Matéria produzida para o curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Folclore, dança, grupos étnicos, bandas, voz e violão. Qual evento ponta-grossense tem apresentações nestes estilos? O Sexta às Seis, nos primeiros anos de existência, a partir de 1990, na Concha Acústica da Praça Barão do Rio Branco. O projeto foi idealizado e colocado em prática, inicialmente, por Fernando Durante. Quem frequentou as últimas edições do projeto talvez não saiba dessa modificação de estilo nas apresentações. De estilo e de local. De qualquer maneira, o Sexta às Seis sempre foi gratuito, aberto a quem quisesse ver e ouvir.
No dia 18 de julho a banda Bolores iniciou a programação que marcou a retomada do projeto. O evento tem agenda até dia 28 de novembro e acontece na Plataforma da Estação Saudade, no centro de Ponta Grossa. As bandas puderam se inscrever gratuitamente em edital divulgado pela Fundação de Cultura entre os dias 19 e 20 de junho deste ano. Critérios como arranjo, harmonia, timbre e afinação foram considerados pela comissão julgadora, segundo regulamento do edital. Vinte bandas foram selecionadas para as apresentações.
A banda Rock Jump tem seis anos e tocou pela primeira vez no Sexta às Seis dia 15 de agosto. O grupo ficou em sétimo lugar na classificação do evento. “É bom tocar sempre onde temos espaço. Muita gente que não conhece, tem a oportunidade de ver a banda, além de ser em um espaço livre”, diz Helamann, percussionista.
O baterista Mario Gordo relembra que já acompanhava o evento quando não tinha a banda: “sonhávamos em tocar no Sexta”, relata. O vocalista Pedro Marcello acrescenta que é uma oportunidade de tocar com bandas que admiram.
Já a banda A Coisa ficou em 11º lugar na classificação e participou três vezes do evento. “O projeto movimenta as bandas que se empenharam bastante para mandar material. Dá mais visibilidade às que não estão ou não querem se apresentar em bares da cidade, por exemplo”, acredita Pedro Henrique Ruzão, guitarrista da banda.
O músico diz que a ocupação do espaço público é outra característica do evento. Em relação ao local onde acontecem os shows, o baterista Silvio Mendes acrescenta: “fica associado com cultura e atinge a população. A acústica é melhor e estamos mais perto do terminal”. Mendes também integra a banda A Coisa. O baterista observa que o Sexta às Seis não enfrenta mais problemas de reclamação, em relação ao barulho, de moradores e da escola no entorno da praça Barão do Rio Branco.
Mudanças de local
O projeto funcionava na Praça Barão do Rio Branco nos primeiros anos de existência, a partir de 1990. O local foi escolhido por ser ao lado do Ponto Azul onde os ônibus paravam para embarque e desembarque. A ideia era: durante o tempo que a pessoa teria que esperar pelo seu ônibus, poderia ter contato com as mais diversas manifestações culturais. Depois de interrupções, o projeto retornou em 2005 no mesmo local. O problema era que a proximidade com colégio, igreja e edifício residencial tornava as reclamações constantes. Ricardo Queiroz, diretor de produção artística do Sexta às Seis durante seis anos, explica que as paradas do evento foram por conta do som. O primeiro problema foi com a Igreja porque batia com o horário da missa, às 18h. “Não teria graça fazer o projeto 17h ou 20h. Seria quebrar a lógica do Sexta, já que historicamente foi criado por ser horário de passagem das pessoas. Mudar o horário seria pior que mudá-lo de lugar”, avalia.
Segundo Queiroz, outro problema enfrentado era que alunos do colégio em frente deixavam de ir às primeiras aulas para frequentar o projeto. Além disso, as modulações de grave do som faziam trepidar as janelas do edifício residencial em frente à praça. Sobre a mudança do local, o ex-diretor de produção acrescenta: “Nas reuniões do Conselho Municipal de Cultura, diziam que o projeto teria que continuar na concha (na Praça Barão do Rio Branco), onde tinha iniciado. Mas a concha não tinha condições de uso e o projeto era feito num palco montado em frente. Sem alternativa, decidiram mudar para outra concha, perto do ‘Paraguaizinho’”, explica.
Queiroz acrescenta que não foi feito na Estação Saudade porque o Conselho Patrimonial alegou que não poderia ter ruídos elevados no local. Outros problemas foram a bebida alcoólica nos locais, bem como a dificuldade da guarda municipal e polícia militar para fazer a segurança durante as apresentações.
