Abra a imaginação para o ‘era uma vez…’

Os olhinhos atentos e curiosos. Um sorriso no canto da boca. Todos os pequenos estão em estado alerta. É assim que começa uma contação de história: com o público pronto para soltar a imaginação. E eles estão ali para participar. Quando o professor abre o livro o mundo da fantasia ganha cor e vida.

Para a atriz e contadora de história Ana Luísa Lacombe, a prática da contação de história não só forma futuros leitores como contribui para as crianças entenderem o mundo, pois a história mexe com o inconsciente. Lacombe vê as histórias como uma ferramenta de auto-conhecimento. “Leio livros para construir indivíduos”, completa. Para o professor de educação infantil, Anderson Ribaski, a contação de história trabalha com a imaginação das crianças. Ribaski vê o trabalho como parte do desenvolvimento dos estudantes.

A contadora Raquel Machado, vestida de Emília, leva os pequenos para o mundo do Sítio do Pica-Pau Amarelo e a participar da criação das histórias. Raquel aponta que a contação também trabalha com a improvisação das crianças.“Só encanta quem está encantado. Para você contar uma história você tem que ser apaixonado pelas histórias”, afirma Raquel.

Para prender a atenção vale tudo, usar fantasias, fantoches ou cantar. Camila Genro mistura história e música há 17 anos. Camila foi professora por 16 anos, mas estava infeliz apenas com a lousa preta e fez da contação a profissão. “Desde que o mundo é mundo as pessoas contam histórias”, observa Camila. Hoje, com a televisão, as histórias vem prontas e já dirigidas, a contação leva a criança a imaginar um cenário, um rosto; para Camila essa é a maior importância da atividade.

Além dos estímulos, a contação de história cria um vínculo de pai e mãe para filho, ou de educador para aluno, e também aproxima as crianças do conteúdo que é ensinado: história, filosofia, geografia.

Informar e formar leitores

O professor e pesquisador Sérgio Leite participou do II Congresso de Educação, Leitura e Formação de Leitores em Ponta Grossa e ministrou uma palestra sobre o tema ‘Afetividade e o processo de formação do leitor’. Para o pesquisador, o segredo da formação de novos leitores está na afetividade.

Por muitos anos as escolas entendiam os alunos pelo modelo dualista de ‘razão x emoção’. Assim o professor trabalha com o cognitivo apenas, deixando as afetividades e emoções para fora da classe.

Porém, recentemente, alguns pesquisadores começaram a discutir a concepção monista. Nesse modelo soma-se a razão e a emoção e cabe ao mestre trabalhar os dois lados dos estudantes. Segundo Leite, não dá para apagar o emocional afetivo, pois: “a emoção está na sabe de toda existencia humana”, completa.

Um exemplo da diferença dos dois modos seria o professor de matemática que ensina ao aluno o cognitivo (somar, subtrair, dividir e multiplicar) e não o ensina a gostar da matemática. No segundo modelo o processo seria diferente: o mestre ensinaria a criança a ter afeto – positivo – pela disciplina e não apenas saber operar os números.

O afeto positivo é importante na sala de aula. Mas observa-se que a maioria das escolas ainda é dualista, além de apagar o afetivo, a relação é verticalizada: quem sabe ensina quem não sabe. Esse método é chamado de Educação Bancária – que é o que determina também, por exemplo, que as carteiras fiquem enfileiradas.

Para melhor explicar o que leva uma criança a ler, o palestrante colocou o aluno como sujeito e o aprendizado/leitura como objeto. A relação sujeito e objeto (que é afetiva) é mediada por um agente: o professor. É o mediador responsável por essa relação ser afetivamente positiva. “A criança vai ler se tiver uma relação afetiva positiva com o livro”, afirma Leite.

Leite completou que o conhecimento é construído pela relação entre o sujeito e objeto e não transmitido (como dizia a Educação Bancária) e terminou mostrando que é função do professor a mediação de forma criativa, pois não é qualquer forma de ler que é legal.

A História das histórias

Ana Luísa Lacombe pesquisou a história das histórias e ressalta a diferença entre mito, lenda e fábula. A fábula é um história em que o protaganista geralmente é um animal com capacidades humanas (como falar, por exemplo) e passa uma reflexão moral para quem a lê. A lenda tem origem na narrativa popular e caracteriza-se por dar vida a um anseio de determinado grupo. Já o mito vem da tentativa do homem em dar respostas a perguntas como ‘de onde vem o sol?’. As personagens do mito são deuses.

Além da contação de histórias, os livros voltados para o público infantil ganham espaço nas livrarias e na rotina das crianças. Julia Fernanda da Luz tem oito anos e adora ler. O livro favorito da pequena leitora é ‘Diário de um banana’ (Escrito por Jeff Kinney); e ela não se intimida, pois gosta dos livros que tem bastante página e história. “Eu gosto de livro grosso”, conta.

“Ler é divertido, você pode viajar para vários lugares através de um livro”, relata Julia sobre o porquê ela gosta de ler. Atualmente ela está lendo ‘Querido diário otário’ (escrito por Jim Benton). O livro pertence a uma série e conta a história de uma garota, Jamie Kally, que vive um monte de trapalhadas na escola onde estuda.

Talita Larissa Almeida é a mãe da Julia e conta que o interesse da filha pela literatura ajuda a ampliar o conhecimento, cultura e vocabulário da jovem leitora. Talita relata que começou a ter gosto pela literatura a partir do interesse da filha e incentiva a pequena a ler cada vez mais. Quem escolhe o título é sempre a Julia. “Ela adora ir na livraria comprar, mas sempre busco informações sobre o conteúdo e faixa etária antes de comprar o livro”, afirma a mãe.

‘Querido diário otário’ pertence à categoria de literatura infanto-juvenil. Livros infantis são destinados a crianças entre dois e dez anos de idade. Livros coloridos e com bastante imagens e fotografias. Os que são indicados até 4 anos tem o texto estruturado em pequenas frases. A partir dos seis anos já há estruturas de texto mais complexas, mas sem abrir mão das imagens. A partir desse ponto torna-se comum a leitura de história em quadrinhos como a Turma da Monica.

A literatura juvenil visa o público de 10 a 15 anos, geralmente são livros mais grossos e com menos recursos gráficos. As histórias se passam com protagonistas que tem a mesma faixa etária e falam de assuntos que são do interesse dos adolescentes. Na prateleira da literatura juvenil há livros que viraram best-sellers mundiais como o Harry Potter e ganharam versão cinematográfica.

 

Reportagem de  Luana Caroline Nascimento

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