As contribuições de Nei Costa para o rádio ponta-grossense

Entrevista: João Quacquio | Edição: Nadine Sansana

A entrevista com o radialista Nei Costa foi realizada, em 2005, pelo então estudante de graduação em Jornalismo, João Quacquio, como parte do seu trabalho de conclusão de curso.

Nei Costa trabalhou no exterior, cobrindo várias copas do mundo de futebol, e recebeu vários prêmios. Ele trouxe para Ponta Grosa algo do jeito de fazer rádio dos grandes centros. “Eu sou muito saudosista”, diz. Seus relatos ajudam a compreender sobre os tempos em que mandar uma notícia a uma emissora era um pouco mais difícil do que a realidade vivenciada com a internet. Nei Costa faleceu no dia 11 de julho de 2019, aos 74 anos. O Cultura Plural também teve a oportunidade de entrevistá-lo, em 2016, você pode conferir clicando aqui.

Há quantos anos você trabalha no rádio?

Eu comecei a trabalhar no rádio com 16 anos, em 1961. Então, eu tenho, automaticamente, 42 para 43 anos de ofício.

Começou a trabalhar em qual emissora?

Eu comecei na Rádio Difusora.

Passou por outras emissoras?

Passei por todas. Passei pela Clube, Central, Difusora, que eram as três da época. Daí, eu fui para Curitiba, para a Rádio Guairacá. Depois da Guairacá, eu fui pra PRB 2, quando eu tinha 20 anos, em 1965. Em 1969, já fora de Ponta Grossa, na PRB 2, fiz a primeira excursão de futebol. Era locutor de futebol e disc jóquei [DJ]. A primeira excursão de futebol à Europa do Paraná. Fui o primeiro locutor da história do rádio paranaense a transmitir da Europa em 1969. Eu transmiti de 18 países pela excursão do Coritiba.

Então foi fazer uma cobertura esportiva?

Isso. Transmiti de 18 países em 1969 e eu era locutor esportivo e fazia disc jóquei ao mesmo tempo. E depois da minha volta da excursão do Coritiba, eu fui contratado pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Fui locutor esportivo desta emissora. Eu fiz o Campeonato Brasileiro, que naquele tempo era o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, e as primeiras transmissões da loteria esportiva nos estados de todo o Brasil. Aí já era 1970.

Já que o senhor trabalhou com jornalismo esportivo na década de 1960, poderia falar um pouco do cotidiano, do dia a dia do rádio na época?

Olha, era diferente de hoje, porque tá tudo sintetizado, computadorizado. Nós tínhamos dificuldades de fazer transmissões internacionais. Não tinha essa instantaneidade que tem a TV e o rádio via satélite hoje em dia. Então, se eu transmitia diretamente da Bulgária, na transmissão esportiva, eu transmitia simplesmente de Sófia [capital da Bulgária] e eu não sabia se a transmissão havia chegado. A Bulgária – e países comunistas, que eu andei muito – não tinha essa instantaneidade. Você transmitia e ficava esperando um telegrama do Brasil, para ver se a nossa transmissão tinha chegado. As transmissões nacionais, por exemplo, na Bahia, eram muito difíceis… No interior, em Alagoinhas, até menos, em Salvador, porque a gente tinha a Rádio Naus. A Embratel veio a partir de 1969, 1970. Com o advento da Embratel, tudo foi ficando mais fácil. As transmissões esportivas de hoje são realizadas com tremenda facilidade. O advento das comunicações foi a partir de 1970. A primeira Copa do Mundo ao vivo para o Brasil aconteceu neste ano [1970]. Eu transmiti cinco copas do mundo pela Rádio Bandeirantes. Quando eu vim contratado pela Bandeirantes de São Paulo, eu já tinha feito a Copa da Alemanha, em 1974. E tinha feito excursões em 1973, em Moscou, toda a Escandinávia, países da África… E nessas transmissões, a partir de 1973, você já conseguia falar: “Alô, Embratel. Alô, Brasil”, da Suécia, da Finlândia, da Noruega, em Oslo, em Helsinque…

Para a transmissão era usada a telefonia como base?

