O escritor paranaense Cristóvão Tezza esteve em Ponta Grossa na noite da última sexta-feira, 16. Tezza participou, com o também escritor Miguel Sanches Neto e a professora Silvana Oliveira, da 1ª Semana de Integração de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
A mesa-redonda, que aconteceu no Grande Auditório do Campus Central da UEPG, abordou o tema Vida e Literatura e contou com grande participação de estudantes, jornalistas e professores. Tezza comentou sobre sua vida literária, que acaba se mesclando com sua biografia em algumas obras, como no livro Trapo (Brasiliense, 1988), onde o personagem principal – Trapo, um jovem suicida que escreve textos para a namorada com maneiras de acabar com a poesia e outras alucinações – é o próprio autor, de maneira caracterizada. “Os textos do Trapo eu escrevi durante as aulas da faculdade de Letras. Era uma série de como matar a poesia. Aí os textos circulavam durante as aulas e meus amigos falavam que eu tinha que publicá-los. Foi quando surgiu a idéia do livro. O Trapo era eu e o professor Manuel [o personagem é um professor aposentado de Língua Portuguesa, que se fecha em sua casa e vive de forma que tudo deve estar organizado mentalmente] era em quem eu estava me tornando com a faculdade e, posteriormente, com o mestrado”, diz Tezza.
Sanches Neto, escritor, crítico literário e professor da UEPG, também comentou sobre seus livros e a atuação da crítica e do jornalismo cultural em suas obras. “Sempre defendi que os cadernos de literatura dos jornais não deviam estar separados de outros setores da cultura, como cinema e música. Aliás, criaram uns nomes muito feios para esses cadernos, como Ilustríssima e Sabático. Mas, então, com os cadernos de literatura separados, a leitura fica muito restrita a quem prefere e entende de literatura. Se é tudo junto, quem gosta de cinema pode ler uma notícia referente a cinema e se interessar por uma de literatura que está perto da que ele leu”, opina o autor.
Ele comentou também o papel dos críticos em suas obras. “Meu primeiro livro [Chove sobre minha infância (Record, 2000)] recebeu críticas negativas por ser auto-biográfico. Mandei ele pra cinco editoras. Uma me respondeu falando que aquilo não era literatura, por exemplo”, relembra Miguel. O encontro, que reuniu dois grandes escritores paranaenses, foi promovido pelo Centro Acadêmico de Letras (Calet).
Cristóvão Tezza
O escritor, nascido em Lages (SC) em 1952, mudou-se para Curitiba em 1961 com sua família, dois anos depois da morte do pai. Começa no teatro em 1968 e participa da primeira peça de Denise Stoklos. Em 1970, conclui o Ensino Médio no Colégio Estadual do Paraná e, em 1971, passa alguns meses na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante, no Rio de Janeiro. No final de 1974 parte para Portugal estudar Letras na Universidade de Coimbra, porém, fica um ano perambulando pela Europa, já que a Universidade estava fechada por causa da Revolução dos Cravos.
Casa-se em 1977 e muda-se para Florianópolis em 1984, para dar aulas de Língua Portuguesa na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 1986 volta para Curitiba para lecionar na Universidade Federal do Paraná, até se demitir em 2009 para se dedicar exclusivamente à literatura.
O livro Trapo lançou seu nome nacionalmente. O escritor já ganhou diversos prêmios, como o Prêmio Petrobrás de Literatura (Aventuras Provisórias), Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional (Breve espaço entre cor e sombra), Prêmio da Academia Brasileira de Letras (O fotógrafo), Prêmio Bravo! (O fotógrafo e O filho eterno), Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (O filho eterno), Prêmio Portugal-Telecom de Literatura em Língua Portuguesa (O filho eterno), Prêmio Zaffari & Bourbon da Jornada Literária de Passo Fundo (O filho eterno), Prêmio São Paulo de Literatura (O filho eterno) e Prêmio Charles Brisset da Associação Francesa de Psquiatria (tradução de O filho eterno – Le fils du Printemps). O livro O filho eterno tem traduções em Portugal, Itália, Holanda, Espanha, Austrália e Nova Zelândia. Atualmente, Cristóvão Tezza é também colunista da Gazeta do Povo.
Reportagem de Eduardo Godoy
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