A responsabilidade, pela situação na qual me encontro comprometido com a Arte, pelos benefícios que ela me traz, pelas satisfações que me proporciona, de respeitar os princípios éticos de harmonia e sinergia em prol de todas a classe artísticas.
Desde os primórdios, a Arte é baseada em noções, que de regra, são imutáveis, mas ao mesmo tempo passíveis de um processo estrutural e criativo, capaz de proceder com o desenvolvimento evolutivo e natural humano em todos os seus valores. Justiça, autonomia responsabilidade, igualdade, beneficência e não maleficência são princípios que devem estar presentes no cotidiano de nossas ações. Este conjunto compõe a dignidade de nossa profissão.
A Arte distingue-se de outras profissões, pois trabalha calcada em parâmetros de ambiguidade cultural de moralidade a desconfianças. Por isso a ética profissional deve ser o valor intrínseco a nortear o seu exercício, sigilo e bom senso.
Acredito que a grande missão, nesta vida é a busca da felicidade e a harmonia com o meio em que estamos inseridos.
Nossa profissão, pela capacidade de modificar rumos, inspirar, acalmar, divertir, levando promoção, educação, cultura e saúde, é fonte inesgotável de felicidade. Mas é difícil imaginar como atingir esta meta justamente se o lado profissional nos aflige. Vivemos um tempo de baixa valorização do nosso trabalho, bem como um descaso para com a assistência à saúde em nosso ofício.
Nossa profissão está em risco e em xeque está nossa ética, pois como um elástico está sendo esticada aos limites determinados pela conveniência individual e muitas vezes mercantilista. A Arte nos deu e dá tanto e o mínimo que podemos oferecer em troca é a defesa de seus princípios. Empenhamo-nos em descrever e interpretar um processo sócio-cultural complexo crivado de ambiguidade e contradição. Devemos à sociedade a responsabilidade de uma consciência politica própria, a respeito das idiossincrasias culturais, e individuais.
Estamos vivenciando uma modificação da sociedade. A discussão de dilemas morais está cada vez mais presente nos conceitos do público. A Arte como profissão que mais carrega esse tipo de discussão, também está mudando. A ideia de que a Arte com o propósito de entretenimento já não satisfaz. Hoje é vista como um meio terapêutico, de bem estar e lazer, sobretudo no âmbito educacional, de aprendizado. Facultando professores e alunos, a qual necessitam novos rumos de comunicação interpessoal.
Em vista do aparente descredito pelo dessaber geral e a falta de transparência. Pela agressão moral imposta pelo modismo da propaganda. Pela clareza de ser uma profissão já reconhecida dentro da sociedade, onde o pagamento pelo serviço prestado tem caminhado dos honorários para remuneração ou salários, com a tendência de lhe ser aplicado a mesma legislação trabalhista que de outras profissões. Dessa forma o artista espera o reconhecimento de seus diretos como qualquer outro profissional especialmente em uma lógica de mercado que explora o seu conhecimento, suor e saúde em prol de um lucro financeiro e politico desmedido.
A isso se soma uma das mais frequentes reivindicações dos Artistas do mundo todo, que tem que formalizar e atualizar sua própria linguagem artística, dar forma e conteúdo projetístico, viabilizar e financiar seus saberes estéticos, culturais e materiais, exigência necessária para uma aproximação ao mercado e das práticas curatoriais entre outros, muitas vezes longe dos seus princípios morais, sem contar o exaustivo processo de criação, é a falta de espaço para os valores humanos nas estruturas econômica e social, que movida por campos mais amplos de hermenêutica, no que diz respeito à visão completa do mundo e dos paradoxos que ele conte e das idiossincrasias do próprio meio, mas, sobretudo no de convívio familiar, já carentes de informação, o que produz um choque direto na afetividade e sensibilidade do individuo, afastando-o muitas vezes da realidade desoladora que o estereotipa e o descrimina e marginaliza e o torna vulnerável, temos ainda que mendigar pelo patrocínio, levar-nos a tapa para ser-nos contemplados em editais.
Urge a consciência de se criar valores justos e proporcionais ao nível de complexidade e responsabilidade que o artista pratica, para que a qualidade de sua obra e sua autonomia não seja atacada. Bem como revisamento das leis de incentivo para suprir a falta de praticidade e flexibilidade que encontra-se na captação de recursos, que haja isonomia e real distribuição dos recursos, destinados a cultura.
Pela necessidade de espirito de inovação a maioria dos Artistas em praxe e de forma natural tende a expressar eticamente uma produção própria e não comercial. Porém, manifesta-se de forma hibrida e muitas vezes neofílica, ao qual, naturalmente contrasta-se com o neofobismo das classes dirigentes atrasando o processo de evolução humana e comportamental (lembro que o significado da palavra educar é, valorizar, compreender, incentivar). Portanto os incentivos deveriam favorecer essa classe de artistas, Sendo que eticamente os ônus são obtidos exclusivamente por meio do próprio trabalho, sem produção, sem nem um tipo de artificio, sob pena de prejudicar nosso juízo.
Uma das evidências de uma vida plena é a presença da capacidade de sonhar e de manter a esperança diante das adversidades. Este é o primeiro esboço: não perdemos a esperança, até porque outras pessoas dependem desta, como nossos familiares, apreciadores publico, colegas, alunos ou amigos. Não podemos nos esquecer de que somos modelos, exemplos, ídolos, para os que nos rodeiam.
A vida sem esperança se torna vazia, sem sentidos, sem prazer. Na verdade quando somos angustiados, perdemos o controle, o sentido de direção, tendendo ao desespero e desânimos. Inicialmente procuramos um culpado. Empenhamo-nos em descrever e interpretar um processo sociocultural complexo crivado de ambiguidade e contradição, alimentando nossa mágoa, e piorando a situação, nos prendendo a certos conceitos que estão no passado, dificultando enxergar projetos futuros, nos isolando. Ficamos inconformados, mas sem poder ou objetivos de reação, queremos mudar o coletivo, mas não trabalhamos o básico: o individual, que somos nós mesmos. Pior quando sabemos da necessidade de mutação interior e que isolando-nos conseguimos chegar ao que gostaríamos de ver acontecer, perdendo o contato com o mundo exterior. A isso se soma a aspiração a forma de se viver acima do comunismo, e a pressões da ideologia mercadológica capitalistas que também contaminam a cultura contemporânea.
Somos isso! Esta é minha visão, ao qual cabe questionamento, mas com certeza tem uma terapêutica já bem comprovada ao longo da história da humanidade e da bagagem técnica, cultural e cientifica de todas as viagens pelo mundo a fora, o assimilar de todas as linguagens possíveis me confere um conteúdo global da real situação no mundo das Artes e dos artistas.
União e solidariedade. Se conseguirmos resgatar o espirito de corpo, sem o cooperativismo desmedido e tendencioso, mas onde cada um desenvolve seu papel em prol de uma coletividade, com certeza as angústias serão muitos menores. Se cada um tentar resolver seus problemas individualmente, buscando atalhos e sobretudos com mecanismos que passam ao largo da ética, aumentaremos ainda mais o desânimo e a distância. Ao final, todos estamos do mesmo lado com uma profissão desacreditada. Devemos lembrar que o respeito que queremos vem, inicialmente de dentro de cada um de nós. Porem somos uma classe heterogênea, talvez com interesses distintos, mas em comum temos a missão de salvaguardar sonhos para toda humanidade.
Texto de Mimmo Digiorgio
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