Documentário produzido em PG debate a gordofobia

O lançamento do documentário “O Corpo Gordo é Obra Prima”, produzido pela artista MUM (Mais Uma Mulher) e pelas estudantes de jornalismo Ana Istschuk e Millena Villanueva, ocorreu na quarta-feira (30), na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa. A produção também faz parte do projeto da artista em parceria com a Diálogos Culturais.

Os principais temas abordados em “O Corpo Gordo é Obra Prima” são a representatividade gorda e a gordofobia. O documentário possui seis capítulos e cada um retrata a experiência das atrizes e atores participantes. Por meio de uma narração poética, os depoimentos abordam o preconceito que essas pessoas enfrentam, que em alguns casos vem da própria família. Os personagens também comentam sobre o processo de desconstrução e como isso foi importante para a aceitação de seus corpos.

O documentário integra o projeto “Um Corpo é Um Corpo”, que também é o nome do single e do clipe lançado em julho por MUM, em parceria com a Diálogos Culturais. Essa foi a primeira produção da artista que fala explicitamente sobre o corpo, o que atribui ao trabalho de MUM um caráter autoral e representativo. De forma artística, a proposta foi recriar pinturas famosas, como Noite Estrelada, de Van Gogh e Autorretrato com cabelo solto, de Frida Kahlo, em que estão presentes representações de pessoas magras, inserindo corpos gordos nas composições.

Após a exibição do documentário foi realizada uma conversa entre os participantes da produção e o público. “O Corpo Gordo é Obra Prima” foi um dos sete projetos contemplados pela Seletiva de Apoio a Projetos de Cinema, Fotografia e Vídeo, edital promovido pela Fundação Municipal de Cultura de Ponta Grossa.

A importância de falar sobre a gordofobia

Após a exibição do documentário, os atores e atrizes realizaram uma conversa com o público | Foto: Malu Bueno

MUM afirma que começou sua carreira musical após se entender em um corpo gordo: “Sempre fui uma mulher gorda. Eu comecei a compor e cantar depois que aceitei o meu corpo. Todas as minhas músicas falam da minha aceitação e de como eu me sinto, no caso eu sou um corpo gordo”, ressalta.

A artista também comenta sobre os vários preconceitos enraizados na sociedade. Ela lembra que as mulheres magras não sofrem gordofobia, mas que acabam sendo vítimas de pressão estética. “Elas são estimuladas a evitar o corpo gordo. É importante que elas assistam ao documentário para entender como essa repugnação machuca as pessoas que são gordas”, diz.

A estudante de Engenharia Química, Andressa Mazur, foi uma das atrizes do documentário. Em seu capítulo no vídeo, ela aborda a questão do preconceito contra o corpo gordo na medicina. “Eu odiava ir ao médico. Fazer exames me deixava ansiosa, tanto que eu queria parar de me alimentar dias antes, com a preocupação de alterações no resultado”, revela.

Andressa lembra que algumas pessoas veem o corpo gordo como algo não-saudável e que isso contribui para a propagação da gordofobia. A estudante explica que, por meio da terapia, ela pode refletir sobre a não aceitação de seu corpo. “Todo esse processo foi bem esclarecedor e me ajudou a perceber que eu estou bem”, conta Mazur.

Gabriela Carvalho, que é proprietária de um brechó, destaca a importância do caráter artístico do documentário. Ela considera que esse aspecto permite um maior impacto nos espectadores: “Quando um assunto é retratado através da arte, ele tem um potencial de atingir o emocional das pessoas e fazer com que elas reflitam de uma maneira diferente”, avalia Gabriela.

A coordenadora do Coletivo Marie Curie da UTFPR, Nadia Kovaleski, avalia que trazer o debate sobre gordofobia para o ambiente universitário contribui para desconstruir preconceitos: “Apesar de não ser um tema novo, ele acaba sendo pouco falado. Trazer essa discussão para universidade é muito bom para mostrar que você pode sim ser gordo e estar saudável, vestir as roupas que quiser”, diz Kovaleski.

Uma produção que foge dos “padrões”

As estudantes de jornalismo Ana Istschuk e Millena Villanueva atuaram na roteirização, gravação e edição do documentário. A programação inicial era gravar o vídeo durante o mês de outubro, mas toda produção foi feita em quase uma semana. “Os horários das nossas agendas eram difíceis. Acabamos concentrando toda produção em seis dias, em cada dia gravamos com um personagem. Foram dias bem intensos”, comenta Villanueva.

A proposta foi produzir um vídeo que deixasse o modelo jornalístico de lado, para apostar em uma produção com cunho mais artístico. Cada detalhe foi esteticamente pensado. A paleta de cores, por exemplo, busca retomar tons dos quadros retratados no projeto “Um Corpo é um Corpo”.

Confira as fotografias feitas para o projeto “Um Corpo é um Corpo” da artista MUM

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Outro aspecto diferencial é o fato de não haver cenas em que os personagens olham e falam diretamente com a câmera. Segundo Ana Istschuk, o roteiro também teve uma elaboração diferente: “Os atores e atrizes enviavam um texto para a Gabi (MUM) e ela transformava isso em algo mais poético e artístico. Todos os depoimentos foram cobertos com imagens que buscavam se relacionar com o texto de cada personagem”, destaca a estudante.

O documentário já se encontra disponível na internet. Para assisti-lo, basta clicar aqui.

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