No dia 2 de março teve início o Ciclo de Debates que aborda saúde mental no contexto da pandemia e ensino remoto, promovido pela UEPG. São quatro dias de encontros via Google Meet. No primeiro dia, a psicóloga e terapeuta afirmativa que compõe a Rede Encontros pela Diversidade de Foz do Iguaçu, Maria Luisa Burt, foi convidada a falar sobre a saúde mental da comunidade LGBTQIA+ na pandemia. O encontro foi mediado pelo estudante de Pedagogia na UEPG, Guilherme Portela.
“Já existiam dificuldades prévias que foram potencializadas”, diz Maria Luisa sobre os problemas diários que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta e como a pandemia os agravou. A psicóloga explica que ocorre uma série de privações e violências a pessoas da comunidade por estarem morando com famílias que não aceitam suas identidades. Silenciamento, distanciamento emocional e indiferença afetiva são algumas das situações exemplificadas pela terapeuta.
Além disso, existem casos de violência doméstica nas parcerias LGBT, que muitas vezes não são denunciados devido à insegurança de envolver autoridades. A psicóloga menciona o aplicativo Proteja Brasil, do Disque 100, que é um canal de proteção nos casos de violência doméstica, em que a denúncia pode ser realizada anonimamente e por meio do preenchimento de formulário.
O preconceito no ambiente familiar e, também, por conta do isolamento social, a impossibilidade de acesso a espaços de acolhimento afetam diretamente a saúde mental de LGBTs. Sentimentos de solidão, desconexão e desamparo são intensificados e, por isso, Maria Luisa aponta a necessidade de outras formas de união e proteção existirem no meio virtual. “Rede de apoio agora é muito importante”, destaca. Determinadas ONGs e instituições têm oferecido atendimento gratuito e podem ser encontradas na Internet, como a Rainbow Psicologia, o Grupo Reinserir e o Grupo Dignidade. Ademais, a Associação em Defesa dos Direitos Humanos (ADEH) promove no mês de março uma atividade de atendimento online com encontros semanais.
A psicóloga relata ainda a pesquisa realizada pelo coletivo Vote LGBT, nomeada como Diagnóstico LGBT na Pandemia, que mostra os principais impactos da pandemia e desafios da comunidade. Entre os três maiores impactos, em primeiro lugar está a piora da saúde mental. Ela também comenta que uma atualização da pesquisa é interessante, visando que em março completa-se um ano de pandemia no Brasil.
Quanto aos estudantes, a terapeuta fala da dificuldade de aprendizado originada no sistema de ensino remoto, que se trata de uma adaptação drástica das aulas presenciais, e também por conta da saúde mental já abalada no contexto pandêmico. É necessário afetividade, respeito e empatia dentro do ensino remoto para tornar a experiência menos desagradável. Outro fator que influencia na saúde mental dos estudantes é o desemprego, já comum para pessoas da comunidade LGBTQIA+, marginalizadas, mas que aumentou na pandemia.
A psicóloga explicou também como a área da psicologia e da psiquiatria reconhecem a comunidade LGBTQIA+. Ela fala sobre a necessidade de mudanças, mas que há uma evolução gradativa no entendimento do assunto. Também são abordadas por Maria Luisa as conquistas da comunidade, relembrando que em 2020 foi derrubada a restrição aos homens homossexuais para a doação de sangue. Além disso, faz um breve histórico do processo de reconhecimento da comunidade entre si e na sociedade.
A psicóloga destaca que, para o suporte da comunidade no momento, é importante o preparo dos funcionários dos hospitais para atenderem pessoas LGBTs. É essencial, também, pensar em planos de emergência que agreguem a comunidade. Além disso, a coleta de informações em relação à Covid-19 dentro da comunidade ajuda no melhor entendimento da situação de forma específica.
O Ciclo de Debates continua até o dia 5 de março. O link da reunião no Google Meet é enviado ao e-mail dos inscritos e é possível receber certificado ao preencher um formulário disponibilizado no horário do encontro.
Informações: https://siseve.apps.uepg.br/pt_BR/SMERP
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