“Eu não tenho uma lembrança de como começou o meu desejo pela arte”. Desde criança, o artista Saulo Pfeiffer, de 28 anos, tem um dom para o desenho, o que era apreciado pelos colegas na escola. “No jardim, as professoras gostavam dos meus desenhos, às vezes pediam para eu desenhar nos trabalhos escolares. O desenho pra mim era uma coisa muitfazero natural”, relata.
Aos 12 anos, fez um curso de pintura a óleo que o fez despertar para essa técnica e se apaixonar pela arte. “Não teve uma decisão da minha parte, eu virar um pintor profissional foi bem natural. As pessoas começaram a gostar e queriam ter os meus trabalhos e eu vendia. Eu sempre pensei em estudar e outra coisa, mas eu não dava conta de vender as minhas pinturas e estudar ao mesmo tempo”, conta.
Saulo gosta de começar o dia bem cedo para trabalhar, aproveitar a manhã para desenvolver os seus projetos e deixar a tarde para outros trabalhos que exijam menos tempo.
Estudos e profissão
O artista pensou muitas vezes em fazer uma graduação em alguma área de Exatas, mas desde sempre soube que era o desenho que ele mais tinha afinidade. Se ele não fosse pintor, gostaria de ser um projetista ou algo que fosse relacionado ao desenho técnico.
“Eu tentei várias coisas na área da Engenharia, eu gosto bastante. Até que me dava bem em Matemática. Comecei a fazer automação industrial, parei e comecei a fazer outros cursos nessa área técnica, sempre que envolvia desenho eu gostava mais”.
O artista não tem formação acadêmica, começou a estudar na UEPG e teve outra oportunidade de trabalhar no exterior em uma área não relacionada à arte. Acabou deixando o curso, trabalhou, não gostou do trabalho e quando voltou para Ponta Grossa não teve vontade de voltar ao curso.
“Eu queria fazer algo mais aprimorado, um curso de Belas Artes talvez, mas como aqui em Ponta Grossa não tem, eu optei por estudar sozinho. Comprei livros, importei livros de fora, tive que traduzir pra poder entender o conhecimento. Eu sempre fui muito rigoroso em relação aos artistas que me inspiram, fui muito seletivo, então tem muitos artistas do exterior que inspiram meu trabalho, é deles que eu busco informação”.
O trabalho de Saulo começou a agradar as pessoas e ele começou a fazer exposições. As pessoas começaram a comprar e sempre que ele começava a pensar em seguir outra carreira técnica, na área da automação, sempre alguém queria comprar uma de suas obras. “Ficava sem tempo de procurar emprego, porque estava atendendo os clientes”, diz o artista.
Inspiração do artista
Saulo se inspira sempre que sai de casa para passear. Tudo o que ele vê sempre o faz lembrar da pintura.
“Quando eu saio e vou fazer um passeio, a minha cabeça está sempre voltada para a pintura, então eu sempre estou vendo quando uma luz está sendo projetada na parede, ou como as nuvens ficam num dia nublado. A natureza propriamente dita me inspira, e dentro disso é a luz. A luz é que vai dar as cores da cidade, o brilho, o reflexo. O que me inspira a pintar é reproduzir a luz que eu vejo nas telas”.
Para o pintor, a arte é algo pessoal, mas a partir do momento que o artista produz uma obra, ela deve ser para os outros analisarem. “A opinião dos outros me influencia, quando a reação é negativa, isso me ajuda para mudar e, quando é positiva, me entusiasma a continuar e a melhorar o que eu tenho feito. Quanto mais eu trabalho minha técnica, a reação das pessoas fica mais positiva”.
O mais importante do trabalho de Saulo é a questão da luz. Para ele, a luz dá a ideia do real, do diferente. “Quando eu vejo uma cena urbana ou de natureza, ou mesmo animais em que existe uma luz legal batendo nela, eu procuro colocar na tela. Eu já fiz vários lugares de Ponta Grossa, a ideia era pegar um lugar conhecido, onde a luz estivesse se comportando de maneira interessante, e colocar na tela”.
Processo da Pintura
Depois de ter um motivo para pintar, ou por inspiração, ou por encomenda de algum cliente, Saulo analisa a complexidade do trabalho. As telas por encomenda – de pinturas de cenas militares, ou uma cena histórica, às vezes bíblica – são mais complexas, então é necessário fazer projetos, esboços no papel, para depois passar para a tela.
A tela é um tecido que tem um revestimento que é feito com uma tinta a base de água, depois Saulo passa uma tinta de cor mais escura acinzentada e por cima faz o desenho e os traços que vão determinar os elementos que vão estar na tela. Dependendo do caso, é preciso parar o processo da pintura para esperar a tinta secar, o que é o caso das pinturas mais detalhadas.
“Geralmente, eu começo pelo céu. É ele que vai determinar as cores que eu vou colocar no resto, depois os objetos mais no fundo e, por fim, eu vou trazendo elementos mais pra frente na imagem. No final, eu coloco as tintas mais claras, as luzes.”
Quando o trabalho é de uma pintura mais simples, como uma paisagem, o artista faz em um processo só, chamado de Alla Prima. Alla Prima é uma expressão em italiano que significa primeira, uma técnica de pintura, originalmente a óleo e praticada a partir do século XVII, na qual a tinta é aplicada diretamente na base escolhida, e o resultado final é atingido após essa única aplicação do pigmento.
O artista não segue um processo único para cada pintura, ele escolhe o processo de acordo com a pintura em si e do tempo de produção da obra. Quando é adicionado um produto, a tinta a óleo demora em média um dia para secar, quando a tinta seca naturalmente, sem nenhum produto, demora em média de 4 a 7 dias para secar. Quando a pintura está pronta, o artista assina a tela e passa o verniz.
Arte em Ponta Grossa
Saulo avalia a população ponta-grossense como conservadora, portando uma arte mais conservadora tende a agradar mais o público da cidade do que artes contemporâneas ou abstratas.
“Por arte conservadora eu quero dizer a que tenha forma, que a pessoa identifica os elementos da tela. As imagens que eu coloco na tela podem ser identificadas como forma, como elemento, é uma arte mais conservadora, então a população acaba gostando mais”.
O pintor atualmente consegue se sustentar somente com a sua arte e relata que a sua vida gira em torno da venda das suas obras, o que segundo ele exige estratégia. “O ponto chave para conseguir vender as pinturas é a divulgação; quanto mais bem divulgado, mais fácil de vender”.
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