A atuação de Paulinho Ribeiro no rádio ponta-grossense

Entrevista: Nadine Sansana
Edição: Jessica Grossi e Matheus Gaston

A entrevista com Paulo Roberto Ribeiro da Silva foi realizada em abril de 2019 na Rádio T, em Ponta Grossa, pela estudante de graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Nadine Bianca Sansana, como parte da sua pesquisa de iniciação científica.

Paulinho Ribeiro, como é conhecido, se destaca pela sua atuação na área esportiva nas rádios de Ponta Grossa. O radialista passou por diversas emissoras, atuando como locutor de programas musicais, esportivos, além de ser comentarista de jogos de futebol. Atualmente, tem um programa de variedades na Rádio T e um programa esportivo na Rádio Clube. 

Poderia falar rapidamente da tua trajetória profissional, onde e quando começou a trabalhar?

Comecei no rádio mais ou menos em 1994. Eu ouvia rádio e trabalhava na rede ferroviária e, nos finais de semana, ia aos estúdios da rádio. Comecei na Rádio Central. Ficava ouvindo o locutor e passando informações do que eu ouvia pra ele. Eu era o que chamavam de informante de locutor, informante de plantão esportivo. Isso foi por uns dois anos. Em 1996, faltou o locutor oficial que estava fazendo o plantão, ele não quis mais e eu fui praticamente empurrado pra dentro do estúdio pra fazer uma coisa que eu nunca tinha feito. Nunca me passou pela cabeça ser locutor e eu nunca fui preparado pra isso. Foi naquele instante que eles me botaram lá e eu, como já ouvia, pensei em fazer como o outro fazia. E a partir daí eu nunca mais parei.

Na Rádio Central fiquei por mais dois anos. De 1998 até 2002 eu passei para a Rádio Clube. Recebi convite lá e era plantão esportivo. Eu já era conhecido. Naquela época tinha o Troféu Imprensa e eu sempre disputava. Nunca ganhei, mas sempre fiquei no segundo lugar, mas também nunca me preocupei com isso. Em 2004, eu recebi convite pra ser repórter de campo. Daí fazia futebol amador: entrevistava jogador nos domingos de manhã, com gravador, não ia transmitir. Mas como o pessoal fazia transmissão, o pessoal disse pra trabalhar com eles, aí fui na própria Rádio Central com o Cândido Neto, com o Joel Brasília, com o Osíris Nadal. Passei a ser repórter. Eles me davam esses cabos, com 120 metros de fio, era horrível, era pesado. Hoje você tem um retorno automático, com um celular. Antes não tinha, era um rádio, pesado. Tinha que levar nas costas, derrubava, tropeçava, tinha um monte de fio.

A partir de 2004, passei a ser profissional, porque já ganhava onde trabalhava. Por exemplo, saí da Rádio Central e fui para a Rádio Clube, da Clube fui para a Rádio Pitangui, que na época passou a ser Rádio Nacional e agora, por último, com a mesma frequência, é a Rádio CBN. Então trabalhei em todas elas, inclusive na CBN. Em 2004, recebi um convite da Rádio Tropical, que hoje é a Rádio T, isso paralelo a fazer esporte aqui de manhã, que nunca parei até hoje, apesar de transmitir na Rádio Clube, na Rádio Central, dona da Rádio Tropical. Isso nunca interferiu no trabalho. Então eu fazia freelancer aqui na T. E o programa era pequeno, de cinco minutos. Acabou que hoje eu tenho um programa de esportes, tanto na Tropical, quanto na Difusora. 

