Celebrações religiosas online: como as comunidades estão mantendo a fé em meio à pandemia

Com o isolamento que restringe a circulação, algumas pessoas se agarram a fé, outras encontram dificuldade com as novas tecnologias

Em março deste ano, completamos um ano de recomendação de isolamento social e consecutivos decretos de restrição ou flexibilização do comércio. Em Ponta Grossa, algumas comunidades e templos religiosos precisaram se adaptar, tendo em vista que em determinados momentos não poderiam abrir seus templos. De acordo com o decreto em vigência desde o dia 15 de maio, as igrejas podem promover atividades presenciais como determina o artigo 15. Segundo o texto, “[o]s templos de qualquer culto devem observar a Resolução n.º 221, de 26 de fevereiro de 2021, da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, com ocupação máxima do espaço em 30%.” A SESA recomenda que os líderes religiosos e a população realizem os atos de forma não presencial. Fiéis de diferentes credos precisaram se adaptar, assim como os espaços de atividades religiosa. Uma das principais dificuldades encontrada pelos templos é a tecnologia e aspectos técnicos. Os pontos positivos apontados foram a maior disseminação da fé em diferentes lugares.

Celebrações que estão acontecendo no formato híbrido

A sinagoga Anussim Brasil já realizava algumas celebrações online desde 2015 para acamados e moradores da área rural que não tinham o acesso ao local. Com a pandemia, o uso das transmissões foi ampliado, mas também foi necessário um processo radical de adaptação dentro da comunidade judaica. Shemuel Zakai, representante da Anussim Brasil de Ponta Grossa, conta que a primeira transmissão feita durante a pandemia foi em 2020, feita pela Comunidade Israelita Paulista (CIP). A comunicação focava os doentes da covid-19 no hospital Albert Einstein em São Paulo. “Foi o primeiro experimento online que a comunidade fez no Shabat”. Zakai explica que, principalmente, os grupos ortodoxos evitam o uso de internet no Shabat. “Depois dessa transmissão, outras comunidades utilizaram essa ferramenta [a internet], quebrando um tabu.”

Zakai descreve a internet como um instrumento que possibilita alcançar as pessoas de diferentes locais. Mas a rede dificulta as celebrações, já que a maior parte das práticas judaicas têm um modo próprio de ser feito. As rezas do Shabat e a refeição que o acompanha exigem um quórum mínimo de dez homens com idade mínima de 13 anos. O cortejo da Torá aos sábados de manhã também é prejudicado. “São liturgias diferentes em diferentes horários e boa parte delas acompanha uma prática que não se transfere online, então a comunidade sente.” A sinagoga está funcionando de forma híbrida, de acordo com as indicações do decreto em vigência que possibilita que 30% dos lugares sejam ocupados.

Não é só a comunidade judaica de Ponta Grossa que perdeu uma parte importante dos seus ritos com a passagem para o virtual. A igreja Nossa Senhora do Pilar, localizada na Palmeirinha, está realizando os cultos presenciais, respeitando o decreto em vigência, e também transmitindo as missas online. O padre Clayton Delinsk Ferreira afirma que o que se perde no formato online é a materialidade. “A celebração perde no sentido de não receber na materialidade. Eu não posso abençoar com água benta nem dar o sacramento, que é uma graça invisível dada por sinais”. Apesar

disso, a internet facilita o acesso. O religioso comenta que o espaço limitado de 400 pessoas que ele poderia receber, na internet, é expandido. “Eu já cheguei a ter transmissões com mais de 2.500 pessoas”. Para o padre, o que se perde também é a vivência comunitária. Sem esta, o fiel corre risco de se alienar das questões que envolvem a coletividade. “Se eu não vejo os problemas da comunidade, eu não me engajo com eles”, explica.

