O drive-in é uma opção diferente de cinema sobre as rodas dos carros, onde o som é transmitido pelo rádio e as grandes telas deixam tudo mais aconchegante. E foi essa a principal ideia do criador deste estilo de assistir filmes, Richard Hollingshead (1900-1975), que dizia que sua mãe reclamava da falta de conforto nas poltronas dos cinemas tradicionais. Além disso, outros fatores que impulsionam a criação e popularidade do drive-in foram a popularização dos altos falantes mobilísticos e o desenvolvimento da rádio com frequência AM ou FM.
O primeiro modelo de cinema drive-in era conhecido como Park-In Theater e surgiu nos Estados Unidos em 1933, na cidade de Camden, em Nova Jersey. Logo se tornou uma tendência e um ícone da cultura norte-americana, até mesmo sendo representado em diversos filmes clássicos, como no musical ‘Grease’. Contudo a “Era de Ouro” dos drive-in foi nas décadas de 1950 e 1960. Um dos maiores que já existiu, o Johnny All-Weather Drive-In, localizado na cidade de Nova York, chegava a comportar 2500 veículos, e possuía restaurantes e playgrounds no espaço.
O declínio da popularidade dos drive-in nos EUA aconteceu nos anos 1970 e 1980, motivado principalmente pelo surgimento das locadoras e pelo aumento do preço da terra nos arredores das cidades, onde muitos desses cinemas estavam instalados.
Trazendo um pouco da história dos drive-in para o Brasil, até o ano de 2020 só existia um espaço deste tipo no país, em Brasília (DF). Inaugurado em 1973, o local tem capacidade para 500 carros e possui a maior tela do país, com 312 m². Com o surgimento da pandemia de COVID-19, os cinemas drive-in se popularizam novamente, como uma forma de assistir filmes de maneira segura, respeitando o distanciamento social.
Em Ponta Grossa, os drive-in começaram a se popularizar em julho, com a chegada do Dia dos Namorados. O primeiro experimento de cinema a céu aberto teve tanto êxito na cidade que outros espaços começaram a surgir desde então. Entre as iniciativas, vale citar a sessão exclusiva realizada em setembro para as famílias dos profissionais de saúde do Hospital Universitário Regional como homenagem aos que estão na linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus.
Outro evento marcante foi a arrecadação de fundos para instituições sociais de Ponta Grossa através da venda de ingressos em um dos drive-in do município, a qual contribuiu para instituições como Instituto Duque de Caxias, Absorvendo Elas, Asilo São Vicente, Arco Íris e Instituto Beneficente Xavier de Barros.
Alguns estabelecimentos ponta-grossenses também estão incluindo manifestações culturais em suas programações. Performances e apresentações de teatro temático dos filmes que são transmitidos na tela do cinema drive-in se tornaram presenças essenciais, especialmente para as crianças, que interagem à distância com os personagens dos filmes que estão assistindo, como se estes estivessem “saltando da tela”. Um exemplo foi a participação da companhia de dança, teatro e circo Cia Artheiros na exibição de “O Rei Leão”, com os integrantes caracterizados como os personagens de uma das animações mais famosas dos Estúdios Disney.
O ressurgimento deste modo de consumir cinema já é percebido como uma forma de investimento para o futuro, uma vez que o modelo dos drive-in também é viável para outros tipos de evento como formaturas, cultos religiosos e shows musicais. Vale lembrar que os eventos drive-in também se tornaram uma das poucas opções que organizadores de espetáculos e cerimônias têm hoje em dia para manter a economia de uma indústria que ficou por meses estagnada, a do setor cultural.
De acordo com a Pesquisa de Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Cultural e Criativo do Brasil, analisada pelo sociólogo Rodrigo Amaral, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), os setores cultural e da economia criativa perderam, segundo as organizações contempladas no estudo, entre 50% a 100% de seu retorno financeiro nos primeiros meses da emergência sanitária.
Pouco se sabe sobre o futuro enquanto a pandemia da COVID-19 ainda estiver transcorrendo. Entretanto, os cinemas de todo o país ensaiam gradativamente a reabertura de suas portas. Mas enquanto muitos estiverem incertos em retornar às salas fechadas sem a certeza de uma vacina, a opção dos drive-in é certeira para aqueles que desejam sair de casa com desejo de retomar suas atividades culturais com responsabilidade e segurança.
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