De pequena Londres à capital do café

Por Fabiana Manganotti

Um dos pioneiros da cidade de Londrina, Antônio Loretto Ribeiro irá completar 88 anos em outubro. Nasceu em 1931, antes mesmo da fundação da cidade, que ocorreu em dezembro de 1935.

O seu pai, Joaquim Loretto Ribeiro, mudou-se para Londrina montado em burros, pois não tinha estrada naquela época, e foi sozinho, sem trazer a família. Ele ficou em Londrina por seis meses, até que sua mãe, Izabel Pedro de Pedra de Paula, e irmãs também se juntaram a ele.

Joaquim foi trabalhar para um fazendeiro chamado Palhano, um grande ruralista da região. Ele ajudava a cultivar as terras e com o passar do tempo ganhou confiança, até que seu patrão lhe fez uma proposta: ele poderia ficar com parte das terras se conseguisse desmatá-las, pois se tratava de um local ainda não explorado. Ele, então, conseguiu desmatar três alqueires.

Com oito anos, em 1939, Antônio começou a estudar. Andava cerca de 14 quilômetros junto com a sua irmã mais velha: “passávamos por muitas fazendas até chegar na escola Mãe de Deus”, comenta. A escola foi fundada em 1936, junto com a cidade de Londrina, para atender as famílias pioneiras do Norte do Paraná. “Devido à rotina cansativa permaneci até o sétimo ano, desisti de estudar para ficar em casa e ajudar meus pais na agricultura para nosso sustento. Dos 12 aos 16 anos fiquei trabalhando no sítio”, completa Antônio. 

Começou a procurar trabalho na cidade e teve uma primeira oportunidade como alfaiate, mas o que lhe interessava era a mecânica. Conseguiu um serviço como aprendiz em uma oficina mecânica e ali começou uma paixão. 

Em pouco tempo, trabalhou em três outras oficinas, o que lhe proporcionou uma especialização na área. O reconhecimento veio quando teve uma oportunidade em uma grande concessionária da cidade, mas como era novo e com grande experiência ficou pouco tempo ali. 

Aos 26 anos estava casado, tinha dois filhos e sua esposa estava grávida de gêmeas, foi então a começou a ter necessidades financeiras, o que o fez trabalhar e morar em uma pedreira, com conserto de caminhões ou, algumas vezes, como motorista. Devido ao perigo referente à explosão das pedras, optou por buscar novas possibilidades.

Surgiu uma oportunidade de trabalhar em uma fazenda perto da cidade de Porecatu, onde continuou atuando como mecânico. Neste período os filhos mais velhos se mudaram para servir o exército nas cidades de Brasília e Londrina, enquanto as crianças permaneceram na fazenda.

Durante dez anos de permanência na fazenda, Antônio, por muitas vezes, tentava investir o dinheiro guardado, primeiro comprando um caminhão para frete, e num segundo momento, construindo uma casa em Londrina, que posteriormente seria alugada, ainda como fonte de renda extra. 

Devido à construção de uma usina hidrelétrica no Rio Paranapanema no ano de 1977, a família Ribeiro foi obrigada a abandonar a casa, que estava na área de inundação. Foi então que optou em retornar para a cidade de Londrina.

De volta à sua cidade natal morou, de favores na casa da sogra até retornar ao emprego na concessionária de carros em que havia trabalhado anteriormente. A empresa então forneceu à família uma casa, onde permaneceram por oito anos. Três de seus quatro filhos, neste período, investiram na formação acadêmica, as gêmeas se formaram em Direito e o outro, ao sair do exército, cursou Economia. 

Aos 58 anos Antônio se aposentou, após doze anos trabalhando na mesma empresa. Foi então que finalmente pode morar na casa que havia construído em 1973, e até então ainda era alugada. 

Atualmente, Ribeiro possui sete netos e quatro bisnetos. Mora com sua esposa, ainda na mesma residência em Londrina. Sua renda é resultante da aposentadoria do casal, somado ao aluguel de uma dependência construída na proximidade de sua casa.  

Londrina pelo olhar de um pioneiro

Durante toda sua trajetória, Antônio acompanhou as mudanças e o desenvolvimento da cidade de Londrina. Antes, o que se tratava de um conjunto de fazendas, se tornou um dia a capital mundial do café.

Um dos fatos marcantes relatados por ele ocorreu no ano de 1985, quando a linha férrea que transpassava todo o centro da cidade deu lugar a uma Avenida que hoje se chama Leste Oeste. “Esta foi uma mudança bastante radical, pois mudou a cidade, ela ficou mais moderna, urbanizada”, relata.

A evolução da cidade se deu a partir construção da Igreja Matriz, que era de madeira. Em 1967, uma grande reforma tornou-a Igreja Catedral Metropolitana Sagrado Coração de Jesus. Foi no entorno desta igreja que surgiram as primeiras escolas, grandes comércios, destacando-se o Cine Teatro Ouro Verde. “Este foi dado porque Ouro Verde representava a cultura cafeeira que impulsionou o progresso da cidade”, ressalta Ribeiro.

Durante este processo de desenvolvimento, vale destacar o investimento em áreas de lazer, sendo o Lago Igapó como uma das principais delas. O Lago foi projetado em 1957 como solução para um problema de drenagem no Ribeirão Cambezinho. Em 1959 o Lago foi inaugurado e passou ainda por duas grandes reformas. Na mais recente delas, em 1996, a revitalização iniciou após esvaziamento do Lago, que ganhou ciclovias, o Teatro do Lago e jardins.

Fase de Construção da barragem no Ribeirão Cambezinho

Acervo: Museu Histórico de Londrina.

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