É, você já fazia uma transmissão usando a telefonia como base. Não tinha o número de emissoras que tem hoje nacionalmente. Quem conseguia transmitir era, no máximo, quatro, cinco, dez emissoras. Tinha, por exemplo, uma dificuldade na África, por Richard Nixon estar usando o satélite e você ia transmitir diretamente de Argel, na Argélia ou da Tunísia. O que acontecia em Tunis? Nós tínhamos uma dificuldade porque estávamos usando satélite. Então, nós íamos via Genebra, na Suíça. Então, a transmissão tinha algumas saídas e, às vezes, não. Mas, a partir de 1973, 1974, tudo se modificou. Na Copa da Alemanha, nós alugamos uma casa e a linha era direta. Dois telefones e linha instantânea para falar com a tua casa, depois que você transmitia as notícias. Hoje, todo mundo fala com a casa. “Alô. Liga para a minha casa”, depois da transmissão e fala pra todo mundo que tá lá. Galvão [Bueno], que é meu colega, trabalhou comigo. O Luciano do Valle fazia copa comigo. São todos meus contemporâneos. Nós fizemos, juntos, todas as copas do mundo: 1974, 1978, na Argentina, 1982, na Espanha, 1986, no México.

Nei Costa, apresentador e narrador esportivo, nos estúdios da Rádio Clube | Foto:  Site “O rádio e a televisão do Paraná” (Basílio Júnior)

O departamento esportivo era forte já na década de 1970 no rádio?

Sim. O departamento esportivo sempre foi o mais forte, porque o futebol é a chama viva no coração do torcedor do Brasil. E o futebol era muito mais do que era hoje. Porque esse advento da televisão estragou o futebol brasileiro para o público. Se você pegar a estatística, o Campeonato Brasileiro teve, nesse ano [2005], 7.900 pessoas por jogo num estádio. Quando eu fui ao Rio de Janeiro, em 1969, em 1970, ao Maracanã, vi partidas decisivas, com 130, 140 150 mil torcedores… É só você voltar em 1971, 1972… Volte à história, pegue todas as Gazetas Esportivas, que você vai ver que estou falando a verdade. O dia do Santos x Milan… O famoso Santos x Milan, do Amarildo, em 1962, em que o Pelé não jogou, eu abri a porta do sexto andar do Maracanã e me arrepiei, porque tinha 159 mil pessoas dentro do estádio. Então, naquele tempo, a gente tinha campeonato com mais de 100 mil. E hoje a gente tem uma média de 7.900 por partida. Culpa da televisão, culpa da Record, culpa da Globo. Dia de quarta-feira, quando tem futebol, não vai ninguém! Facilitou para o cara que fica em casa tomando cerveja. Mas o futebol só perdeu. E não sei como vai continuar. Veja: na Europa não é assim. Você é obrigado a comprar a carteirinha do Milan o ano inteiro. Vai pegar a camisa do Kaká, vai vender 100 mil camisas lá, em dólares ou euros, seja lá o que for, vai pegar o Ronaldinho do Barcelona ou o do Real Madrid, e esse jogador paga tudo, porque a torcida faz com que esse jogador venda 100 mil camisas. O futebol virou empresa! Por isso que se gasta milhões.

Um dos maiores locutores do futebol brasileiro era Pedro Luiz e Edson Leite da Rádio Bandeirantes. E eu vim de uma outra era. Eu tinha um amigo muito bom chamado Osmar Santos, que hoje tá doente. Eu era amigo do Osmar e nós transmitíamos juntos. Aquela excursão para a Rússia, aquela por 18 países, nós estivemos juntos. O Osmar é muito meu amigo. Nós estivemos juntos em Moscou. Era o meu estilo… O mesmo do Osmar.

O senhor chegou a trabalhar com futebol aqui em Ponta Grossa?

Eu fiz futebol aqui em Ponta Grossa com o Barros Júnior. Ele foi um grande locutor. No auditório aqui atrás do estúdio [da Rádio Clube], o Barros Júnior comandava a nossa equipe e eu comecei com ele. Com uns 15, 16 anos eu já trabalhava com Barros Júnior. Irradiava, mas não como ele. Fiz muitas partidas, por três anos. É que eu fui para Curitiba narrar futebol.

Como era a expectativa criada em torno das notícias da Guerra Fria? Elas eram aguardadas pelo rádio?

A guerra funcionou no rádio desde 1945. Tudo funcionou pelo rádio. A televisão se abriu mesmo depois de 1970. O rádio era o porta-voz.

O senhor passou pelo período da ditadura militar. Chegou a sofrer alguma censura? Como sentia o clima da ditadura?

Não, não. A ordem da direção da rádio era para a gente não se meter em política. Alguns locutores que chegavam a criticar o regime foram presos.

Como vocês faziam o Grande Jornal Falado?