Delinsk comenta que esse espaço na rede precisava ser ocupado pela igreja até antes mesmo da pandemia. “Nós padres e outros membros não tínhamos percebido com muita clareza. A igreja está no mundo e precisa se fazer presente nos espaços modernos. A igreja é comunicador”. Neste processo, o sacerdote comenta que alguns idosos ficaram de fora. São os chamados analfabetos digitais: pessoas que têm acesso a aparelhos tecnológicos mas não conseguem utilizá-los. Isabela de Andrade Rocha, presidente da Pastoral da Comunicação (Pascom) da igreja Nossa Senhora do Pilar, comentou que o processo de transição foi muito difícil no inicio, mas que a Pascom está auxiliando a igreja. “Para que a palavra de Deus chegue mas casas de todos da comunidade”, comenta.

As mudanças enfrentadas pela Comunidade Evangélica Rhema em Ponta Grossa também perpassaram os problemas técnicos no início assim como a igreja Nossa Senhora do Pilar. Para contornar estes obstáculos a comunidade precisou arrecadar equipamentos para as transmissões e pedir ajuda para membros mais familiarizados com as comunicações em dimensão digital. Josilene Machado, Pastora Sênior, conta que no início as transmissões recebiam poucas visualizações, mas que agora o número está se estabilizando. São promovidos cultos online, dentro das possibilidades do decreto em vigor, para aqueles que não conseguem acompanhar a forma online. Machado também explica que alguns fiéis não quiseram se adaptar ao formato remoto. “Algumas pessoas se abriram e outras não. Mesmo tendo internet e celular, elas pedem o presencial. ‘Ah eu não consigo falar com uma máquina’ é como eles dizem”. Para contornar isso, a pastora explica que promoveram tutoriais e incentivaram o uso das plataformas entre o grupo.

As dificuldades enfrentadas no formato online, para a religiosa, são que a atmosfera de concentração e o ambiente do templo não podem ser replicados em casa. Há também a falta de contato humano. “Temos diversas senhoras que são viúvas ou mulheres solteiras mesmo que se sentem muito sozinhas. Elas sentem falta de alguém para orar com elas. Mesmo que a gente se veja pela tela. Não supre esse contato”. Os pontos positivos para ela são que a procura de outros integrantes de outras comunidades aumentou e que não há esse gasto de deslocamento pelos fiéis que permanecem em suas casas assistindo a celebração. Segundo Machado, alguns começaram a participar mais no modo remoto, outros já perderam o hábito de ir na igreja durante a pandemia.

Só formato online

Alguns Centros Espíritas de municípios nos Campos Gerais paralisaram totalmente as suas atividades. Agora as atividades promovidas são transmitidas de forma online via Facebook ou outras plataformas. Em Ponta Grossa, estão abertas apenas a biblioteca do Centro e um plantão de atendimento às pessoas que passam por dificuldades. Edson Luiz Wachholz, vice-presidente da União Regional Espírita da 2ª região, comenta que a escolha pela paralisação foi feita de forma consciente, já que mesmo sem querer o Centro poderia promover a infecção de frequentadores.

Wachholz também pondera que o contato humano se perde neste formato e que alguns frequentadores sentiram dificuldade em utilizar a internet. Segundo ele, aqueles que sentiam dificuldade com os dispositivos e processos digitais conseguiram se adaptar. De positivo, as reuniões têm agregado mais participações e evitado deslocamentos. “O Espiritismo é uma doutrina filosófica que exige estudo contínuo dos seus profitentes. Desta forma, realizamos uma agenda

intensa de cursos a fim de qualificar nossos voluntários. Com a pandemia, precisamos nos adaptar e essa adaptação para as reuniões de estudo on-line possibilitou a participação mais efetiva no Brasil todo”, comenta. Wachholz observa que um obstáculo relacionado às reuniões online foi que novos participantes não conseguem ter acesso as atividades. O número de ingressantes caiu bastante. Outra dificuldade é que alguns palestrantes se sentem tímidos ou não conseguem dar suas palestras no formato online.

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