A magia do taikô ponta-grossense

Em um dos cantos mais isolados de Ponta Grossa, lá pelos lados da Colônia Dona Luiza, um som diferente desafia o barulho dos grilos que ficam na área. É a música dos tambores do Grupo de Taikô da Acenb-PG (Associação Cultural e Esportiva Nipo-brasileira de Ponta Grossa), que há cerca de quatro anos ensaiam as músicas do milenar ritmo oriental na sede da entidade.

Tanto esforço vale a pena. No dia da apresentação, as crianças e adolescentes que fazem parte do grupo impressionam a todos que assistem a performance. A tradição japonesa é mantida nos mínimos detalhes. As roupas utilizadas pelos tocadores de taikô remetem a cultura oriental e, antes de cada evento, o público é reverenciado. Todos os integrantes do taikô se curvam e falam em um uma só voz:

– YORÔSHIKU ONEGAI SHIMASU

https://youtu.be/PadfIRFpDz0

O público fica atônito e confuso, mas aplaude mesmo sem saber que as crianças pediram licença para poder mostrar a arte oriental. A voz dos pequenos (atualmente o grupo tem 9 integrantes de 5 a 16 anos) é fina e muitas mulheres não resistem a graciosidade das crianças. Comentários como “ai que bonitinhos” ecoam pelo público. Mas de repente o silêncio é cessado por um grito. E começam as batidas.

O grupo de Ponta Grossa toca um estilo diferente do taikô tradicional. No início eles até contavam com um mestre japonês chamado Seiki Noda. Mas pouco tempo depois as próprias crianças decidiram assumir o comando dos ensaios. O grupo tem duas composições próprias em seu repertório: Setsugô (que significa união) e Yoake no Odori (dança do amanhecer).

Entre as apresentações do grupo estão a performance para saudar o príncipe do Japão Naruhito nas comemorações dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil em 2008 na cidade de Rolândia, a inauguração da fábrica da Makita em Ponta Grossa e eventos na Unicentro, UEPG, entre outros lugares. O grupo já rodou o Paraná. Isso acontece porque há grande comunicação entre as associações culturais japonesas do estado.

Durante os 15 minutos da apresentação, os espectadores não fazem nada. Talvez estejam em torpor pelas batidas ritmadas dos tambores. Talvez ninguém consiga falar por causa do barulho no local. No taikô, microfones e amplificações são desnecessários. O tambor fala por si só. E as crianças o fazem falar com perfeita harmonia. Mas logo as músicas se vão e chega a hora da despedida. Mais uma vez o grupo reverencia a plateia:

– ARIGATOU GOZAIMASU

Mesmo quem não entende japonês percebe que o grupo nada mais quer do que saldar a plateia por mais uma apresentação. E o público retribui da melhor forma possível. Os aplausos acabam sendo quase mais altos do que o som dos taikôs. Fim de mais uma apresentação, missão cumprida. Só por enquanto. Em menos de uma semana as crianças têm que ensaiar para manter a tradição da arte oriental viva em Ponta Grossa.

Breve história do Taikô 

Em português, taikô significa “grande tambor”. O próprio site do grupo de Taikô de Ponta Grossa conta um pouco da história do ritmo. O taikô surgiu em tempos de guerra e servia para marcar o compasso da marcha dos soldados e também para amedrontar os inimigos na época do Japão feudal. As origens do taikô são de cerca do ano 500 A.C. Tradição que se mantém viva graças a grupos como o da Acenb-PG.

Reportagem de Edgard Matsuki, Karina Chichanoski e Marcelo Gerber 

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