A pressão dos professores em greve e a ampla repercussão negativa da censura à exibição do documentário ‘Massacre 29 de abril’, no Cine Teatro Ópera, em Ponta Grossa, fez com que o prefeito Marcelo Rangel contrariasse o entendimento da procuradoria jurídica, que no fim da tarde de ontem (28) vetou a sessão.
O argumento da procuradoria considerou o evento como político-partidário, ferindo artigo 13 do decreto que regulamenta uso do espaço. A exibição foi liberada na manhã de hoje para acontecer no Cine-Teatro Ópera às 20h nesta sexta-feira (entrada gratuita e livre para toda a comunidade).
O documentário ‘Massacre 29 de abril’ retrata de forma inédita, em 45 minutos, os acontecimentos do trágico episódio no Centro Cívico, em Curitiba, há um mês, quando a polícia atacou professores que desejavam acompanhar sessão da Assembleia Legislativa que iria votar projeto de alteração da Paranaprevidência, deixando mais de 300 feridos.
A produção é de professores e estudantes do curso de jornalismo da UEPG, que entrevistaram docentes, estudantes e servidores de Ponta Grossa que estavam presentes na data. Imagens e fotografias realizadas in loco documentam a ação desproporcional da polícia contra os manifestantes.
Os produtores do documentário questionam com veemência a prática de censura prévia por parte da procuradoria jurídica do município à exibição de um filme jornalístico de interesse público, que deve ser exibido simultaneamente na data de hoje em várias cidades do estado. “Repudiamos essa restrição impositiva que vem sendo colocada ao uso do principal aparelho cultural da cidade. E o documentário trata exatamente do fato de que as pessoas são expulsas do espaço público sistematicamente. Foi a pressão da sociedade, que deseja ver as imagens, que fez com que a prefeitura revisse a decisão”, avalia o jornalista e professor Rafael Schoenherr, diretor do documentário e representante dos Campos Gerais no Conselho Estadual de Cultura.
“O documentário serve de registro e memória do acontecimento da tarde do dia 29 de abril. O vídeo é fruto de um trabalho coletivo de alguns estudantes e professores que pensam a greve como momento também de aprendizado e de produção jornalística”, explica o jornalista e professor Gabriel Carven, um dos produtores do audiovisual.
Financiamento coletivo
Logo após a exibição do documentário, será feito o lançamento da campanha de financiamento coletivo para a produção de um livro de fotos jornalísticas do dia 29 de abril. O evento ocorre a partir das 21h, no bar Rei das Batidas, com exposição e comercialização de fotos. A iniciativa é de um coletivo de fotógrafos do curso de Jornalismo da UEPG em parceria com a editora Estúdio Texto e com apoio do projeto Lente Quente.
“A proposta do livro Massacre 29 de abril é a prova de que alguns acontecimentos históricos precisam ser devidamente documentadas para não serem esquecidos. As fotos que vão compor o livro constituem uma lembrança forte do erro histórico do Governo do Paraná”, explica André Jonsson, fotógrafo participante do projeto de financiamento coletivo – modalidade na internet que aceita contribuições de voluntários que ajudam a viabilizar o projeto e recebem ‘recompensas’ na forma de produtos culturais. Algumas das imagens que vão estar no livro são inéditas, ainda não foram exibidas em exposições e na web.
“O financiamento coletivo é uma alternativa democrática para a produção de um livro. A colaboração voluntária de empresas ou pessoas físicas dá ao projeto uma autonomia maior quanto ao conteúdo e a produção. O financiamento coletivo é funcional em muitos aspectos, um deles é a devolução total da verba arrecadada caso o projeto não obtenha sucesso”, complementa o fotógrafo Pedro Guimarães.
Exposição fotográfica
O primeiro mês após a ação policial e do Governo estadual, no Centro Cívico, também será marcado pela abertura da exposição itinerante ‘Massacre 29 de abril’, na Galeria da Câmara Municipal de Vereadores de Ponta Grossa, às 18h. A produção é do projeto Lente Quente em parceria com a iniciativa Arte na Câmara e com apoio do Sinduepg.
A mostra resulta de exposição itinerante de fotografias, em circulação desde 4 de maio por diversos espaços públicos de Ponta Grossa e da região, como Estação Saudade, Calçadão, Praça Barão do Guaraúna, Campus Uvaranas e na cidade de Palmeira.
Lente Quente
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