Ah, não tinha nada de computador. O gravador era desse tamanho [grande]. Era a casa de notícias. Mas era mais artesanal. Aqui no estúdio era eu e ele [o operador da mesa de som]. Transmitia um desfile de lá e o Barros Júnior entrava: “Alô, Nei Costa, fala da avenida, desfile de 15 de setembro”. “Alô, Barros…”, e a gente trocava… Eu aqui e ele lá. Era uma coisa muito diferente. O material era o microfone, você levava a maleta para o estádio. A maleta era… Como chamava a maleta? Não me lembro do nome da maleta. Maleta grande. Dentro da Rádio Tupi, em 1970, eu levava para Florianópolis, para o Ceará, Recife. E não tinha operador. Eu instalava a maleta – eu era o locutor – e o microfone e chamava: “Alô. Alô, Central de Recife, tudo bem? Aqui é Nei Costa. Eu estou no Mundão do Arruda”. No Rio, na Tupi. Todo mundo era da Rádio Nacional, da Tupi… E a gente transmitia ali, com o microfone direto, que nós mesmos carregávamos.

O equipamento era muito pesado?

Muito pesado. Na Europa eu carreguei porque eu não tinha reposição. Putz… Eu carreguei três maletas na Europa. Eu andava magrinho. Eu era muito magro. Tinha uns 100 metros de fio para poder transmitir. Acontecia alguma coisa com a maleta ou se eu não tivesse condição de arrumá-la, eu passava pra outra. Eu ia ficar três meses na Europa.

As emissoras tinham operadores, mas como era quando se precisava viajar?

Andávamos sozinhos. Na excursão de 1973, algumas emissoras levavam operadores só para instalar o material. Na Copa do Mundo da Alemanha, todo mundo já levava operador. E hoje todo mundo anda de operador. A gente não instala nada. Na Globo, por exemplo, o cara vai com um operador, um cara especializado em fazer abertura.

Hoje tudo é mais funcional, não é? Cada um faz a sua parte?

Claro. O cara te chama: “Nei, tá pronto. Pode entrar”. E aí você entra: “Boa tarde, Brasil, estamos falando diretamente da África”. Senão, você tem muita dificuldade. Antes, tudo era muito difícil. Você ia sem saber o que poderia acontecer.

E em Ponta Grossa, como chegavam as notícias?

Por telégrafo. A gente fazia e redigia o jornal.

Vocês tinham como “espelho” o estilo de narrar dos grandes centros? Como vocês narravam?

A gente tinha uma referência, o que a gente fazia era copiar o rádio. Nessa época, em Ponta Grossa, você tinha um rádio grande. Se você pegasse um Repórter Esso, do Rio de Janeiro, você tinha tudo. Você gravava o Repórter Esso. Gravava Eron Domingues: “Alô, alô, Rádio Nacional do Rio de Janeiro, são 13 horas”, “Alô, alô, Repórter Esso”. O Repórter Esso entrava no ar e dizia: “O preço da gasolina subiu. O presidente Getúlio Vargas deu um tiro no peito”. Você botava num gravador antigo antiquado (sic), não desse mínimo que você tem aí, mas você batia [mostrando o procedimento] assim e copiava. Você ficava na máquina de escrever e, em 10 minutos, você tava com o noticiário do Rio de Janeiro, pronto. Quem não tava ouvindo a Rádio Nacional, ia ouvir a mesma notícia em Ponta Grossa.

Os radialistas sempre faziam aquele trabalho de estar sempre com o “ouvido grudado” nas emissoras nacionais?

Sem dúvida. “O papa tá morrendo”. “Atenção: o papa morreu”. A Rádio Nacional dava no Rio de Janeiro, a Rádio Record dava em São Paulo, em dois minutos se dava a notícia aqui.

Com o advento da televisão as coisas foram mudando?

Sim. Hoje, com o advento da televisão, as coisas foram mudando. O satélite hoje… Se você for ali no estúdio agora – nós temos um convênio com a Bandeirantes, que era a minha rádio – se você cair do ar aqui, tiver algum problema, a Rádio Bandeirantes tá ali. Pode ir lá. Colocam um plug e fica passando a programação da Bandeirantes. Eles mandam a programação. A Gaúcha manda, a Jovem Pan manda. Todas elas têm um satélite desde 1987. Eu sei porque eu estava em São Paulo, na Bandeirantes e inaugurei o satélite.

Quando a recepção de transmissão via satélite entrou na rádio Clube? Foi em 1987?

Acho que a Clube tem faz um três ou quatro anos.

Quanto à publicidade, pode-se dizer que ela sempre esteve ao lado do rádio, principalmente na fase áurea, com as radionovelas. O próprio Repórter Esso seguia essa linha, aliando uma marca ao nome do programa. É isso?

