A sedutora dança da morte

Numa noite fria de sexta-feira, ponta-grossenses saíram de suas casas em direção ao Cine-Teatro Ópera, onde foram seduzidos pela cigana Carmen. Às 20h15, quando o sinal alertou o público – que lotou a plateia – para tomar seus lugares, as cortinas se abriram e os bailarinos apareceram num palco com cenário muito simples – algumas caixas retangulares vermelhas que foram combinadas de diversas maneiras durante a peça para compor os diferentes lugares por onde os personagens passam.

Policiais com figurinos característicos cercaram duas mulheres em vestidos rodados que estavam brigando: uma trajada de cinza e Carmen, que usava vermelho e era uma cigana que seduzia todos que passavam por seu caminho. O cabo prende a cigana atrás de bailarinos policiais que fazem as vezes de grades de uma cela. Mas o poder de encantamento de Carmen é tamanho que os homens-cela se fascinam por ela, assim como Don José. Assim, a protagonista fica livre da prisão.

Com a descoberta de que Carmen tinha sido libertada, Dom José é desertado da polícia, quando simbolicamente o bailarino tira o figurino de policial no palco e passa a vestir roupas comuns. José abre mão de seu cargo para viver o amor por Carmen.

Apesar de parecer uma história de amor, esse ballet é uma história de tragédia. A montagem do elenco do Balé Teatro Guaíra é uma versão contemporânea do ballet de repertório de 1845, de Marius Petipa, importante coreógrafo e responsável pela montagem de famosos ballets como Lago dos Cisnes e A Bela Adormecida. Mas apesar de ser uma peça antiga, a apresentação traz um problema atual: o feminicídio.

Depois de um tempo, chega ao palco o toureiro Escamillo animando os bailarinos com sua pose e pompa. Conhecendo Carmen, ele também se apaixona por ela, que não deixa de seduzi-lo. Quando Don José descobre o novo romance da cigana, ele, cego de ciúmes e raiva, mata Carmen. Um pano vermelho que cobre quase todo o palco corre por cima dos bailarinos anunciando o assassinato. Don José se debruça sobre o corpo da amada e as cortinas se fecham.

Os bailarinos foram aplaudidos em pé desde o começo da reverência até quando as cortinas novamente se fecharam. A apresentação que comemora os 50 anos do Balé Teatro Guaíra foi coreografada por Luiz Fernando Bongiovanni em 2016. Os ponta-grossenses voltaram para casa transformados por um espetáculo muito sincronizado, tecnicamente bem executado e cheio de poesia de uma história que infelizmente poderia ser a realidade de uma mulher de 2019.

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