Escolas de samba no cenário das políticas culturais

Por Barbara Akemi

Das três escolas de samba que estão ativas em Ponta Grossa, uma delas é a Águia de Ouro, que tem o seu surgimento datado em 1996. Desde então, a organização luta para permanecer e fazer parte do tradicional carnaval de rua da cidade.

Diferente de outras escolas, a Águia de Ouro não interrompeu suas atividades em nenhum momento, completando dezenove anos na ativa.

O que a maioria não sabe é que as escolas de samba não aparecem somente no mês de fevereiro, no desfile de carnaval. Durante o ano, desenvolvem diversos eventos na comunidade em que estão situadas. A Águia de Ouro, por exemplo, está localizada no bairro Olarias, considerado o berço do carnaval ponta-grossense, e desenvolve suas atividades junto com a comunidade.

De acordo com a vice-presidente Elisiane Stole, a verba cedida pela Prefeitura não é suficiente para comprar tudo que precisa. Dessa forma, os eventos são promovidos a fim de arrecadar lucros para o grande desfile. Dentre eles estão: feijoadas, festas de pagode e bingo.

Com a intenção de manter a tradição, a escola ainda utiliza práticas de reciclagem e reaproveitamento de materiais. Segundo o carnavalesco Anderson Pedroso, muitas coisas são trazidas dos desfiles das escolas campeãs do Rio de Janeiro. “Além de ser muito caro, nós não temos aqui quem faça toda a parte de ferragem dos carros, por isso reaproveitamos o que é utilizado nos desfiles do Rio de Janeiro”, explica.

De acordo com Pedroso, mesmo com o reaproveitamento, muitas coisas ainda precisam começar do zero. O custo para produzir tudo é alto, por isso quanto mais eventos forem promovidos durante o ano, melhores são as condições para o resultado final ser de qualidade e surpreender o público. “Um quilo de pluma hoje custa R$3.500 reais. Em um quilo vem de 180 a 200 plumas, sendo que uma fantasia de destaque leva, em média, 300 plumas, ou seja, é mais de um quilo por fantasia”, comenta.

Mesmo com as dificuldades, Pedroso diz que, para ele, o carnaval de rua deve ser mantido. “É uma das maiores manifestações culturais, e por isso deve ser mantido. Para mim, é muito importante porque foi meu pai que começou o carnaval de rua de Ponta Grossa, em 1958, por isso quero manter essa tradição. Além disso, o povo gosta e vai assistir. O povo quer pão, mas também gosta de circo”, finaliza.

Entre escolas de samba e administração pública

Com a finalidade de auxiliar as escolas de samba nos desfiles, surgiu em 2002 a Liga Cultural Carnavalesca de Ponta Grossa, que tem como presidente, desde a sua fundação até os dias de hoje, Antônio Francisco Gomes da Silva.

Segundo ele, as ações da Liga Carnavalesca acontecem principalmente próximas ao período do carnaval. A organização é responsável por arrecadar verbas e patrocínios para garantir que o desfile aconteça. Além do repasse de verbas, a Liga fica encarregada ainda de divulgar os eventos nos canais de mídia.

Com três escolas em funcionamento, a Liga tem a função de intermediar o repasse de verbas entre a Prefeitura e as escolas de samba. Dessa forma, o repasse é facilitado e evita possíveis conflitos que poderiam ocorrer caso cada escola fosse responsável por esse ato.

Mesmo com treze anos de existência, a Liga ainda não tem um espaço próprio, o que dificulta suas atividades. “Seria de suma importância ter um barracão, não só pra Liga como para as Escolas de Samba, onde poderiam realizar seus eventos com mais frequência e também arrecadar com esses eventos para fins carnavalescos, bem como dar oficinas culturais para as comunidades locais”, afirma o presidente.

Na Conferência Municipal de Cultura realizada na cidade em 2015, uma das Diretrizes Culturais diz respeito à construção da sede própria da Liga Carnavalesca. O espaço serviria de sede da Liga, e ainda estaria à disposição para os ensaios e eventos das escolas de samba. Sem esse ambiente, os carnavalescos providenciam seus próprios espaços para as atividades, tendo, muitas vezes, que se adequar a espaços impróprios. Em último caso, os ensaios acontecem na própria rua.

Sobre a sede própria da Liga, o diretor do Departamento de Cultura, Luis Cirillo Barbisan, afirma que não há uma previsão para o início da obra. Segundo ele, as diretrizes são os ideais para o setor cultural, no entanto, não há recursos financeiros no momento para a realização desse objetivo.

Carnaval, tradição nas ruas

Desde o século XX o carnaval de rua é uma tradição em praticamente todo o território brasileiro. O surgimento dos blocos carnavalescos data do século XIX, porém, somente a partir do século XX, com a invenção das marchinhas, é que o carnaval de rua se consolidou, conquistando o seu espaço em todos os lugares.

Hoje, quando se pensa em Carnaval, logo surgem as imagens daqueles grandes carros alegóricos muito bem enfeitados, fantasias coloridas e “brilhosas”, compostas basicamente de penas e purpurina. É comum, logo após as festividades de final de ano, se aguardar pelos desfiles carnavalescos, que são atualmente, uma das maiores festividades.

Mesmo as cidades pequenas, que não têm espaço para aparecer na grande mídia, o carnaval de rua ainda é mantido como tradição. Em Ponta Grossa, o desfile acontece tradicionalmente todos os anos, com a participação das escolas de samba da própria cidade. Atualmente, são três escolas de sambas ativas, sendo elas: Águia de Ouro, Globo de Cristal e Ases da Vila.

No entanto, as escolas de samba não surgem somente em fevereiro, nos desfiles tradicionais. Durante todo o ano, realizam outros eventos festivos que também envolvem a comunidade. Tais comemorações têm por finalidade manter viva a tradição carnavalesca e incentivar o envolvimento da população na grande festividade que acontece em fevereiro.

Dentre as atividades desenvolvidas estão principalmente oficinas culturais que partem das escolas de samba para as unidades escolares. As escolas que são contempladas com essas oficinas são as que estão próximas, fisicamente, das escolas de samba. Além disso, mas sem nenhuma frequência garantida, são promovidas ainda grandes oficinas que não se limitam somente a um bairro. Essas, quando acontecem, são promovidas através de uma parceria entre as escolas de samba com a Fundação Municipal de Cultura de Ponta Grossa.

O diretor do Departamento de Cultura, Luis Cirillo Barbisan, explica que a dificuldade para promover tais oficinas está em conseguir encontrar voluntários que colaborem com o ato. “Por incrível que pareça, a gente procura, mas não acha muitas pessoas que queiram trabalhar nessa área, mesmo com grandes percursionistas na cidade”, explica.

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