A história
A primeira atração, em abril de 1990, trouxe a Banda Lyra dos Campos de Ponta Grossa. “Toda semana tinha apresentação na praça de grupos folclóricos, rock, samba e uma vez por mês, uma atração nacional. Não eram grandes nomes em popularidade, mas tinham muita qualidade”, conta Fernando Durante, idealizador do projeto e ex-diretor de Cultura.
Durante acrescenta que nas primeiras semanas o Sexta às Seis tinha cerca de 30 pessoas. Quando se consolidou, concentrava quase três mil. Além de apresentações de fora, fanfarras e grupos étnicos da cidade também eram convidados.
Segundo o ex-diretor de cultura, os participantes do Festival Universitário da Canção (FUC) também se apresentavam no Sexta às Seis. Durante explica que na época a equipe responsável pelo evento fazia acordos com as rádios locais, para que tocassem as músicas do convidado que viria de outra cidade. Assim, o músico ficava mais popular na cidade antes de fazer o show. “Não tinha essa diversidade de artistas que temos hoje. Quase não tinha vida noturna em Ponta Grossa. Promovemos (eventos culturais) porque que as pessoas precisavam sair de casa”, observa o ex-diretor de cultura.
Quando o projeto foi retomado em 2005, Durante gestou por mais meio ano: “continuaram, mas perdendo um pouco a essência do projeto que era de diversidade cultural. Focaram em apresentação de banda de rock e hoje também está neste espírito”, acredita. Em contrapartida, Durante percebe que o projeto mantém a popularidade: “Depois de 24 anos, o Sexta acontece com o mesmo nome e as pessoas pedem para voltar. Mesmo com as interrupções, voltou com força porque existia na cidade um clamor por isso”, diz.
Com a saída de Fernando Durante do cargo em 2006, Queiroz assumiu a direção do Sexta às Seis. O ex-diretor de cultura explica que aos poucos perceberam que tinha mais público para determinadas apresentações e menos para outras. Queiroz atribui isso ao fato de, anteriormente, ter público garantido com a proximidade do terminal de ônibus. Mas, quando o terminal mudou de lugar, era preciso levar o público ao local. “A praça era no máximo uma passagem. Colocar pessoas para assistir as atrações ela mais complexo. Então a música ajudou muito, para chamar mais atenção. E as bandas que estavam levando mais gente eram as bandas de rock”, conclui.
Quanto à seleção, o ex-diretor de produção explica que primeiramente ouviam o material enviado, mas que a ideia era profissionalizar as bandas. Por isso, o projeto começou a exigir pelo menos uma música própria: “Boa parte das bandas que tocam atualmente começaram a produzir nessa época”, acredita.
Queiroz gestou o Sexta às Seis até 2012. Em seguida, o projeto sofreu uma nova interrupção por problemas de orçamento reduzido, já que além do cachê, é preciso fazer a licitação de som e iluminação. Além disso, era preciso reformatar o projeto. O Sexta às Seis voltou neste ano, agora sob a coordenação de Willes Machado.
Geração München
Ligado ao Sexta às Seis, o Geração München era a oportunidade que as bandas tinham para tocar na München Fest no final do ano. As bandas que se apresentassem no Sexta às Seis eram avaliadas e as melhores participavam no evento. “Infelizmente, no final não estava dando certo, porque a preferência era por shows mercadológicos na München. Tinha que começar cedo e quem assistia não seria público da banda, seria jogar dinheiro público no lixo”, analisa Queiroz.
O público
Às 18 horas, poucas pessoas se concentram no gramado em frente à plataforma da Estação Saudade. Meia hora depois, o público aumenta consideravelmente, independente do frio ou do vento. Alguns grupos ficam longe do palco, sentados na grama. Outros permanecem mais próximos da banda, cantando as músicas ou fotografando.
A frequentadora Hadassa Ojea conta que vem com frequência ao Sexta e que assistiu as outras edições. “Ponta Grossa não tem muitos eventos destinados ao público alternativo. Além disso, incentiva e valoriza as bandas, dá maior visibilidade. Quem sabe não incentiva a revitalizar a estação que está bem deteriorada”, diz Hadassa.
Já Alexia Scepanki foi três vezes ao evento, já que se mudou de Palmeira há pouco tempo. “Lá (em Palmeira) não tem praticamente nada de shows como estes. Aqui você encontra todos os tipos de pessoas”, acredita.
Reportagem de Gabrielle Koster
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