Exposição no Museu Campos Gerais UEPG lembra trajetória de arquiteto perseguido pela ditadura militar

Você conhece (presencialmente ou por imagem) o Estádio do Morumbi (o Cícero Pompeu de Toledo, do São Paulo FC), na capital paulista? E o prédio da Faculdade de Arquitetura da USP? Ou a rodoviária de Jaú/SP? Talvez, o Parque Cecap (Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, de 1967), em Guarulhos/SP? Quem sabe o edifício residencial Louveira, no bairro paulistano de Higienópolis?

Se, acaso, ainda não conheces, não tem problema algum! Estas são apenas algumas obras de projetos da autoria do arquiteto João Batista Vilanova Artigas, que agora tem uma exposição em cartaz no Museu Campos Gerais, no Centro de Ponta Grossa.

O que interessa, aqui, é saber que o autor de tais obras – João Batista Vilanova Artigas –, conhecido no mundo profissional e acadêmico da arquitetura pelo sobrenome, é curitibano de nascimento (de 23/06/1915) e passou parte da infância no município de Teixeira Soares, nos Campos Gerais do Paraná.  Isso porque logo após a morte repentina do pai (Brasílio Artigas), a mãe (Alda Vilanova Artigas) foi trabalhar como professora em Teixeira Soares, onde Artigas cursou a escola primária, a partir de 1922.

Considerado uma referência na arquitetura paulistana pós-anos 1950, Artigas construiu uma trajetória pautada no desenho (desde a participação nos ateliês do Grupo Santa Helena, a partir de 1937, onde seus traços ficaram conhecidos), na investigação e estudo, inclusive como bolsista para pesquisar arquitetura moderna nos EUA (em 1946) junto à Fundação Guggenheim (que hoje mantém museus em diversas cidades do mundo) e, desde 1940, como professor e pesquisador, primeiro na Politécnica e depois também na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP).

Dois anos depois de ingressar na Faculdade de Engenharia da UFPR (em 1931), Artigas transfere o curso à Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), onde se especializa em arquitetura a partir da escola de engenharia (1933).

Dez anos depois, lá estava Vilanova Artigas participando da criação do setor paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), inclusive assumindo a função de secretário da entidade. Em 1948, Artigas participa da fundação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo, onde se torna professor.

Filiado ao Partido Comunista (PCB) desde 1945, vinculação política frequente entre diversos profissionais da arquitetura da época (como é o caso do próprio Oscar Niemayer), Artigas passa a integrar o conselho de redação da revista Fundamentos (em 1950) junto com escritores e jornalistas, como Aparício Torelly, Astrojildo Pereira e Graciliano Ramos, o artista Clóvis Graciano, o crítico cultural Mario Schenberg e, claro, o também arquiteto Oscar Niemeyer, todos conhecidos ‘quadros intelectuais’ do Partidão no País.

Atuante nos movimentos e organizações da arquitetura, Vilanova Artigas participa da organização do IV Congresso Nacional de Arquitetura, quando também se comemora 400 anos da cidade de São Paulo (em 1953), através do Instituto (IAB/SP). No mesmo ano, Artigas ganha o concurso para elaborar o projeto do estádio do Morumbi e ele também viaja a Moscou, convidado pela direção do PCB, onde passa cerca de 50 dias na então União Soviética. No retorno, Vilanova mantém envolvimento em diversos projetos e trabalhos em arquitetura e urbanismo.

Mas, aí, vem o golpe militar de 1964 e Artigas não tem mais sossego e tampouco condições de trabalhar: é preso e passa a responder inquéritos típicos do regime (IPM, com vigilância e interrogatórios por qualquer ligação que os desmandos militares suspeitam). Junto com outros professores ‘investigados’, como Florestan Fernandes e Mario Schenberg, dentre outros colegas, é perseguido, até exilar-se em Montevideo (Uruguai), onde permanece por algum tempo, quando retorna clandestinamente para retomar a vida com a família no País. Só depois da anistia (1979), Artigas consegue retomar trabalho de professor na FAU/USP.

Homenageado por diversas organizações e projetos, inclusive com o Prêmio Auguste Perret (pela União Internacional de Arquitetura), Vilanova Artigas morre na capital paulista em 12/01/1985. A exposição itinerante – agora no Museu Campos Gerais em PG – integra o projeto “Nos pormenores um universo – Centenário de Vilanova Artigas”, lançada em 2015, por ocasião dos 100 anos de nascimento do arquiteto paranaense-paulistano. Vale o giro, ao menos virtual!

Clique aqui e confira mais detalhes sobre a exposição no Museu Campos Gerais

Referências:

COSTA, Claudio. “Visita monitorada conta a história do Edifício Vilanova Artigas”. In: Jornal da USP. 04/06/2016. Disponível em https://jornal.usp.br/cultura/visita-monitorada-conta-a-historia-do-edificio-vilanova-artigas/. Acesso em 25/11/2020.

MUNIZ, Carolina. “Projetado por Artigas, Parque Cecap é marco modernista na Grande SP”. In: Folha de São Paulo, 27/11/2016. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/morar/2016/11/1835840-projetado-por-artigas-parque-cecap-e-marco-modernista-na-grande-sp.shtml. Acesso em 25/11/2020.

“O LEGADO de Vilanova Artigas”. In: Galeria da Arquitetura. 25/08/2015. Disponível em https://blog.galeriadaarquitetura.com.br/post/o-legado-de-vilanova-artigas. Acesso em 25/11/2020.

UMA biografia de Artigas. Entrevista com Rosa Camargo Artigas. Disponível em https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/vilanova-artigas/passarela/?content_link=7. Acesso em 25/11/2020.

“VILANOVA Artigas, o arquiteto comunista”. In: Portal Vermelho, 03/07/2015. Disponível em https://vermelho.org.br/2015/07/03/vilanova-artigas-o-arquiteto-comunista/. Acesso em 25/11/2020.

 

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