Em setembro, a sede de Carambeí do Centro de Documentação Holandesa organizado pela Associação Cultural Brasil-Holanda (ABCH) completou uma década de atuação no município. O espaço foi criado com o intuito de documentar as histórias das famílias holandesas que migraram para o Brasil e se instalaram na região, deixando marcas culturais e registros materiais para as futuras gerações. Em 2011, a idealização do projeto integrou as atividades do Centenário da Imigração Holandesa no país.
O acervo, composto por mais de 200 documentos, que inclui fotografias, relatórios, folhetos, artigos, trabalhos acadêmicos e livros em holandês e português, se tornou um local de referência para estudos sobre a chegada e consolidação da cultura holandesa no Paraná. É possível encontrar também elementos iconográficos e materiais audiovisuais sobre imigração, cooperativismo e história das colônias, muitos deles produzidos pelos próprios moradores de Carambeí.
De acordo com Johan Elbertus Scheffer, professor e secretário da ACBH, o centro de documentação busca conversar com as novas gerações para que os filhos, netos e bisnetos de imigrantes holandeses ajudem a preservar a história de seus antepassados. Para isso, o espaço vem digitalizando o acervo desde sua inauguração, com o intuito de possibilitar o acesso dos materiais em plataformas online e assim atingir outras colônias holandesas e demais interessados em sua história pelo Brasil.
Entre os registros documentados no Centro está um livro que relata como ocorreu a criação do município de Carambeí. No começo do século XX, a empresa ferroviária ‘Brazil Railway Company’ comprou a Fazenda Carambeí, local de rota de tropeiros na região dos Campos Gerais, e começou a dividi-la em pequenos lotes visando a sua colonização e uma possível mão de obra para realizar o carregamento de seus trens. O período coincide com o momento em que o governo federal promovia campanhas de imigração para o Brasil. Os primeiros holandeses a chegar nas terras que hoje pertencem a Carambeí se instalaram na região no ano de 1911. As famílias Verschoor e Vriesman, que chegaram neste ano, mantiveram raízes e até os dias atuais participam ativamente da economia e cultura do município. Outros nomes como Dick e de Geus também fazem parte da colônia e, em conjunto, trabalharam por anos na produção de laticínios. Foi a junção de esforços destas famílias que deu origem à Sociedade Cooperativa Hollandeza de Laticínios, uma das primeiras cooperativas de produção do Brasil, composta por nove sócios produzindo manteiga e queijo. Hoje ela é conhecida como Cooperativa Mista Batavo, do Grupo Frísia, uma das principais indústrias do ramo alimentício do Brasil.
Para o produtor agrícola Albert de Geus, neto de imigrantes holandeses, o Centro de Documentação tem papel fundamental não somente para a conservação da história de seus antepassados, mas também de toda a cultura holandesa. “Quando eles vieram para cá eles ajudaram a construir a cultura brasileira, mas nunca abandonaram suas raízes holandesas, e é nossa missão manter vivo aquilo que eles trouxeram consigo do outro lado do mundo”, diz.
Atualmente, o Centro de Documentação da Associação Cultural Brasil-Holanda mantém somente atividades online, em decorrência da pandemia da Covid-19. O espaço integra o complexo do Parque Histórico de Carambeí. Todo o material digitalizado pelo Centro está disponível gratuitamente no site da ASCH.
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