O rádio hoje depende exclusivamente de patrocínio. O problema é que está cada vez mais difícil conseguir patrocinador, devido ao número de emissoras de rádio. São milhares no Brasil hoje. Se você juntar rádios AM e FM, têm emissoras em toda a parte. Tem que selecionar, porque daí, as empresas de publicidade, as agências, colocam publicidade nas emissoras que possuem maior audiência.

Como se fazia para conseguir patrocinadores naquela época, na década de 1960, 1970?

Tinha que ir atrás, buscar, visitar. O Barros Júnior… Todos nós. Hoje ainda. Com o meu patrocinador aqui houve uma terceirização. O patrocinador vem pra mim, eu trago, a rádio ganha e eu também.

O rádio na década de 1940, 1950, não sei se também em anos posteriores, quando o senhor começou a trabalhar, era encarado mais como um hobby. Porque não era uma profissão fixa ou não era encarado como uma profissão mesmo. Às vezes, havia um narrador, um locutor especial, um radialista, que trabalhava em banco e que também exercia sua função na rádio. O senhor chegou também a fazer isso?

Olha, muita gente fez isso. Primeiro, porque ele não era um rádio profissional, como você disse. Então, os grandes locutores faziam “bico”. Até ganhavam um cachê do patrocinador aqui. O rádio veio na década de 1920, no Rio de Janeiro, na rádio de Roquette-Pinto. Eu tinha um livro de história do rádio, não sei onde é que eu coloquei… Paulo Roberto era médico e era um grande apresentador; Manoel Barcelos, comerciante. Até os 1950, quando se tornou profissionalismo. Então, mesmo os pais não deixavam as filhas trabalharem na novela. “O que? Você vai trabalhar no rádio?!”, era uma coisa feia. “Mas, você vai naquele auditório ver aquela rádio!”, era vergonhoso. Era como se fosse um pouco de prostituição fazer uma novela.

Talvez, naquela época, se via como uma profissão mesmo ser um médico, um advogado?

Exatamente. Os filhos eram todos formados para isso. Não existe radialista. “Radialista… Você tá maluco ser radialista!”. Mas radialista acabou se tornando uma profissão. Jornalista foi em 1970. Eu era radialista em 1961, 1965, e nunca tive diploma. Todos os radialistas da época foram provisionados. “Vocês que são radialistas agora estão provisionados pelo sindicato”. Daí começou a existir a faculdade de Jornalismo. Nós não tínhamos isso. Não existia profissão. Passou a existir há uns 35 anos.

Algo da história da Rádio Clube foi preservado em gravações ou até mesmo documentos que mostrem os proprietários da emissora ao longo do tempo?

A Rádio Clube tem uma história muito bonita. Uma pessoa que você pode conseguir algo é o Aldo Mikaelli. Ele tem tudo. O Aldo Mikaelli é o maior acervo do rádio em Ponta Grossa. Ele faz a Festa do Radialista todo ano.

Como o público reagia ao fenômeno rádio na década de 1960?

Reagia muito mais. Dez mil vezes mais do que hoje. Porque o rádio era novidade e o número de televisões era muito menor. A diversão era o rádio.

As famílias chegavam a se reunir em torno de um receptor de rádio?

Ah, claro. Para acompanhar a novela. Todo mundo. Você [como radialista] era recebido nos bailes. O radialista tinha um valor extraordinário.

E quanto aos artistas locais?

Eram deuses! A voz do camarada era uma voz linda! Os radialistas eram deuses!

O fator voz era muito valorizado?

Ah, sim. A concorrência dos anos 1960 era maior do que hoje pra contratar um locutor. Hoje não tem essa concorrência. Tem, mas é rara. Não vou dizer que não tem. Antes era: “A Rádio Sant’Ana vai inaugurar. Tira o Nei Costa, o Rogério Sermann e traz pra cá”.

Havia uma certa disputa entre as emissoras?

Havia entre todas. Havia entre as emissoras e, inclusive, entre os locutores.

A segunda emissora instalada em Ponta Grossa foi a Central. O senhor trabalhou lá quando?

Eu comecei na Difusora, depois eu fui pra Clube e pra Central. Tudo entre 1961 e 1965.

Percebia alguma diferença entre as emissoras?

Não. Todos eram grandes profissionais. Elas eram orientadas por pessoas vindas de São Paulo. Os maiores locutores de São Paulo vieram pra cá. O Barros Júnior, que era diretor da Clube, o Luiz Frederico [Daitschmann]…

O Barros Júnior veio jogar basquete. Ele já era locutor em São Paulo antes?

