A rotina de quem vive da música

É quase impossível caminhar pelas ruas de Ponta Grossa e não notar a presença de um senhor cego que entoa canções sertanejas de raiz. Trata-se de seu João, que junto com a esposa Ana (e que João insiste em chamar por Sueli, nome artístico dela) passa alguns dias da semana ganhando a vida com o seu banquinho e violão. O que poucos ponta-grossenses sabem é que para tocar em Ponta Grossa, o casal tem que fazer uma viagem nada curta.

Enquanto alguns artistas se dão ao luxo de ter camarins com todas as mordomias possíveis, seu João e dona Ana acordam antes do galo cantar e pegam o ônibus que sai de Ipiranga até Ponta Grossa. Eles aproveitam o benefício de viajar de graça e vão fazer música em um local com maior fluxo de pessoas. Consequentemente, conseguem mais moedas. Tanto que a principal renda do casal é o dinheiro dos “shows” na rua.

A vida de artista do casal começou em circunstâncias diferentes da maioria. Eles tiveram que começar a tocar na rua por necessidade. Em 2006, dona Ana não pode mais trabalhar devido a um derrame. Ela não conseguiu se aposentar e tampouco o INSS buscou lhe dar algum apoio. A saída foi ir para rua cantar. Seu João se aproveitou do que havia aprendido há mais de 20 anos e a dupla foi criada.

Dona Ana acompanha seu João dentro do Paraná, já que apenas no estado há a isenção de passagem. Quando existe a oportunidade de tocar em outros estados, apenas ele viaja. Quase toda semana seu João vai para longe com o seu violão. Entre as cidades em que ele já viajou estão Cuiabá, Campo Grande, Paraisópolis (MG), Sete Lagoas (MG), Florianópolis, Joinville e Aparecida do Norte (SP).

Por sinal, a cidade da padroeira do Brasil é uma das favoritas por João. Sempre em feriados, ele vai para lá e toca violão perto da Basílica. Ele consegue se virar tranquilamente no local. Segundo o músico, o tratamento das pessoas com ele é muito cordial: “As pessoas respeitam a minha condição de cego. E além disso, também acabo agindo com simpatia. Isso ajuda muito”.

A rotina de seu João e dona Ana é similar com a de um trabalhador que sai de uma cidade para outra. Se você quiser conhecer um pouco mais sobre a vida dos dois dê uma olhada na reportagem que o Cultura Plural fez sobre o começo do dia deste casal de músicos que sai da cidade de Ipiranga e vai para diversos lugares com um objetivo: ganhar a vida com um violão.

Reportagem de Edgard Matsuki, Ana Schreider e Marcelo Gotardo

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