Américo: uma vida marcada pelo teatro

Em uma sala pequena e cheia no Cine Teatro Ópera, Américo Nunes, figura conhecida e querida de Ponta Grossa, iluminador do Ópera, conta sua história. Sentado em um banquinho com uma prateleira cheia de objetos de todos os tipos como paisagem de fundo, ao lado uma mesinha com alguns jornais, um lanche e objetos de trabalho, vestido com roupas de frio – blusa, colete e touca –, óculos pequenos e a barba branca. Sempre sorridente e bem humorado, brinca que devemos começar do início, mais precisamente no dia em que nasceu.

Américo nasceu em Ponta Grossa, no dia 22 de fevereiro de 1962. “Nasci de parto natural – não lembro direito, era muito novo – na Maternidade Santana, não lembro se nasci ali, acho que sim”, começa Américo. Quando perguntado sobre a infância, ele afirma que sua história de vida é curiosa. Inicia contando que a mãe tem uma leve deficiência mental e que era a avó materna quem tomava conta dele e dos irmãos.

Quando a avó morreu os irmãos foram separados. O mais velho foi adotado por uma família, o do meio foi para a Guarda Mirim. Américo, com cinco anos na época, permaneceu com a mãe que fora internada em um asilo, a Vila Vicentina. Aos sete precisou ser separado da mãe, por normas do asilo, e também foi para a Guarda Mirim. “Fui institucionalizado muito cedo, por isso me dou bem com a instituição”, brinca.

Aos doze anos foi estudar em Curitiba, com a Guarda Mirim. No mesmo ano foi convidado para entrar em um educandário na capital, o Centro de Formação Profissional para Menores de Campo Comprido. Permaneceu lá até os dezoito anos. Quando saiu não conseguiu se acostumar com a vida fora da instituição. Voltou e ficou até os vinte anos. Depois disso morou em algumas cidades do Paraná, três anos depois, retornou à Ponta Grossa. Casou-se e permaneceu na cidade desde então.

Américo conta que o gosto pelas artes e pelo teatro surgiu enquanto ainda estava na escola. No ensino médio fez um curso profissionalizante de Publicidade e Propaganda e nesse curso conheceu a mulher de um ator renomado no Paraná na época. Por influência desta mulher, de quem Américo não lembra o nome, ele começou a ter aulas de teatro, dedicando-se desde então a aprender sobre esta arte.

Em 2011, aproximadamente, Américo Nunes passou a ser “Américo Nunnes” para dirigir uma peça de teatro. Conta que acrescentou uma letra ao sobrenome por conta da numerologia, mas desistiu porque não teve mais sorte por conta disso. Sobre a peça que dirigiu, ele diz que nem se lembra mais o nome dessa peça, mas que deve ter sido um monólogo. “Eu guardava tudo, anotações, recortes de jornal. Agora joguei tudo fora, não guardo mais nada”.

Quando perguntando sobre a esposa, Lucélia Clarindo, ele diz: “Ela me conheceu logo que eu voltei a morar em Ponta Grossa. Eu fui a um festival de teatro aqui na cidade, estava assistindo a uma peça chamada Velória Brasileira e fiquei para o debate – adoro dar opinião, falo pelos cotovelos – e foi aí que ela me viu”. Logo entrou para um grupo de teatro, o Lambe-Lambe, que chegou a participar do Festival Nacional de Teatro (Fenata).

Na primeira montagem do grupo, O Palheiro, Américo conheceu Lucélia. Os dois contracenavam juntos e logo começaram um relacionamento. Inclusive, o primeiro filho do casal, hoje com 26 anos, foi gerado na época em que a peça era encenada. Logo após se conhecerem, o casal morou por alguns anos no teatro Pax, algum tempo dentro do teatro e depois na casa dos fundos. Foi quando morou no Pax que nasceram todos os filhos de Américo. “Eles brincavam na coxia, viam todas as montagens, talvez por isso ficaram desequilibrados. A menina estuda dança, o mais velho estuda música na Federal (UFPR), e o mais novo toca contrabaixo e não faz mais nada, é muito novo, dezoito anos é uma criança ainda”, brinca.

Sobre a profissão, ele diz que foi convidado para ser iluminador do Ópera e conta que não tem horário fixo, trabalha seis horas por dia, revezando com um colega, mas precisa fazer “de tudo um pouco”, por isso precisa estar presente a qualquer momento. “Isso não é um trabalho, é um sacerdócio. Qualquer profissão, se a pessoa gostar, vira sacerdócio”.

Reportagem de Andre Lopes

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