Na última quinta-feira (07), o Canal Historiô apresentou o audiovisual “Agô: minha cidade tem saravá”, com intuito de dar visibilidade às manifestações religiosas afro-brasileiras existentes em Ponta Grossa, o candomblé e a umbanda. A exibição aconteceu no Museu Campos Gerais e contou com a presença de umbandistas e candomblecistas entre o público. O documentário foi produzido por Juliana Gelbcke, Felipe Soares e Guilherme Marcondes, que foram contemplados na seletiva de apoio a projetos de cinema, fotografia e vídeo pelo Fundo Municipal de Cultura de Ponta Grossa e pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa.
O documentário mostra entrevistas de praticantes, sacerdotes, simpatizantes e estudiosos das religiões candomblé e umbanda. Os entrevistados pedem por respeito à cultura afro-brasileira, em suas falam acrescentam que as religiões têm uma presença pouco perceptível e reconhecida.
O vídeo apresenta os enfrentamentos e dificuldades que essas manifestações religiosas passam em Ponta Grossa. De acordo com Juliana Gelbkce, produtora do documentário e professora de História, o audiovisual propõe um debate em torno dos preconceitos que muitas pessoas têm sobre as religiões afro-brasileiras e assim conscientizar a população. “O intuito é quebrar um pouco do estereótipo que a gente tem, especialmente em tempos em que terreiros e expressões da cultura afrodescendente e afro-brasileira, de uma forma geral, vem sendo atacadas”, acrescenta.
Um dos produtores do vídeo, Felipe Soares, relata que ao inscreverem o audiovisual no edital de apoio a projetos de cinema, fotografia e vídeo da Prefeitura, o propósito foi desconstruir paradigmas e preconceitos em relação às religiões de matriz africana. A palavra “agô” na língua Uruba, base das religiões afro, significa com licença. “Foi no sentido de pedir licença à cidade para mostrar que as religiões africanas não só existem, como resistem em Ponta Grossa”, observa o produtor. Religiões como umbanda e candomblé são vítimas de preconceitos, de dogmas, violências simbólicas e físicas. O documentário é uma forma de alterar a visão da população e de pedir o respeito à diversidade de crenças religiosas. Felipe também conta que a criação do Canal Historiô surgiu da tentativa de publicizar temas históricos de Ponta Grossa, a ideia é falar sobre cultura, personagens e histórias da cidade.
Natiely Fernanda Batista, iniciante no candomblé, acredita que a sua religião é resistência desde o início, com a chegada dos negros no Brasil. “Para eu poder sair caracterizada como candomblecista na rua hoje, muitos negros sofreram”, observa. Existe uma hierarquização entre os membros da religião, por estar no início da prática religiosa, Natiely é chamada de Abian ou Abiã, que quer dizer novata, pois não é iniciada no santo ainda. Quando acontecer sua iniciação ela passará a ser Iaô, que significa filha de santo, em seguida Babalorixá que é mãe de santo. Ela aponta que é de grande importância a exibição do documentário, pelo fato de dar evidência à religião. Graças ao candomblé e seus Orixás, aconteceu uma transformação em sua vida, diz Natiely.
Brian Schutz de Assis tem 12 anos de idade e foi um dos entrevistados para a produção do documentário. Brian explica que o documentário mostra as suas características particulares, quem ele é e como funciona sua crença. Nos primórdios da religião no Brasil, o candomblé passou por um período em que os praticantes precisam se esconder e disfarçar seus conceitos, fingir que acreditavam em algumas coisas que na verdade não faziam parte da religião. Por conta disso, Brian afirma ter orgulho de fazer parte da religião: “é gratificante saber que é uma religião tão antiga e que resiste até os dias de hoje”.
Adriana Kisielewicz, professora de educação física, é participante do movimento Sorriso Negro dos Campos Gerais e esteve presente na exibição do documentário. A professora ressalta a necessidade da união das minorias, entre negros e os movimentos religiosos para que possa haver a luta contra a discriminação e intolerância. “Dentro do grupo Sorriso Negro lutamos pelo resgate do que os negros perderam ao longo da história. Assim como as questões de racismo e preconceito que são consideradas crime, é necessário que exista uma ação de justiça para esses casos”, destaca Adriana.
Segundo Felipe Soares, existem algumas centenas de terreiros de umbanda e candomblé em Ponta Grossa, mas grande parte encontra-se na ilegalidade e irregularidade. Os praticantes ainda têm medo de expressar livremente ambas as religiões por conta dos preconceitos inseridos na sociedade. É necessário fomentar e expandir o conhecimento sobre as religiões afrodescendentes para que se acabem os preconceitos. O documentário ficará disponível no canal Historiô, no Youtube, a partir desta semana.
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