Falta de divulgação compromete reconhecimento das bandas locais.

Por Melissa Ribas Moura

O Sexta às Seis, o Encontro Musical e o Mundo Cultural, palco alternativo da München Fest para apresentação das bandas locais, são os eventos musicais regulares na cidade mantidos pela Fundação Municipal de Cultura. Em 2015, a divulgação das bandas selecionadas para o Mundo Cultural ocorreu apenas um dia antes das apresentações. Também não houve divulgação das bandas na página do Facebook durante a München Fest.

As diretrizes culturais do município, no entanto, previam a igual divulgação em impresso, rádio e TV das bandas locais em eventos públicos. O documento elaborado na Conferência Municipal de Cultura prevê: “garantir que os grupos musicais com produção local que se apresentam em palcos alternativos de eventos públicos tenham as mesmas condições de divulgação oficial (impresso, rádio, TV) que os shows dos palcos principais”.

Questionado sobre os problemas na divulgação dos artistas locais na München, Cirillo Barbisan, diretor do Departamento de Cultura da Fundação Municipal de Cultura, conta que a divulgação sempre foi um problema. “A parte mais fraca da cultura é a divulgação, é algo que sempre discutimos, mas não chegamos a resolver este problema”, diz.

Mario Ferreira, baterista da banda ponta-grossense Jamp, que se apresentou no ano passado, conta que seria importante a divulgação das bandas que se apresentam, pelo menos por parte dos organizadores. “Nós da banda sabemos que a Secretaria de Cultura faz de tudo pra gente ter um palco bom, luz e outras coisas, mas parece que há um desinteresse da parte dos empresários e organizadores da festa neste quesito”.

As bandas que se apresentaram na edição de 2015 do Mundo Cultural foram Jamp, Rockixe, Flap Jack, Mario’s Mustache, Jerimoon, Vinil 45, além do músico André Melo, as bandas Trovadores Celtas e Dickbangers, a dupla Marcos & Emerson, os grupos M@ntrio e Freud, Boogie Gang, Cabeça de Balaio e a dupla André & Vitor.

Cirillo avalia que o palco Mundo Cultural teve uma melhora em relação ao antigo projeto Geração München, que também cedia espaço para bandas locais no evento. O projeto existiu de 2007 a 2010 e, além da oportunidade de tocar na München Fest recebendo cachê pelo show, também fazia parte do prêmio tocar emcidades vizinhas.

O Geração München, que promovia um festival por vários meses com bandas locais para a seleção das bandas que se apresentariam na München Fest, sofreu mudanças. Primeiramente houve uma mudança para a segmentação dos gêneros, uma vez que havia uma diferença grande de gênero das bandas locais e das bandas que se apresentavam no palco principal. Após isso, o horário interferiu, por se apresentarem muito cedo, não tinha público suficiente para assistir ao palco alternativo, sendo mudado para depois do show principal. O custo de todas as modificações fez com perdessem orçamento para isso e o projeto acabasse.

 Espaço para músicos locais se resume e três eventos

Ponta Grossa possui apenas três eventos promovidos pela Fundação Municipal de Cultura (FMC) que abrem espaço para apresentações de bandas de rock, violeiros e sanfoneiros, entre outros estilos. No documento resultante da Conferência Municipal de Cultura, para o segmento de música, há propostas que buscam aumentar o número de apresentações dos artistas locais e inclusive promover uma regularidade de apresentações. No entanto, as diretrizes não estão sendo efetivamente cumpridas.

O rapper Andrey Rotter, também conhecido pelo seu nome artístico TwoClok, diz que músicos locais já mudaram a rotina de muitas pessoas em apresentações pela cidade e é preciso que exista mais eventos em espaços públicos. “O público ponta-grossense precisa respirar cultura 24h por dia e aprender a valorizar mais seus artistas locais”, diz Andrey, que ainda reclama da falta de espaço de alguns estilos. “Eu vejo bandas locais abrindo shows de grande porte em eventos públicos, mas são principalmente de samba e rock, outros estilos acabam precisando criar o próprio espaço”, ressalta.

TwoClok surgiu em 2009 e já possui dois álbuns independentes gravados e disponíveis na internet, mas nunca participou de atividades vinculadas à FMC na cidade.

Na parte musical, idéias como apresentações no calçadão e um edital para apresentações em lugares ‘inéditos’ foram aceitas, porém, estas propostas ainda não saíram do papel.

Bruno de Lima, baixista da banda de rock gospel Moryah que se apresentou uma única vez no Sexta às Seis em 2014, acredita que há poucos eventos públicos para artistas locais e a utilização destes espaços é importante para que as pessoas que não têm acesso a estas produções possam conhecer e até mesmo se identificar.

“Acredito que é uma maneira de chegar a um público novo, do mesmo modo que a veiculação de trilhas na TV – proposta presente nas Diretrizes Culturais – funciona como uma expansão. O maior meio de divulgação que temos hoje é a Internet, mas acredito que tudo funciona como uma expansão de horizonte.”, diz Bruno. A banda lançou seu primeiro álbum independente no final de novembro de 2015, e as faixas estão disponíveis online.

Sobre a criação de um circuito de apresentações em lugares inéditos da cidade, também proposto nas diretrizes, Cirillo diz que nada foi feito sobre isto até o momento. “Nós não conseguimos viabilizar uma forma de fazer isso pelo orçamento pequeno e a falta de estrutura, uma vez que nosso equipamento é simples demais para uma banda e não temos verba para locar equipamentos”, relata. O circuito previa apresentações em presídios, orfanatos, hospitais, bairros, feiras, restaurantes populares e universitários, entre outros.

 Demandas do setor musical permanecem nas políticas culturais

A Conferência Municipal de Cultura, que aconteceu no final de abril de 2015, foi realizada com 118 participantes e aprovou o plano de diretrizes da Política Cultural, que previa ações para o ano de 2015 nos diferentes segmentos artísticos.

Desde 2011, data da primeira Conferência, não houve muitas variações no tópico referente à Produção Musical. Das 12 diretrizes que constam no documento, nove permanecem, sendo que uma diretriz foi eliminada e duas foram realizadas. As duas diretrizes que previam a reativação do projeto Sexta às Seis e do Geração München foram feitas – o Geração München passou a ser o palco Mundo Cultural. Já a diretriz eliminada previa condicionar shows grandes no Centro de Eventos a apresentações de músicos locais. Atualmente, as diretrizes em produção musical aumentaram para 21.

Quanto ao tópico sobre Formação, Gestão e Acesso à Produção Musicalem 2011 eram oito diretrizes, que aumentaram para nove em 2015. Das oito, apenas uma teve uma adaptação mais significativa, que previa a valorização da memória da cena musical de Ponta Grossaem 2015, o documento remete à preservação junto à Casa da Memória.

Já a diretriz adicionada contava com a criação de um selo ou certificado de reconhecimento para estabelecimentos que promovem música ao vivo, de forma a criar um incentivo.

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