Só que mudou o sistema, hoje eu não sei te explicar como que funciona esse digital, fibra ótica. Eu não faço a menor ideia do que seja isso. A única coisa que eu sei é que não uso mais cabo, não uso mais nada. Hoje é microfone de alta tecnologia, esses que os grandes cantores internacionais usam em palco, eu uso e procuro dar o melhor, pela qualidade do som e graças ao que eu aprendi. Um retorno, uma coisa simples, você usa praticamente um celular no bolso, você sai na rua com aquilo fazendo entrevista. Hoje pode-se dizer que estou com 25 anos de rádio. Eu gostaria de ter sido um profissional ativo, como jornalista por formação. Eu deveria ter me formado como jornalista, mas eu não sabia que ia ser radialista. Em 2014, eu fui fazer o ENEM, eu não passei em Química e em Física, mas no resto passei em tudo, tanto é que disseram que eu poderia concluir, mas dei uma pausa. Talvez se eu tivesse concluído, porque foram praticamente 40 anos sem ir para a escola, então acho que se tivesse passado, eu já teria me formado como jornalista. Não é uma frustração, mas gostaria de ser jornalista formado. Hoje, por exemplo, faço programa musical, que nunca me passou pela cabeça fazer. Sou o que a gente chama de repórter de pista, acompanho jogos no Brasil inteiro, conheço praticamente todas as cidades do Paraná e fui para muitos estados. Por exemplo, na Copa América de 1999, se não me engano foi no Paraguai, fiquei 20 dias com a seleção brasileira e acompanhei também a evolução do Ronaldinho Gaúcho. Na época tinha o Roberto Carlos, Rivaldo, Alex, todos esses astros, então eu convivi com a seleção brasileira. Estive no Rio de Janeiro fazendo o jogo do Internacional e Flamengo, no Engenhão. Já estive fazendo jogo no Morumbi, na Vila Belmiro, no Pacaembu, nos grandes centros do Brasil eu já rodei como repórter esportivo.

Legenda: Após passar por diversas emissoras, Paulinho Ribeiro atua hoje na Rádio T e na Clube | Créditos: Reprodução/Facebook.


Como você fazia as transmissões quando ia para outras cidades? 

Nunca gostei e até hoje não gosto de fazer absolutamente nada gravado. Tanto é que pra você ter uma ideia, o Operário, por exemplo, tem a sala de imprensa, todo mundo vai lá, pega o gravador e grava lá na sala de imprensa ou com os próprios jogadores e trazem para arrumar na sala de edição. E eu odeio isso, então, sempre escolhi fazer ao vivo. Como, por exemplo, no programa das 11 ao meio-dia era o momento que os jogadores terminaram os treinamentos, iam ao vestiário, passavam pela sala de imprensa e eu chamava um deles e chamava o estúdio, daí era transmitido ao vivo. É assim que eu gosto de trabalhar, porque gravado, queira ou não, a qualidade nunca é a mesma do ao vivo. E a inspiração tua ao vivo é muito melhor do que quando faz gravado. Foi uma das coisas que aprendi e gosto. Transmissões de jogos, por exemplo, recentemente a gente esteve fazendo jogo do Operário em Toledo. Eu vou como motorista, mas normalmente viajamos em quatro: eu como repórter, mais um repórter esportivo, eu faço o time da cidade e o outro companheiro faz o visitante, vai também um comentarista e o narrador. O que acontece: nós chegamos lá, montamos os equipamentos, dá um microfone pra cada um, sintonizamos lá de Toledo com o estúdio da rádio em Ponta Grossa e fazemos alguns testes e equalizamos todos ao mesmo tempo. Daí nos chamam no estúdio e eu geralmente antes do jogo dou a escalação, sem papel nenhum. Porque o repórter não pode ter as coisas escritas porque não se sabe o que vai acontecer, então tem que ser coisas do momento. Vou ser bem sincero com você, eu fico muito chateado de saber, por exemplo, que tem muitos jornalistas formados famosos e tem muito jornalista nem tão famoso que eu notei que não usam a profissão da maneia ideal que deve ser. Eles criam fantasias, criam notícias que não existem e várias vezes eu fui coagido a fazer isso, inventar coisas que não tem. Hoje posso ser considerado o que menos tem exclusividade ou furos de reportagem, porque não consigo mentir. E, infelizmente, nunca fui um grande destaque justamente por isso. Já aconteceu aqui recentemente, ontem, por exemplo, chegou um jogador novo no Operário, pelas redes sociais todo mundo sabia, mas em primeira mão eu tive a felicidade de estar no ar. No rádio fui eu quem disse. Mas eu não crio, por exemplo, não invento quem poderia vir e não passo para o público, isso eu aprendi. A minha honestidade, apesar de eu não ser jornalista, é não passar para alguém como eu não queria que passasse pra mim. 

Na tua opinião, o rádio tem função social?