Não sei. Mas ele veio muito jovem. Tinha uma voz maravilhosa. Tinha também o pai da Guta, professora famosa aqui. O Luiz Frederico e a dona Vera, mãe da Guta, era uma dupla que fazia novela. O Fernando Ribeiro, que dirigia a Rádio Central, já faleceu. O Fernando Pereira e a Rosemari Lopes Pereira. Então, cada rádio era dirigida por uma dupla.

Na década de 1980, o rádio começou a passar por algumas mudanças? Como foi?

Passou. Começou a se transformar. Eu acho que para o pior. Eu estava na Rádio Bandeirantes. Para nós, houve uma abertura política. Do pessoal que tinha ido embora, todo mundo retornou. Sob o aspecto político, foi muito bom. Mas eu acho que o rádio FM prejudicou um pouco. Eu digo o rádio como veículo, o rádio como notícia. O FM é um repetidor de música.

Houve outras parcerias com emissoras nacionais no rádio em Ponta Grossa, além da Clube com a Bandeirantes?

São poucas as emissoras que fazem parcerias. A Rádio Bandeirantes foi a que inaugurou. Eu estava lá, em São Paulo, quando ela inaugurou, foi a primeira, em 1987, eu estava lá ao lado do seu João. O discurso dele eu anunciei, a presença dele enunciou esse monstro que era o transmissor via satélite para todas as emissoras. A Bandeirantes, a Jovem Pan, que são muito noticiosas, em São Paulo, e a CBN, que era Globo, a Rádio América também tem, a Gaúcha. São poucas. Você vai contar na mão, não dá oito, dez. Aqui em Ponta Grossa, o sinal da Bandeirantes é da Clube, a CBN, ali embaixo, tá direto, que usa a programação nacional quase em tempo integral, com o espaço local às 9 da manhã. Nós fomos Pan antes da Bandeirantes. A Rádio Clube começou com o sinal da Jovem Pan.

E isso foi quando?

Se eu não me engano, foi em 2002. Ficamos por um ano e meio com o sinal da Jovem Pan. O Rogério [Sermann] quando veio trouxe a Bandeirantes.

Mas quem fazia as parcerias era só a Clube?

Só a Clube. A Rádio Sant’Ana deve ter parceria também com a Rede Católica de Rádio. Essa rede faz missas, transmite noticiários também.

Quanto tempo você trabalhou na Sant’Ana?

Em 1962 eu trabalhei na Sant’Ana. Quando inaugurou a rádio. Trabalhei um ano.

Como foi trabalhar numa rádio administrada pelo bispado?

Era um trabalho normal. Mesmo jeito, mesmo estilo. Eles visam o lucro. Mais ainda. A Igreja católica trabalha muito profissionalmente. A maior rádio de Curitiba pertence a eles – os Irmãos Maristas, não têm nada a ver com os padres. A emissora católica faz o mesmo trabalho das outras, mas dirigida pelo catolicismo. Mas a propaganda é a mesma. Veja a Rede Vida de Televisão: propagandas de viagem para a Europa, viagem para a Itália. A Igreja católica dirige muitas emissoras: Rádio Aparecida, tantas emissoras… A Rede Católica possui até canal de Televisão.

O que o senhor acha do gênero all news, usado pela CBN?

Eu acho que toda tendência é modernizar. O mundo está extremamente modernizado. Eu não sei aonde a gente vai parar. Eu estou me sentindo já um velho decrépito da comunicação. É só você olhar para o gravador, para o telefone celular, computador. Eu estou me sentindo um aposentado. A qualidade artística eu acho mais baixa do que nos anos 1960. Eu sou saudosista. Acho que a qualidade artística do trabalho que se faz hoje, no modernismo, não exige muito do profissional. Se você fosse um profissional de radio do meu tempo teria que aprender português, inglês, francês e até latim para entrar numa rádio e sair pela Europa, conhecer o mapa do mundo, tudo, tudo…

A série de entrevistas com profissionais que atuaram e atuam no rádio ponta-grossense é fruto do trabalho da estudante Nadine Sansana, orientada pelo professor Sérgio Gadini, pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Ponta Grossa, vigente entre os anos de 2018 e 2019. Sob o título Memórias de vida e trabalho na mídia regional dos Campos Gerais do Paraná, o projeto contribui com o acervo memorialístico radiofônico da cidade, tendo em vista a ausência de arquivos, registros e documentos sobre a história do rádio em Ponta Grossa.

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