
Eu não sei bem dessa parte, porque por parte dos meus pais nunca houve nada que impedisse. Eu acredito que naquele tempo os pais tivessem um controle muito maior dos seus filhos do que hoje.

A senhora chegou a participar de algum programa de auditório ou lembra de algum que foi marcante?
Eu lembro que uma vez ou duas eu vim com a minha família na Rádio Clube. Também na mesma época mais ou menos. Naqueles tempos a gente não tinha muita opção de lazer e divertimento. Havia vários programas de auditório nas emissoras, no sábado e no domingo. Eu lembro que assisti uns dois shows. Para mim, foi muito bom.

Era show de calouros?
Não. Era show comum, com músicas caipiras. Com calouros, eu não tenho lembrança. Esse que eu vi era com duplas, trios.

Mas havia programas com show de calouros?
Tinha um programa aos domingos de manhã, na PRJ 2, às nove da manhã, de calouros infantis, o Programa do Tio Fred.

Quem era o Tio Fred?

Tenho quase certeza que era o Luiz Frederico Daitschmann.

Como era esse programa? Tinha brincadeiras?
Ele fazia muitas brincadeiras com as crianças. Era como se fosse um programa de calouros, porque cantava meninas e meninos, bem pequenas. Não chego a lembrar o máximo de idade, mas eram bem novinhas.

A senhora lembra de alguma radionovela?
Existia radionovela todos os dias, de segunda a sexta, às 14 horas. Lembro que as senhoras escutavam novela. Eu fiquei sabendo agora que muitas, a maioria escutava quando seu marido estava trabalhando. Na época, grande parte deles não deixava que as suas mulheres escutassem. Até mesmo ler romances. Eu lembro que tinha revistas, as fotonovelas que eram lidas escondidas. Quando era criança, eu escutava e acho que minha mãe também escutou. Mas eu me recordo que no finalzinho dos anos 1960 acompanhei uma radionovela. Não me lembro em qual rádio foi. O título era Rainha sem coroa. Era uma história muito bonita.

O rádio chegou a mexer bastante com o imaginário das pessoas? Por exemplo, se tinha um radialista do outro lado com aquele vozeirão, mexia um pouco com imaginário das mulheres?
Ah, mexia. Eu vejo por mim, porque quando eu escutava o vozeirão do locutor… Acho que isso acontece até hoje, no momento que a gente ouve uma pessoa que não conhecemos por aquela voz, ficamos com vontade de conhecer. Eu acredito que muitas jovens, até mesmo senhoras sentiram muitas emoções ouvindo esses vozeirões.

Que tipo de música se tocava mais naquela época?
Eu lembro que a minha família – venho de uma bem simples – gostava mais da música caipira, regional. Eu gostava muito de um programa da PRJ 2 de músicas mexicanas. Ia ao ar todo sábado, acho que às 20 horas. Tinha um apresentador, mas não me lembro. Por conta desse meu gosto, eu e meu pai quase brigávamos, pois só tinha um aparelho em casa. Ele queria escutar uma coisa, minha mãe queria outra e eu queria esse programa. No final das contas, a gente resolveu que seria um sábado de cada um.

A série de entrevistas com profissionais que atuaram e atuam no rádio pontagrossense é fruto do trabalho da estudante Nadine Sansana, orientada pelo professor Sérgio Gadini, pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Ponta Grossa, vigente entre os anos de 2018 e 2019. Sob o título Memórias de vida e trabalho na mídia regional dos Campos Gerais do Paraná, o projeto contribui com o acervo memorialístico radiofônico da cidade, tendo em vista a ausência de arquivos, registros e documentos sobre a história do rádio em Ponta Grossa.



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