Caipira, pirapora nossa…

A linguagem popular é carregada de provérbios, derivações, ditados… E o linguajar caipira, presente nos quatro cantos do Brasil, é talvez o maior representante deste modo de falar do povo brasileiro. Ele é entendido por todos, mesmo com suas variações regionais. E são essas variações que dão o tom de humor na peça ‘Concessa em: Pendura e Cai’, apresentada no lançamento do 39º Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa (Fenata). Derivações linguísticas populares e próprias de determinadas regiões se tornam exóticas ao serem levadas a outros locais. O que é totalmente corriqueiro nos Campos Gerais, por exemplo, se torna engraçado ao ser falado no nordeste, ade.

Podemos ver mais de perto esta confluência de falas no Jacu Rabudo, livro de Hein Leonard Bowles, que sistematiza inúmeras linguagens deste dialeto presente na região. Na peça, o texto traz o caipirês como o personagem principal, encarnado em Concessa, típica mulher criada na roça, que cria seus filhos de forma singela e não compreende as modernidades inventadas por eles. O monólogo interpretado pela atriz mineira Cida Mendes consegue fixar o público em uma imagem que certamente eles já presenciaram. Com cenário simples – os varais de roupa de sua casa –, Concessa vai conversando com o público, chegando a oferecer aquele cafezinho passado na hora (de verdade!) para espertas espectadoras.

O riso é constante, seja pelo modo de falar da personagem, seja pela tradição pura da mulher dedicada ao marido, sua timidez ou sua ingenuidade, que chega a lavar peças do computador do filho em uma mistura de ervas, já que o aparelho está com vírus. Nada mais justo para comemorar o lançamento de um dos festivais mais importantes do teatro brasileiro do que a peça de Cida Mendes. Com maestria, conseguiu honrar o tradicional palco do Cine Teatro Ópera com o que há de mais popular neste país: seus dialetos.

Por Eduardo Godoy

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