Estreia da semana, novo Velozes e Furiosos não reinventa a roda da franquia, mas a expande

Vinte anos depois que o primeiro filme foi lançado, o novo capítulo da franquia Velozes e Furiosos (F9 no título original, lançado no último dia 24) é tudo que os fãs podem esperar. 

Se antes os chamarizes da franquia eram corridas de carros raros e potentes, sequências de ação comedidas e sexualização excessiva das personagens femininas, elementos apelativos ao público masculino jovem da época, agora a franquia se vê obrigada a atender não só esse público, mais velho e maduro, como também outros para justificar seus orçamentos que passam dos 230 milhões de dólares por filme.  O novo capítulo da saga embarca mais fundo nessa proposta, mas nada realmente ousado ou transgressor.

O roteiro do diretor Justin Lin, Alfredo Botello e Daniel Casey tenta dar espaço e tempo de tela ao maior número de personagens possível.  Se por um lado isso concede espaço para personagens como Lety (Michele Rodrigues) e Mia (Jordanna Brewster) serem melhor tratadas em suas contradições e sentimentos (ainda que nada passe no teste de Bechdel*), a manobra também cria cenas sem propósito para nos lembrar que Romam Pearce (Tyreese Gibson), Ramsey (Nathalie Emmanuel) e Tej Parker (Ludacris) são engraçados, supostamente. 

Isso resulta em um ritmo lento.  A construção de reviravoltas é sacrificada para dar mais tempo às cenas de ação e assim tornar às viradas do roteiro em pontos aleatórios. E mesmo que a ação seja um elemento primordial dentro da identidade da franquia, algumas sequências também sofrem com uma construção tumultuada que sacrifica o engajamento de público por sua própria megalomania. Dito isso, elas ainda são divertidas em suas investidas orgulhosamente exageradas e caricatas.

Apesar do roteiro sufocar entre aspirações e necessidades, “F9” é um dos únicos filmes (ao lado de “Furious 7”, 2015) da série a possuir um lado emotivo honesto. Dessa vez, palavras como família, lealdade e companheirismo extrapolam o cinismo para fazer Dom (Vin Diesel) rever as motivações e eventos que desenvolveram seu senso de paternidade para com sua família informal.

Para o professor do Bacharelado e Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo da Unespar, Eduardo Baggio, tal construção como a de Dom são movimentos narrativos que fortalecem a fidelização com o público alvo/de fãs.  Na visão de Baggio, as franquias conseguem sobreviver por tanto tempo por desenvolverem seus personagens sob dois princípios: o da formação de personalidades destacadas e do desafio constante a essas. Algo que o professor define como personalidades prototípicas, adaptáveis ao que os capítulos da franquia se propõem a abordar.

“Os enredos desses filmes são pensados para conter brechas a serem aproveitadas no futuro. Seja em obstáculos ou nas relações dos personagens entre si. Eles [os personagens] carregam consigo seus traços mais marcantes, ainda que algumas mudanças possam ser notáveis no passar de filme para filme, com base no interesse do público em vê-los contornar esses novos desafios e mudanças”, observa o professor.

A abordagem da responsabilidade como o novo desafio para família Toretto soa bem vinda quando recordamos que esta sempre fora ofuscada pelo hedonismo conveniente ao cinema blockbuster. Quando reparamos que o público também cresceu e passou a franquia para as próximas gerações, a nova abordagem é indissociável na comunicação entre a fidelidade dos fãs e a franquia. 

Dom continua fazendo peripécias e sobrevivendo perigosamente, mas agora, sob o custo de reinterpretar as glórias e misérias de sua trajetória. Talvez o melhor jeito de comunicar sobre a importância da responsabilidade ao público seja… com carros colidindo e explodindo a 300 km/h. 

A mensagem pode soar contraditória, mas os 420 milhões de dólares que o filme arrecadou desde a sua estreia (em cenário de pandemia  e com circulação limitada) e a audiência diversa (37% hispânica, 34% caucasiana, 18% negras e 8% asiática**) talvez sugeriram o contrário. 

Velozes e Furiosos 9 está em cartaz no Drive In- Cine Flexx nesta semana com sessões às 19h30.

* Teste idealizado para medir o quanto a autossuficiência de uma personagem feminina dentro da estória
** Fonte: Deadline Hollywood: “‘F9’ Vrooms To $70M Pandemic Opening Record, A Win For The Theatrical Window – Sunday AM Update (https://deadline.com/2021/06/f9-speeds-to-7-1m-thursday-previews-best-to-date-during-pandemic- 1234781577/)


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