O rádio tem toda função social. Eu, por exemplo, tenho um programa de variedades, musical. Primeiro a gente procura adaptar a musicalidade de acordo com a resposta que a gente recebe através do ouvinte, aí a gente consegue ver quem são as pessoas que nos ouvem e então vamos adequando para eles. Mas, dentro desse musical, ele é informativo. Falo de esportes, tudo sobre as coisas atualizadas do momento, sobre o que vai acontecer. Pelo programa ser no sábado, eu sou privilegiado, porque tem esporte no sábado, no domingo, tem Fórmula1, tem tênis, tem basquete, tem natação, tem jogo de truco… Além de informações, tem descontração. Eu adoro dar notícias como o início de campanhas de vacinação, contra a febre amarela, gripe, falar para o consumidor prestar atenção nos preços. Também procuro dar piada na informação, mas sempre com respeito e tornar ela alegre. A rádio hoje, queira ou não, é um meio de comunicação maravilhoso. Eu odeio dar, principalmente no final de semana, nota de falecimento. O povo está saturado de tristeza, que se eu começar a falar de tristeza também, tira meu próprio astral e o meu objetivo é transportar alegria para as pessoas que estão sofrendo, que estão com problema, transmitir outras coisas e conseguir cativar esse público. Eu não deixo de dar informação, mas eu transformo a informação em alegria. Pra você ter uma ideia, aconteceu vários péssimos momentos da vida, quando o falecido Jaori trabalhava comigo. Claro que a gente se baseava nos jornais, teve uma notícia da Gazeta do Povo que dizia que no litoral paranaense iria ter a semana do pescado, depois disso teve o intervalo e na volta eu fui corrigir porque eu estava lendo uma informação do ano de 2008 da Gazeta. Aí, quando voltou do intervalo, eu tive que falar para os ouvintes não irem para a feira do pescado porque não tinha nada lá e tudo isso com muita alegria, sem estresse. Às vezes, acontecia de dar uma informação e o ouvinte ia brigar, por estar errada. Eu acho que sim, o rádio tem grande função social. Mas todos têm seu espaço, por exemplo, tem um horário que o pessoal faz aqui para diversas religiões, independente de qual seja. Tem rádio que gosta de falar sobre o salário mínimo, sobre política e eu já odeio falar de política, aumento de gasolina também não falo. Mas o rádio é informativo sim e é comunitário, ele presta serviços.

As informações que você dava e ainda dá agora, você pesquisa nos jornais impressos?

Hoje tem a internet, mas eu pesquisava em jornais, pegava todo tipo de jornal, com informações atualizadas, interessantes, verdadeiras. O pessoal pede sempre a fonte, de onde é, claro que a gente fala, mas normalmente nem todos fazem isso, não que eu tenha interesse de esconder a informação, mas eu pesquisava de jornais.

Como era antes e como é agora a participação dos ouvintes? 

Sobre a participação dos ouvintes, hoje está muito mais difícil. Porque antigamente, tudo o que nós radialistas falávamos era aceito, hoje não, hoje tem uma resistência. Mas o ouvinte está bastante participativo. Por exemplo, estou fazendo o programa e eles estão me parabenizando pelo programa estar bom e ao mesmo tempo tem ouvinte dizendo que o programa não está bom, pedindo alguma música mais alegre, ele interage. Antigamente, o ouvinte não tinha espaço, então o radialista fazia o que ele queria, hoje não. Eu sou privilegiado por ter pegado essa época de agora, não peguei a de antigamente. Peguei justamente onde tem jornalistas, acadêmicos, internet. Por exemplo, estou falando aqui no rádio e estão me ouvindo na China, em Londres! Então você tem que tomar muito cuidado com o que você vai dizer. A interação hoje do ouvinte é cem por cento.

A série de entrevistas com profissionais que atuaram e atuam no rádio ponta-grossense é fruto do trabalho da estudante Nadine Sansana, orientada pelo professor Sérgio Gadini, pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Ponta Grossa, vigente entre os anos de 2018 e 2019. Sob o título Memórias de vida e trabalho na mídia regional dos Campos Gerais do Paraná, o projeto contribui com o acervo memorialístico radiofônico da cidade, tendo em vista a ausência de arquivos, registros e documentos sobre a história do rádio em Ponta Grossa. 

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