Estação Paraná deve abrigar Museu da Ferrovia e do Operário Ferroviário

Por Ana Luiza Bertelli Dimbarre e Jessica Allana Grossi

O prédio da Estação Paraná, localizada no Complexo Ambiental Governador Manoel Ribas, está em processo de negociação com a Prefeitura Municipal para que funcione como um museu. Órgãos e associações da cidade se mobilizaram para garantir que o prédio histórico fosse utilizado para fins culturais. A proposta é que o espaço venha a se tornar um museu do Operário Ferroviário Esporte Clube ou um Museu da Ferrovia.

A Secretaria de Cultura do Paraná enviou um documento recomendando que a Prefeitura de Ponta Grossa não descumprisse a lei Municipal 13026/2017, que assegura no artigo 7° que “imóveis de uso cultural do Município (Estação Saudade, Estação Arte, Mansão Vila Hilda, Estação Paraná, Casa da Dança, Cine Teatro Ópera, Centro de Cultura e Concha Acústica Carlos Gomes) permaneçam dentro da área de cultura com finalidade de valorização cultural e histórica da cidade”.

Niltonci Chaves, diretor do Museu Campos Gerais, aponta que a articulação para viabilizar a destinação cultural da Estação Paraná foi feita pelo reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Miguel Sanches Neto, envolvendo a UEPG, o Operário e a Prefeitura. “A proposta é que o Museu da Ferrovia e do Operário Ferroviário seja concebido em parceria com o Museu Campos Gerais e se configure em um espaço cultural e turístico no centro da cidade”, diz Chaves. Ele ainda relata que a ideia do projeto é garantir a manutenção e preservação da Casa da Memória, considerada patrimônio histórico da cidade. O processo está em fase inicial e depende dos ajustes com relação ao compromisso e às responsabilidades das partes envolvidas.

A Associação de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural (APPAC) está participando das negociações sobre o destino do prédio. A ideia original da APPAC era que o local se tornasse um Museu Ferroviário devido à sua história.

Leonel Brizolla Monastirsky, vice presidente da APPAC e pesquisador sobre patrimônio cultural e memória social, afirma que garantir a funcionalidade cultural do prédio, mesmo que através de um museu exclusivo do Operário, é mais interessante do que deixar o uso do espaço para a Polícia Militar. A ideia original da APPAC era ter apenas uma ala ao Operário no Museu Ferroviário, já que a história do clube se liga intimamente com as ferrovias de Ponta Grossa.

Monastirsky conta que no final do século XIX foram criados mais de 110 times de futebol ligados às ferrovias do Brasil e que o Operário é um deles. “Todas as cidades ferroviárias que tiveram a implementação de ferrovias inglesas tinham times de futebol e não foi diferente em Ponta Grossa. Então ali do lado das oficinas [dos trens], como meio de diversão, de lazer dos funcionários, estava essa prática do futebol que os ingleses introduziram”, explica o pesquisador.

O Operário foi criado no ano de 1912 e conta com 108 anos de história. Thiago Moro, diretor de Comunicação da Associação Avante Fantasma (AAFA), comenta a importância de um museu para o clube, mas considera que a Estação Paraná não é um bom local. “O local ideal seria a construção de um espaço específico para tal finalidade no próprio estádio Germano Krüger. Mas como este é uma área privada, tal espaço dependeria de iniciativa do próprio clube, e não pública como foi cogitado”.

“O museu ferroviário para Ponta Grossa é urgente”, diz Monastirsky

Segundo o pesquisador, a criação de um museu para os ferroviários é necessária, pois há um número expressivo de ferroviários, filhos, netos e bisnetos de ferroviários. A história das ferrovias está intimamente ligada à cidade de Ponta Grossa. “Talvez hoje as gerações mais novas não saibam disso, porque infelizmente a história não é contada”, observa Monastirsky.

Toda a produção de madeira e erva mate da região do Paraná vinha de carroça até Ponta Grossa e chegava pelos trilhos a Paranaguá. Em 1892, a Estação Paraná foi criada sendo uma das mais antigas do Estado. Logo em seguida, outra empresa decidiu construir uma linha entre Rio Grande do Sul e São Paulo que passava por Ponta Grossa. “Em 1906 foi criada a Estação Ponta Grossa, aquela que as pessoas chamam hoje de Estação Saudade e é por isso que não se entende muito bem porque há duas estações”, explica o pesquisador.

Para Monastirsky, a melhor destinação do prédio é a criação do museu ferroviário, mas é necessário também que o Governo Municipal cuide do prédio e faça uma boa restauração. Não é viável, segundo o pesquisador, que a Casa da Memória volte a funcionar no local pois a ventilação do lugar acaba comprometendo os documentos que antes se encontravam lá. Logo, é necessário um novo destino para o acervo.

“O uso precisa ser cultural. Mas é claro que dá pra ser uma pinacoteca, um cinema, até mesmo um café. Quanto menos impacto melhor, talvez uma galeria de arte, ou uma galeria de fotografias”, destaca o pesquisador ao indicar opções para o prédio. Monastirsky garante que o uso cultural da Estação Paraná é justamente para contribuir na preservação. “Porque o uso é mais tranquilo, não há danos ao prédio entre as pessoas que contemplam atividades culturais”, afirma. Segundo o pesquisador, haveria uma agressão ao prédio nas modificações que deveriam ser feitas caso se confirmasse a implementação da Polícia Militar no local.

 

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